quarta-feira, 1 de abril de 2020

quarentena

perdi a conta dos dias 
precisei ir à padaria 
antes das seis, 
não posso esbarrar com ninguém 
mas sorria à quem 
embrulhava o meu pão
sinto as mãos de quem sova 
quando mordo o café da manhã 
e meu coração amolece 
meu peito doura 
tenho que me precaver 
e cuidar daqueles que me abraçam
estou sem cor 
e preciso de sol
fico na janela enquanto fumo
deito e esqueço do dia 
que preciso entregar meu trabalho
e inscrever meu poema 
tiveram dias 
em que eu esqueci que dormia 
e pensei ter vivido 
e pensei que tudo acabaria 
o medo, a ânsia 
a vontade de acordar 
mas ainda sinto mais lento
tudo ao redor, tudo 
e ainda me sinto impotente 
ainda tudo é doloroso 
e solitário aqui de cima 
os beijos que não se calam 
as mãos que se despedem 

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