sábado, 28 de julho de 2018

Pensei te ler

Se acreditasse no tempo dos homens, diria que faz tempo que não te lia

Hoje falei de vaidade, Da dor dos cabelos cansados sabe, igual a gente depois de muito tempo

Se acreditasse na cidade concreta, diria que os labirintos são seus lábios, o hálito da noite, e tive o hábito de sentir recitar teu poema, tenho sua voz no ouvido 

Falei da tempestade intempestiva e do quanto a gente se desconhece ainda

Acabei falando de muita coisa enquanto o tempo passava, pedi a conta, e fumei um cigarro na volta
Pensei te ler

Amanhã

Escrevo a ti com carinho

Foi quando senti o coração pulsando de um modo muito alvoroçado, de um jeito incrível de ser vivo.

Reli as cartas, fui muito direta com o carteiro e sinto que viajei, de um modo muito lírico; como é incrível descobrir o amor nas palavras, e olha que achei ter encontrado

Acabamos sem continuar as consultas, foi tarde pra dizer que esquecia, é quando a gente olha no olho e precisa deitar pra começar a dizer

Faz muito calor, redescobri quando o calor veio mais tarde, é feito quando o destino faz calor no corpo

Faz alguns dias pra viajar de novo, viajar de avião, vai fazer calor na cidade então, gostaria de escrever mais sobre isso adiante


quinta-feira, 26 de julho de 2018

Mas fica, meu amor,
quem sabe um dia
por descuido ou poesia
você goste de ficar

Chico Buarque

E te pareço bela 
Ou apenas te pareço 
Mais poeta talvez 
E menos séria? 

Hilda Hist  

[2012]

sinto muito

saudade escrita em papéis avulsos
em sua ausência é como se eu me sentisse
uma parede pasma de um lugar vazio
um arquivo deteriorado na prateleira

a falta da sua presença
me atordoa nuvens
chorando por escassez de água
ausência de sol

quem sabe te conheça puramente só na poesia
e seu nome não seja do poeta anônimo
o descuido da sua rotina me instiga depressa
o descaso dos seus olhos me desgasta à beça

sem você sou só pouco menos do que gostaria
um pouco mais ansiosa
sem esse amor eu não sinto

[2014]

Morrer afogado em teus lábios de baunilha

Desculpa pela ruides dos versos secos, pela aspereza das palavras - só descem com a ajuda do álcool e o bolero. A lua sangrou das almas derrotadas, dos homens que jogaram e perderam a fé e a dama. Não quero demonstrar tristeza, mas homens como eu quando são golpeados não conseguem mais levantar sozinhos, o amor agora pra mim é uma diarreia. Perdoe as rugas que já traçam rios na minha pele empalhada, o jantar que esfriou às sete da manhã, as migalhas que você recebe de mim, pois já estou partido. Eu só preciso sair desse lugar medonho, dessa rua de saudade. Espero que você entenda que estou sozinho nesse barco, e eu sei, sei que você amaré, mas se viesse feito uma onda, não me importaria de morrer afogado em seus lábios molhados de baunilha. Não lamentaria a morte lírica do alcoólatra que se achava escritor.

[2014]

Outra carta para você, Carteiro

o peso da sua solidão 
me enverga o pescoço 
o carrego nas costas 
como diz Jesus 
ter conduzido a cruz 

em meio aos dedos em brasa 
descartável dentro do cinzeiro 
sobrecarregado de alheios amores 

a cada olhar malícia 
que me lacra 
cartas guardadas 
em bolsos pequenos 
para ninguém descobrir 

contarei aos seus vizinhos 
das viagens que não fizemos 
e vou socar a sua porta

eu vou roubar as declarações de amor
e assinar o seu nome
por sinal estou apaixonada 

e picharei na quina dos correios 
nossas iniciais
assim eu vejo se você me nota 
ao entregar as cartas


[2013] 

quarta-feira, 25 de julho de 2018

1.

Faz dias que eu não meço as horas, estou aguardando teu sonho chegar. Te escrevo enquanto te miro os olhos largados, desde que te vejo que é motivo para contar uma história. Essa é sua, por mais que em algum momento tenha de desviar, será seu corpo deitado sob as palavras.

Foi quando lembrei do teu grito, nunca tinha visto igual desespero igual o teu, então fiquei paralisada de temer que te acontecesse o grito por dentro maior, tremi de deixar escorrer água, foi então que constatei, pois já descobrira desde muito nova, que tu era força maior do que a voz. E tua voz alcançava muros, corpos, avenidas e até o coração sentia que pulsava mais quando ouvia teu tom, era de parar multidões, e levantar também.

Deito à tua cama como quem alcança a paz. Sorrateira descubro um canto para aconchegar o meu corpo, não nos permito a distancia por puro carinho, e descubro sentir quentura por tua presença, procuro dormir mas te ouço contar histórias. Sei da tua chegada, mas quando durmo sob teus pés, acredito que nunca partirá de mim. É desse lugar, mais seu do que meu, que eu gosto de chamar de amor. Amor simples, feito fazer arroz lavado, mas imagina por tuas mãos.

Sei do teu sonho alcançado. Sei da tua chegada. Quando a gente juntou as mãos no terraço soube que teu sono era bondoso com teu mundo, naquele momento quis fechar os olhos e sonhar também, para sempre.

E o que a gente faz quando fica partido? Muitas coisas ficaram, mas e as outra? E o que são essas coisas que ficam na gente, e o que são as outras, não sei mas porque sinto mais que muito se fragmentou e não sei se partiu ou ficou, agora eu só sinto que sou parte dessa história.

Lembro do seu cabelo da cor de uma Lua cheia, de como você dança sorrindo com tudo, do teu traço no meu vestido eu tenho a cor a sua medida, até onde nós vamos, você nos pergunta, e eu diria juntas.

2.

olha só que coisa linda essa calma do cachorro

mediante a decisão de mudar algumas coisas de lugar, pensei no meu lar
de dentro, botei Renaissance pra tocar, peguei as poesias juntinhas à psicologia e educação
depois foi a hora do suspense, e depois do romance, só mais algumas coisas
que a gente não deixa de ter, tipo aquela velha história

Jasmim queimando, poeira pra todo lado, Pierre querendo a cama vazia, onde
vou enfiar isso?
depois que a gente começa não quer mais parar, deixa essa pilha de autor aqui
quiçá a gente se lê no escuro também, assim de fora

água gelada, tem que subir o cachorro, tem que abrir as cortinas, tem que sei

quero dormir, assim desse jeito, quero deitar sob os livros

tenho que mudar algumas coisas de lugar, decidi, depois eu que não tenho
jeito,
olha só que coisa linda essa calma do cachorro

tem tanta coisas que preciso decidir mudar e decido o lugar: aqui dentro

Dorme, meu filho

Dorme, meu filho
pois a sombra 
reclinada
é somente o encosto 
da cama
deleitada sob 
teu descanso

Às tuas fraquezas
se expuser, 
rosto às luvas, 
se descubra novo mundo
na palma das mãos

Verá que dessas mãos 
dormentes
erguerá taças,
decaídas,
irá segurar o rosto 
em desespero
mas que serão gigantes 
teus poemas

E há de encontrar face
que te perturba 
se houver retorno
a solidão não será
mais somente tua
mas de um desconhecido

Quando desvendada glória
perceberá estar vencido
talvez pelo ego 
esse que te definha
talvez pelo gosto agridoce 
no caldo da boca

Dorme, meu filho
amanhã a gente sabe que virá
ontem você sabe que já foi
agora tens o sonho de um menino

segunda-feira, 23 de julho de 2018

atropa francesa de tocaia, o romance incabado, bem na sua cabeça, la dentro e la fora, uns fazem esforço outros se esforçam e tem quem deixe passar.

mas foi na praia de saquarema que contemplei uma luarada azul, bem azul luzidia. a luz dos olhos e chuva. faz sol, sei queimar, sinto tudo bem quente e azul tarde.

votos contados as horas, kilo de feijão, e enquanto isso tudo azul feito lua da praia chuvisco. quando os franceses disseram l'amor, amor acontecia no litoral brasileiro, e os portugueses diziam navegar enquanto afundavam as terras, faz tempo que me sinto colonia e cheirosa.

faz dias que os votos se acumulam e anulam meu peso no mundo. como é tarde e vem a lua de chuva me tocar. 

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Vá minha tristeza

Findo novamente encharcada na cama. Aqui a superfície parece de apoio e as costas flutuantes feito asas. Sinto o peso da liberdade,

mas estou tranquila.

Busco sentido e palavras enquanto escrevo. Estou ouço Fafá de Belém na rádio da TV, vi a batalha dos confeiteiros, uns bolos bonitos na vitrine, dei bolo a todo mundo um pouco sorrindo.

Fumei uns cigarros, de rotina, esfreguei os cabelos nas palmas umas 1000 vezes. Banal, entrei no ônibus duas vezes, na primeira a roleta me prensou e encontrei um companheiro da Livraria e tive timbre pra contar do meu presente? Fixação. Tem coisa que eu não consigo prever, e é isso mesmo…

Mais uma vez eu quetendosabendoporqur

Faz tempo que o tempo passa

Chega de saudade

Girassol da cor da Lua

E agora minha vez

Descobri a parreira da flor de uva

O silêncio do vizinho

Da forma como a fumaça gira

Deixa a gente girar

Mas é que eu tô perguntando

E agora

Escrevendo poemas

Quero dormir

Cor do Girassol Solidão

Sete anos de azar se a gente não brincar, e tenho visto que a cor do Sol tem sido amarelo ensurdecedor, faz dias que queria entrar na palavra e dizer simplesmente de amor

Feito amar a cor do girassol solitário, as razões de amar sem nitidez, mas tem lá no fundo um quê, enquanto a gente compra pai os sonhos passam, a verdade é que os loucos dizem de uma realidade ainda desconhecida, é por essas e outras que deito na praça aguardando vagar

Me leve pra fora de mim, às bossas antigas, vida ultrapassada, tem uma chama que escuta nosso choro, e faz amarelo no canto do olho, e faz sentido a gente partir

A poesia nos engole

Mandei uma mensagem

Tua poesia me habita

Sei da tua sede e do amor pelo campo

E a cidade nos engolindo

Amo teus versos

Assim como ama o vento

E as batatas da terra

Se me perguntar por onde andei

Sigo lento teus versos

Trocando papéis

Desesperada dentro da cidade

Nos engolindo

No vento do gás vento, dentro torneira sem água, no teu coração o sentimento do mundo

Foi assim que descobri no teu poema um pedaço perdido de terra

Nos engole

sexta-feira, 13 de julho de 2018

como poderei caminhar por esse chão embebido,
e tocar olhares, desviar do tráfego de mutirões,
se descubro a solidão da poesia
constrangida e muda?

é que desde nascida
que me sinto vulcanizada a pronunciar
qualquer trivialidade
quem sabe uma hora ou outra
debatesse com um Cala-te a Boca!

mas é que não me calo
porque sinto os pés movidos,
os olhares dizendo coisas que boca
alguma é capaz de declarar,
e as buzinas acenando chegou a hora
de acordar
feito se for preciso falar/

é que como poderei caminhar
por esse destino de inquietação
se por existir a vontade clamar
de arrebentar o silêncio dessa vastidão
Por amor

tenhas cavado a solidão

Tenhas dormido encolhido

no calor

Esquecido de tomar café na manhã

o faças no almoço

Por amor que tenhas renunciado

Por amar somente

estás sozinho

Compondo sobre traduções

Por amor tenhas traduzido poemas

Que te ferem

Por amor,

Amado

Estou lendo seus poemas e bocejando ao mesmo tempo e arrotando

Bebendo uma latinha, um cigarrinho, uma musiquinha, uma caminha, um lencolzinho, um ventinho,

Que não me entenda que te escrevo uma carta, porque certamente não enviarei e porque parei com as cartas

Eu disse: basta !

Quero dormir. Chega de sonho.

Você dizia das coisas bonitas com as palavras, das unhas, dos cabelos e de mais algumas coisa mas eram três que você falava e negava o que não era você:

“Duas cabines telefônicas na chuva”

Algo assim

Não quero colocar pontos no final

as palavras o tempo teu líquido

Faz tempo
que não escrevia
com essa vontade
de fazer amor

Você falando
sobre as horas e
os segundos
do tempo
que não a via

Fazia tempo
que retornei ao hábito
de escrever
sobre uma solidão
como se fosse companhia

E dai criei você no romance.

Talvez de alguma par
te do seu corpo
Seu corpo
Que beleza

Quero surtar
quando seu suor provar
Não disse de onde escorre

bolinho-de-chuva

acordei agora com o gosto na boca que nostalgia essa vontade de acordar minha véia cansada suas mãos de rugas dançando com o açúcar o cheiro de óleo quente o inferno não tem mãe

mas tô com vontade de rezar quando dizia que era Deus quem abençoe mas sem saber quem era deus quem era eu Quem

receio reler tudo e ver como está mudar as coisas mesmas de lugar dessa poesia é isso, a poesia tem me livrado e eu danço com ela como se fosse o açúcar doce as mãos de mãe

todo dia o dia não tem pressa, eu feito um cavalo em cima de mim e as vezes dou rédea pra você pra mim por nós vivo inconstante, ao passo da minha ânsia desmedida enfrento montanhas e valas

as chuvas e os bolinhos dão o traço bom que tempo algum é capaz de desfazer, o cheiro de mãe, a roupa pingando nos olhos no varal, teu cheiro de gás é um pouco de tudo o que me faz mover

as fotos e canções o bule chorando minha vez de fritar as impressões estão em cima dos móveis dos muros é possível ouvir tua voz repetida de Quem foge?

as vezes eu desisto de poesia e desisto de mim de nós mas surge um novo dia sem pressa eu assino embaixo e gostaria de ficar Quem seja com o gosto da nostalgia tua desse bolo molhado de chuva

domingo, 8 de julho de 2018

A beleza de reconhecê-lo

Gosto de escrever poema
Sobre o Sol; 
Sobre vocês;
Sobre ontem;
Tem tanta coisa que a gente deixa guardada 
Que é feito livros que a gente vai empilhando
E contando as estórias pro mundo

Quando a gente sai do chuveiro 
É feito se a água escorre
Da gente também 
Suor de choro 
Guardo muita coisa boa 
E gente de boa e faço de bem as tarefas de viver
Sem dormir escrevo poema; fumo; durmo 

Como se pudesse a última dança 
Me dou a honra de dançar até acabar 
Tomo fôlego e recomeço 
O amor é um lindo lago à espreita 
Faz dias que quero cantar
E faço grito

Que se entendam os poemas 
Mas saí de cena quando céu amanhou 
Agora digo do presente 
De;
Mais um dia 
Quando o passado passou 
De uma bela éstoria a contar