quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

meu coração também não é de carnaval

se é de amor ou resignação que se vive, eu deixo a minha poesia no mundo como uma carta de suicídio e tento escrever o que me agonia botando a culpa no sol ou no pior signo do zodíaco. ninguém vê os meus olhos tristes quando a garoa aparece de repente molhando gente com fones de ouvido tentando disfarçar o choro da rua. todo o carnaval manchou a pele da morena e os padrões estão em vômitos de banheiros aferrolhados. há descaso em semáforos e o sinal está vermelho para cada homem que quiser entrar em mim em alta velocidade. falo demais das cores e de poetas falecidos. há mistério nesse planeta de seres racionais. tento alertar sobre o amor em cada sílaba aguda, suspiro ou olhos exaustos. tem muita multidão em volta da desgraça de quem reza todos os dias antes de cada refeição. eu tento agradecer mas outra vez reclamo e penso sempre que o mundo poderia acabar enquanto durmo no leito de sonhos insones. minha carne não é de carnaval, sou escorpiana com todos os males do signo e possuo enterrado no peito uma bomba pré-histórica. nossos horários estão alinhados diferente de nós e laços.
quando é que acaba o verão?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

rasgando suas cartas e editando mágoas em relação ao mundo

suspeito de passos ágeis e de promessas desesperadas
há uma floresta entrando para a minha fantasia, ganhando nome e quase
me fazendo de filha pois eu sou tudo o que a natureza renega
bela, não como carne ou mulher, mas feito célula cancerígena consumindo
o pouco de sobrevivência que nos resta ao respirar profundo
de olhos cerrados e com o coração mais pesado do que as malas eu vou,
não como se soubesse o caminho de ida ou se há uma volta,
fazendo busca daquilo que não encontro aqui
suspeitando de lendas urbanas e poetizando o que dá ânsia de choro
pois isso sim é uma interminável viagem ao mundo das bruxas
os morcegos entram nas casas e eu saio de casa sem documentos
comprovando que estou dentro de uma identidade falsa
em cima do telhado vendo vaga-lumes pela primeira vez
ou lendo um livro cheio de mofo na sala de estar
eu penso em encontrar um nome único para a cor de seus olhos mornos
enquanto esqueço de acordar pois sempre não lembro de existir

por onde passo enxergo luzes me abduzindo para os vícios

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Moonchild

Deixo você entrar como se um raio furioso caísse sobre mim em uma chuva de verão pois amanhã não teremos medos pra contar. O que escrevo inquieta quem me chama de poeta e eu vejo as minhas fantasias no céu de 12:50 porque o azul machuca. Amanhã não teremos o porquê de chorar. Vou escalando uma fantasia absurda e progresso sob um chão em brasas para roubar um pouco da plenitude sem ser expurgada de minhas galáxias. São as pirâmides em chamas anunciando a minha saudade. Amanhã seremos crianças pela eternidade se a maré subir. Esse ritmo glacial nos abafa os ouvidos antes que estrada tenha um fim.

Me apavora que o amanhã não nos chegue.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

traduzindo os olhos de serpente

é tudo abismal e eu toco o meu coração
intocável
tantas vezes
se alguém tentasse teria êxito

fazia tempo não chorava aqui
posso ouvir o vento me pedindo para dar nome ao que sinto
cansa e dói e sei lá falar disso é tão dificultoso
pra mim que mal gosto de fazer discursos acadêmicos

o cheiro de erva entrando
e você saindo junto à essa flauta pesada
estou ficando sozinha mais uma vez e hoje ainda é carnaval na cidade

preciso da poesia de marcela e dos olhos oceânicos do rapaz das cartas
eu temo a ventania
temo o meu sentimento sem identidade
e toda a rua criminosa me chamando para mais uma noite

essa amigdalite sempre retorna
todos os sonhos com serpentes e parentes que não usam o meu sobrenome
são réplicas desse universo egoísta que criei porque não me resta nada de real

esses olhos tão passionais são falácia de amor
a minha pele é obra de arte
e eu estou esterilizando sentimentos por toda a vida
e meu mero medo de fundar o precipício

é difícil ser criança aqui
o incenso exala o cheiro da lua sem céu
sinto fome de amor e bolo caseiro sem ovos

assisto à minha mãe chorar à frente da televisão
e a poesia as vezes pousa em mim como uma borboleta distraída
me ferindo o pulso direito

o poeta escreve para outra
e acha que sou só mais uma transviada
quase não resta espaço para que alguém entre por essa porta

e me arrombe
até que eu reclame de ser feliz

ainda acordarei algum dia sem medo de chorar
e vou fazer discursos sobre a independência da alma
até o ponto de enxergar o fio da calma que tanto procuro nós

entrelaçados debaixo de lençóis sujos
eu só vivo romances quando escrevo

sábado, 14 de fevereiro de 2015

há um bicho sem nome me olhando enquanto escrevo

eu quase dei seu nome pro bicho
que mora dentro do meu quarto aceso
há tanta gente exausta aqui que o meu cansaço some
e se perde em cima da cama de colchão fino

há o desconhecido grudado nas paredes das casas
por onde entro descalça
e vejo sujeira atrás da porta
[essa cretina porta de madeira maciça
não avisa quais partidas que serão
pra sempre
mas sempre me diz pra sair]

o universo dançando com o meu corpo morto me afundando
vou ficar mais cega do que o amor
o meu corpo é sede de alguma paixão desleixada
a minha escrita não vale nem a primeira página de um livro
mas ela me salva e me salva agora do bicho sem nome

essa voz tão arrastada, tantas vírgulas poupadas, o piso do chão rachado
e a falta de tamanho
é um pouco de medo por existir tão em vão
esse disco arranhado é um eufemismo a essa hora
e tenho uma vida de sobra para jogar até amanhecer primeiro
em cima das ondas outra vez

o que digo não faz mais sentido
e a conta de luz desse mês aumentou
abre essa janela que hoje eu vou te observar
há um sol sorrindo me querendo amanhecer requentado
quase mudei de lugar
novos carteiros foram contratados no Humaitá
e ainda procuro coisas debaixo da cama
não sei o que realmente perdi

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Minhas poesias são confissões esdrúxulas

Daqui eu ouço os pingos caindo ao chão de cimento aguardando o sol anunciar o verão para extermina-lo até a próxima tempestade que devasta cidades baratas. Dançam as luzes atrás de vidros acústicos mas não sei qual é a melodia e sinto em mim uma vontade de pular mas observo o horizonte alaranjado quase que explodindo qualquer desejo de morte. Eu daria todo esse céu que estampa paisagens de papel para turistas em troca de habitar minha carcaça debaixo de sua pele corada por uma praia imprópria para mergulho. Quero nadar em você mesmo não sabendo nadar. Seu mar suportaria os meus maremotos? Desculpa se eu só consigo dizer que te amo através da poesia... Se declarei que sou livre durante algum discurso alcoólico só para fugir de sua imagem caótica de homem com medo. Eu traço o seu nome em tudo o que escrevo, pinto o nosso relevo em cima da cama de 1,60cm e não me importaria de ser traçada em cima dela por você.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Notas de uma prosa inacabada

Passo o rímel importado
de alguma empresa que contribui
para a anorexia em modelos de cera
e sinto o coração borrar 

É pouco tempo o que possuo
não sei rezar mas vejo almas
e a minha aparece
em fotografias tremidas

King Crimson estremece a cama e os cabelos
e borro de novo
o batom no verso da mão
Existem versos que não ouso escrever
Sinto vontade de foder

Há uma luz extraviada em meu olho embaçado 
o chão não foi limpo por Ana
que carrega os machucados no álbum antigo de família
e em volta do olho esquerdo

Eu choro junto com o chuveiro
digo ser poetisa
e penso na frase
que estaria escrita em minha lápide
todo final de mês

Eu tento abrir a porta mas nunca existiu porta 
porque não há entrada mas procuro a saída
Não tenho 40 centavos trocados
E as minhas pernas não correm a mais de nove meses
então o paraíso vai ter que aguardar
quem me carregue
como a Cruz de Cristo
que enfeita a imagem desnorteada do Rio
quando vou fumar Gudang na sacana

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

a solidão fez sensação de 50 graus ontem

a solidão fode comigo 

e vem como a tragada que chamusca a garganta e faz um nó dos diabos até o ponto de me obrigar a escrever palavras porque a voz é perseguida e transexual e não há silêncio quando todos fecham os olhos. o ódio do mundo esperneia e isso é bomba daquelas atômicas tão rápidas quanto um intervalo para o almoço. 
moço, a nossa conversa é hoje então ajuste a sua cama de lençóis que apaguem a minha digital cuspida em cima de teu eufemismo. a solidão desfaz a maquiagem de sábado dos olhos e me faz acreditar em bruxas e morcegos que me chupem e não há crença em mim. há uma tempestade tocando tambor no céu anunciando a maré de olhos cheios de areia. os pássaros voam pro sul e cheguei junto ao carteiro e quem vai dormir? eu crio piadas com as minhas realidades destruídas e vandalizo os meus ideais rasurados. uma mosca fala dando voltas repetidas que não é pra dormir sonhando por enquanto, até a maré baixar... 

a solidão me tira da cama de manhã e derrama o sol em cima do sofá, dança com o meu corpo e chove todo dia aqui. não há pedra tão sensível quanto a dos seus olhos de cão faminto. qual é o seu nome completo? e tudo isso é pesado demais.