quinta-feira, 16 de abril de 2020

isolamento

aqui de cima as formigas me olham do corredor as enxergo atônitas a água me molha os olhos ardentes o grude dos cílios a forma delas é ainda maior do que no corpo quando sou doce invento maiores desculpas para deixá-las me acarinhar há dias em que não sei que horas são se estou sã se essa onda nos afogando algum dia se tornaria ressaca por mais que não tenha ainda parado com as bebidas as folhas no dente do gato o tempo pedindo mais eu não saberia por onde começar aqui do lado os livros me fitam os romances estão devorados tudo perece mudança tudo é agora são parcelas de tormenta o céu às vezes brinca com as rosas minhas mãos cheirosas a álcool um sinal um e-mail pedindo para publicar-nos não sei bem por onde começo aqui de baixo me olho não consigo levantar mas sinto sede sinto outras coisas que não sei o nome não levo à boca paraliso até o pensamento morfina quase vida e meus lábios sinto o suor de maré inquietante parece que na beirada as palavras são de sal e grãos lavar as mãos não posso parar aqui do canto o mundo me parece melhor ou maior do que eu o meu sentimento nunca teve nome nunca que tivesse algum endereço por isso guardo as cartas comigo a memória fragmentada não me deixa cavalgar a precisão sou toda incompletude inalcançada pés descalçados o cansaço ainda atinge meus órgãos sei que não pedimos para chegar até aqui o ponto se alongou para além das reticências não posso tão cedo partir aqui entortada as costas reclamam o gesto da cafeína na raiz da boca o sangue entorpecido nos lábios os beijos que não se beijam as mãos que se esfregam o adeus que se consome na breve hora de dizermos de amor o dormir em tempo de acordar daqui as formigas delongam a chegada suas bundas são ainda mais dançarinas seus pesos parecem o cárcere em nós

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