sexta-feira, 27 de junho de 2025

asa em chamas

a ave de pedra e fogo delineia um 

lírio delicado na sombra do sol

entre os joelhos, 


revisito o sítio de vidro e vícios – 

           vinho escorrendo dos seios.

nós escorpiões no escuro 


convido-me para mais um cálice,

embora o poema faça ruídos descalço 


o vento elucida a questão. pulso:

viver à sombra da memória pousada, 


ser a visão translúcida de uma asa 

(em chamas. 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

O sangue

se você não existisse,
seria preciso poemá-lo. 

que distorçamos o nó da gravata 
até gravar uma ata:

"não vamos deixar que se 
enfoque sozinho no quarto" 

sintonizam pânico no circo
no som do carro,

do alto falante os cílios 
da bailarina soam
esmeraldas em transe, trânsito. 

a linha vermelha engarrafou,
o RJ atingiu os 15°C,

não há motivos para escrever 
um poema que seja paralelo. 

há fogo e ferro em tudo 
o que ainda, em sangue. 
o que não transamos. 


sexta-feira, 13 de junho de 2025

A pedra da loucura

Vou extrair meu amor
A pedra da loucura
Dizia Pizarnik com um poema nas mãos 

Vou extrair meu amor 
O poema louco
Que nas linhas das mãos eu te lanço 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

São Paulo

embaralho a minha língua 

na língua furiosa de um são paulino

que de santo nem o pau, nem a sanidade 


a cidade nos entra com toda a tua grandeza

a tua grandeza me parece o viaduto 

que eu cruzo


a minha febre de desejo 

se confunde com a saudade 

que eu cruze a Ipiranga 

que na boca dele eu grite Liberdade 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

carícia de quem ama

tudo o que eu te escrever
será difícil de traduzir 

um poema difícil 
é o que você me diz
para fazer. sem palavras. 

um poema sem rodeios
jogos ou enganos 

um poema tão simples 
que seria impossível traduzi-lo
com as palavras deste mundo.

um poema com as mãos 
o gesto único da carícia de quem ama. 

domingo, 25 de maio de 2025

minibio

Gyzelle Góes é poeta, pesquisadora e professora. Mestra e licenciada pela PUC-Rio, onde também é doutoranda em Literatura, Cultura e Contemporaneidade. Dedica-se à pesquisa de arquivos literários no Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa e atua nas áreas de Literatura Brasileira e Crítica de Arquivo. 

domingo, 11 de maio de 2025

Desejo, o lastro

Oh, desejo 
como queria ser o anel
do teu terceiro dedo,
margem do teu manuscrito,
folha dependurada no teu ouvido. 

Desejo, se tu em uma palavra 
me arrancasse a palavra, 
em ti o mar descansaria
o meu seio e me deleitaria 
da espuma do teu mastro. 

Fiel, desejo inscrito, se em ti 
eu me apropriasse do lampejo, 
não mais desejaria em nós
a não ser o próprio anseio!