sábado, 27 de junho de 2015

Você gosta disso e eu com as palavras me reviro

eu te procurei pela cidade

mesmo só sabendo o seu nome e querendo morar

em cada curva do seu j

e te quis como se a lua não fosse me esquecer mais tarde

porque não tenho vista panorâmica de seus olhos mas tô paranóica sim

usando palavras pra cessar o sufoco

ufa é pouco

ter você seria o meu alívio

porque há um grande risco

de sermos reescritos por tradutores automáticos


na curva do seu sorriso

eu quis fechar parênteses pra ver se esclarecia

nosso contexto inexistente

mas isso é licença poética demais

no ponto eu te dei um fim

porque não tenho aspas pra voar contigo


no início da rua eu encontrei

a sua janela

não era em sua casa que eu pretendia morar

domingo, 14 de junho de 2015

nós na poesia é incompletude

assim metade
meio míope
insossa
faltam alguns centímetros
decoro o som do passarinho
sem nicho produz
antes dos vizinhos 
os coadjuvantes da poesia
saírem
para trabalhar
acordar em tom do choro 
daquele bicho é
me aceitar ferida

mansa e maré
café de manhã
borro o mármore e
essa cara tão pálida 
não é mais de espanto
me aceitei metade
mas é verdade é que me falço falta
me sondo e busco motivos
nem do lugar pois 
o choro do passarinho 
sem ninho 
é onde habito

arritmia cardíaca
mais rápida do que as rimas
estou sim aceitando a falta de ritmo
subestimando as vírgulas estendidas 
no varal da licença poética 
situada em tudo aquilo que enfio 
goela 
A dentro
e fora nada parece tão concreto
apesar desses tantos prédios

Não vim inteira!

estamos a sós em nós
em alguma cidade da rua  
nas placas e muros pichados
A poesia
esquecida (como nós)
enrolados nós cabos de eletricidade
morrendo eletrocutados
pela cidade
o coração não bate
só clama poesia não se apague
mesmo que as paredes da cidade
não caibam tantas 
metades

estamos engolidos
procurando
abrigo sentido motivo
...o silêncio é tão grito quanto o choro daquele passarinho

sábado, 13 de junho de 2015

amoras

Eu que nunca antes havia provado o gosto de amora, descobri o amor escondido dentro do caldo que saía da fruta e dos lábios e de versos vadios. Quase encontrei refletido no muro branco de cal a luz verídica do sol que vinha de uma manhã afobada pra acordar e me acender queimando um pedacinho do pé. Quase despertei mas é inútil acompanhar a passos o tempo e os novos ônibus de janelas trancadas espalhados pela cidade. Quisera uma borboleta fizesse lar na minha mão e do meu corpo houvesse língua que quisesse ler em braile um versículo obsceno. Desculpa a cena. Preferiria ser revelada como um artigo sem letras mas também não possuo números ou código que me abram as pernas antes de uns tragos de resignação. A minha pele é o caminho dos amores que deixei na rua junto aos versos em guardanapos úmidos e preferiria não lembrar do carteiro indo rumo à longe daqui levando as cartas do meu armário num ônibus com ar condicionado.
Logo as cartas sem rumo...

Eu que nunca amei
acho que encontrei na amora o amor.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

será
que 
te trago
ou trago você?
trago 
angústias
em um maço
de cigarros
e as suas cinzas
no canto
do quarto
será 
que te trago?