domingo, 26 de junho de 2016

Gabriel

quis fazer um poema
que te beijasse as mãos
sem a fissura das palavras
entrecortadas no bloco de notas
rendar meu verso longo
na borda de seu sistema motor
até decorar o tom dos atos
entre o sincronismo
e a distração
quis até construir um jardim
pro nosso palácio
de constelação
já não se treinam assobios
mas passei perto das mudas
roubei margaridas
e pus sob fios de cabelo
cadentes de sossego
uma luva tricotada
pro inverno no rio
que não endurece coração
rima é remendo de ferida
em tom da pulsação
flores são mais vívidas
quando muda
a estação
construído
o poema dialoga
versos roucos
só pra livrar da solidão

torcendo,
fiz pra nós uma oração

quinta-feira, 23 de junho de 2016

sinapse

sua fisionomia esqueço
mas a memória retorna
feito passagem 
de um rio
os pés afundados
o molejo 
da força existe

não recordo
a função dos ciclos
o girar da terra
imperceptível

relembro por susto
vertigem de verso
ser cúmplice do verbo

lembro
feito presente 
ou dádiva
passado às dobras
rugas da testa

uma volta
abre a porta
essa carta
mesmo
esquecida ou
revirada
um rasgo

não é só confissão
talvez seja
uma frase atravessada
esse regresso
verso termina
escasso
todos
seus retratos

terça-feira, 21 de junho de 2016

Nu

A luz que atravessa as vidraças
É o sol a te revelar o corpo
Narrando a tempestade em marca
De uma pele miragem
Desnudando passagens
Transeunte à margem

No cenário de uma exposição
Suas curvas na moldura de um quadro
A sintonia das cores em rima
Liberdade se transforma em melodia
Monumento
Seu corpo é obra-prima

Artista, musa, performer: Lídia Orphão 


quinta-feira, 2 de junho de 2016

Ilha

Como numa amnésia súbita
Nego a poesia dos cantos metropolitanos
Raízes saltadas de praças
Me submetendo ao ócio
De uma poesia desconhecida

Transito a mergulhar na rotina
Seis horas embargadas
Sentarei a escrever um poema
Os escritores sempre tem algo a dizer
Eu não
Eu não sou

Cavalgo serena num cavalo de máquina
As engrenagens toscas
Esse céu forte visto do terraço
São cores de um imaginário

A poesia desconhece o poeta