quinta-feira, 28 de abril de 2022

assalto

o mundo 
me exige disfarces

desde à infância
aos trapos, os meus 
nervos foram baleados 

colo os ouvidos às portas
nos trincos, os alarmes

na joalheria 
uma rave
ou um assalto

era para eu ter acordado 

que corresse 
dos roubos
da minha sombra

haveríamos 
de produzir qual retrato 

se antes 
do sol se revelar

algo 
de brilho se escondesse? 

sábado, 23 de abril de 2022

o nome das cores distanciadas

o imenso não tem nome
ele se desloca para o fundo 
e o fora de nós 

o que se nomeia 
é a cor do horizonte
numa espécie de passatempo 
a fim de desiludir a solidão

este feto imaginado que se chama linguagem 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

o dia termina e nós famigerados

abraçar o Sol
e comer nas tuas mãos
o miolo dos pães 

o teu sapato polido, a tua fala
tão cintilante quanto
você e eu
o poema em pedacinhos 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

quinta-feira, 14 de abril de 2022

me abraça 

e esquece

que o tempo passa 

herdamos a tua falta

não esqueçamos do silêncio
que se fez sob as águas, 
os pisos, dos teus pés lívidos
dormentes, os teus olhos melados
pelo ardor da manhã de sábado 

deste silêncio nos vestidos 
no rosto nas portas,
desta paz que não impede 
senão a tua volta, 
o rosto de uma mãe saudosa 

há na casa o ermo que ocasionaste-nos 

domingo, 10 de abril de 2022

há algo neste canto

há algo de firme 
nos seus olhos de canário 
e de interesse 

pela primeira vez 
não o perdemos

há algo de digno nesta ausência 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

baú de lágrimas

não há nada mais triste 
do que ver uma mãe arrumando baús 
com as roupas do filho 
que acabou de morrer 

não há nada mais triste
do que dobrar 
as mangas 
os filhos mortos 
os panos mortos 

não há nada mais triste
do que um guarda-roupas
sem roupas, desnudo 
imaginar a frieza do túmulo

uma lágrima molha a tua gola 
uma lágrima borra o teu gorro
uma lágrima veste o silêncio
que cobre o teu corpo 

sábado, 2 de abril de 2022

o mundo se cala

não há caso em chorar 
e beber as próprias lágrimas 
em um cálice 
ou no dedo 

não há problema em intervir 
o poema para escrever 
outro

e calar o mundo 
ou a máquina de lavar
amanhã sairemos 
com a mesma roupa pendurada 
nos braços da maçaneta

não há desculpa a tua camiseta 
amassada como sempre esteve 
vermelha debaixo dos meus livros
como um bolo de rolo 
de linhas desalinhadas

que beleza quando os fantasmas 
se sentam bem na hora 
exata em que você escreve 
um poema 
e o mundo se cala