sábado, 26 de dezembro de 2015

notas sobre contas a pagar

receio ter perseguido

pedido sossego

ao lado da cama

o medo fisga o pulmão

me tira da rua

como se por indignação

faz calor demais

verão do Rio

superlotado e vazio

é quase uma inundação

anseio inflamado

aqui ó 

do peito

quase encostando

na grade de proteção

não ultrapasse o meu limite

juros são mais altos com amor

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Enlaço

Meu corpo fica inerte em seus braços
Assim retorcido
Embaralhado como se fosse laço
Ou acaso essa rima toda pra você

Quieto exclama por entrelinhas
Colchetes em sua cama
Um gosto de vinho no sangue
O clímax se transformando em tragédia
Ânsia de morrer estirada no arco de seus braços

Pintas no topo do ombro
Pistas expostas pelo corredor
Manchas brotaram
Não pise em meu corpo calçado

Há uma ferida debaixo do osso
Visitas trazem lembranças em sacolas
Meu corpo imobilizado
Quero morrer em seu abraço

domingo, 20 de dezembro de 2015

as ondas seguem o fluxo da corrente sanguínea

enquanto a tempestade de sábado
vence a seca contida em seus olhos

contemplo meu perfil rígido
no espelho grande da varanda
e não me reconheço

sim, contudo, o mesmo rosto de antes
mas essa fala estancada

tão exposta
é frágil demais para nós

laços dados e cadarços roídos
chuva tímida antes das três

analisei as dívidas
e cobramos demais dessa ternura
que nos acoberta a noite

pensei em te enviar uma correspondência
os correios saíram de greve

o coração faz manifesto
mas há quem cale os segundos

enquanto o deserto habitar sua face
a tempestade é formada por areia

os castelos permanecerão ruídos na praia
a onda é quase mansa

só o protesto é sem antídoto
pra ressaca de um verso cardíaco

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

silêncio

mortos deixam
muitas coisas para trás
essa avenida 
desfila a dor
o trânsito no peito 
acelera
é um incêndio
tão frio
por um triz
não me sinto
no rio
buscando
diagnóstico
desvio
propuséssemos 
outro destino
vidro-
fumê
pastelaria falida 
do japonês de boné
vê se me encontra
voluntários da pátria 
é grande demais
todo rio de janeiro
aguarda carnaval
mas desde ontem
penso 
e relembro
eu não escrevo
só para você
nem a mim
isso
é como afundar
assim
bem fundo
lá dentro
pro-
cura

domingo, 13 de dezembro de 2015



Fragmentos selecionados
1. MAUPASSANT – Bola de sebo – Páginas 11, 12, 14, 15, 32
2. MELVILLE – Bartleby – Páginas 9, 17, 18, 19, 21, 26, 36
3. KAFKA – Na colônia penal – Páginas 56, 70
4. BECKETT – Primeiro Amor – Páginas 5, 6, 10, 11, 16
5. GOETHE – Os sofrimentos do jovem Werther – Página 29

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

sobretudo

eu dançaria em seus pés
mas os meus passos atrasam a hora

em caminho difuso
a música não cessa

meu peito se manifesta
mesmo se a festa anular

eu cantaria sobre um passado oculto
os amantes e sanguessugas

todo absurdo num só parágrafo
mas desconheço

sua cor predileta
e o nome da poesia

toda prisão contida em cápsulas
um raio de sol aquecendo seu queixo

acho que perdi os dias
e já que estou de férias

a música não cessa
subo em seus pés (mas eu sei dançar)

domingo, 6 de dezembro de 2015

ensaio sobre o movimento

quando você dança em cima do meu peito
eu sinto como um calafrio um zumbido
de cada trovão que colide lá fora
e aqui dentro é quase um moinho
tão veloz que juro parece vulcão 
 
mas não tenho medo dos anúncios
do comércio abrindo mais cedo
se pontes são insuficientes
porque acho que ninguém me alcança
nem a morte
nem o medo e o amar

esse é mais um motivo do ritmo
e mais uma rima um desvio
decorei os passos
batuque disritmia
inventaram palavras ausentes

e o coração dispara
morte lenta só uma bala:
é doce o balanço do mar