sábado, 30 de agosto de 2014

O azul é da cor do inferno

Vejo através de lentes três vezes maiores do que os meus olhos exaustos a cor do seu azul se diluir ao toque do meu abismo. Assim nessa dança de cores a ausência de paz reina e só eu ilumino com a minha esperança de salvação. Se for bonito, quero estar sonhando agora enquanto te vejo através de um horizonte perpendicular, se desligando dos meus sintomas, respirando o ar saudável de amores estampados nos jornais. Assisto Tarantino e me divirto com o sangue a escorrer como esse sorvete sobre os meus dedos, e lembro de você escapando pelo ralo do banheiro depois de me esfregar pelos azulejos azuis... Efêmero azul...
Sussurro em seus ouvidos a minha frustração por não te fazer ficar, por te deixar solúvel mesmo sabendo que a tempestade viria ao amanhecer junto àquele azul depressivo... E, você sabe, me desculpa, a minha cor não está na aquarela.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Desvarios de madrugadas insônias

Há um bicho que me dá medo quase tocando a parede
Ele não tem olhos e nem sabe falar
Mas fica pairado enquanto escrevo
Se por acaso eu não acordar
Procure atrás da porta
Debaixo da cama
Na gaveta da cômoda
Ele quer sugar a minha alma
Ele roubou a minha calma

Tem luzes piscando no quarto
Do outro lado da janela toca Mozart no rádio
Agonizando os meus pesadelos
Não ouço passos porque ele tem medo
De ser visto
Mas eu o vejo

Ele tem a face mais horrorosa que já vi
E não tem coração
As luzes estão ficando fracas
Sinto um peso esmagar as minhas lágrimas
Silêncio
Por que isso não acaba?

Tem um degenerado borrado de ódio
Se alimentando do meu desnorteio
Ele dorme sob os livros
Observando o crescer do desespero

Ele sabe que tenho medo
E se descobrir que não gosto da vida
Estou sem saída
Trancaram a porta
Eles acham que nasci morta

*Tornam-se frequentes as vezes em que me deparo com essas imagens no quarto, é tão real que quase posso tocar. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Impression, Soleil Levant

Você me faz lembrar daqueles contos os quais eu te incluía sem nem saber seu nome, seus pseudônimos eram dos planetas esquecidos por astrólogos lúcidos. Esses seus contornos são mais complexos do que o meu pincel pode suportar, fui te pintar e só fiz poesia. Não te espero na janela, nem te ligo de números interurbanos porque você se assustaria com a minha biografia. Eu fui rejeitada nos exames psicológicos, meu bem, você sabe que eu não sei amar por pedaços, mas te confesso que não quero ser inteiramente sua. Sou da Lua pregada no céu a brilhar meu corpo nu que te canta uma canção de dormente. Sou a solidão exposta em ateliês fechados, no tumulto urbano e no chuvisco guardado em seus olhos maquiados por essas olheiras boêmias.

Hoje eu preciso dos seus lábios me profanando, dos hematomas e do álcool mais sórdido pois amanhã eu não vou te querer nem se estiver pintado em algum quadro impressionista de Monet.

*O título é o nome de um dos quadros mais famosos de Monet 

sábado, 23 de agosto de 2014

Helena

Helena bebeu todas as minhas lágrimas e se embriagou de amor próprio
Marcou os livros com as digitais suadas e de fotografias lotou o meu quarto
Ela gritava o amor de plástico que não se pode reciclar
Pois ela sujou a minha vida
Helena rasgou o meu passado com um simples beijo engoli(dor)
- acho que continuo dentro daquela boca com sabor de fruta -
Ela me usa, abusa e transfigura
Eu não tinha esse rosto tão amedrontado...

Helena,
Que dor, helena!
Como dói recordar aquele sorriso místico de cartomante
Junto a olhos faceiros de luneta para mirar a minha sina maldita
Desvendando meu destino nas cartas de um tarot
E logo eu que não sei rimar o amor
Estou aqui escrevendo na poesia essa dor...

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Epílogo

Às vezes acho que ele possui mil personalidades
Todas me possuem em frequências equívocas
Doei-me a esse amor em ruínas
E o pouco que me sobra eu alimento a sede
Que vem da fonte daqueles lábios traiçoeiros

Sou suspeita a renegar o meu destino platônico
Mas não precisa ser vidente para prever a catástrofe
Que é estar naufragada nos terríveis olhos dele
Nas digitais
Hei de me erguer algum dia das cinzas
Quando o amor nos queimar a despedida

Edifico a esperança de sair sobrevivente
Mas moldo com as palavras vacilantes o meu epitáfio
Pois temo morrer sem dar voz a nós
Temo herdar em outra encarnação o silêncio desse amor medonho

Roubará as minhas dádivas
Furtará as lembranças que já nem sei se existem
Com o intuito de que eu vire discípula do seu passado
Às vezes acho que sou refém desse amor hediondo
Às vezes tenho certeza

sábado, 16 de agosto de 2014

Só não repare na bagunça que eu deixar em sua vida

Meus saltos vão tocar o réquiem da nossa incansável despedida no calçadão bordado de Copacabana e cada estrela que quiser dormir em seus cabelos por pura diversão, saberá um pouco do abismo que meus dedos enfrentam a te afagar. Não é Godard que vai traduzir o nosso amor em tela plana, e Caetano não te deixa tão manhoso quanto as minhas ameaças de jogar tudo para debaixo do sofá bambo da sala. Você quer o meu amor a varejo e eu sou o maço inteiro, o bordel vai te lembrar que nós mulheres somos puras e carnais e veja nossos carnavais intrínsecos… Eu sou gerúndio até no espasmo, na contração da íris e no indo… Sempre passando com roupas que não me tapam a alma. Ouvi a garoa que vertia dos seus olhos cismados na rádio do bar mais próximo ao meu festival, e sei que você me recriminaria por exibir sua vulnerabilidade assim em prosa, mas eu te convidei ao samba só para tirar esse seu sotaque de não me querer exposta.

Eu vou te melar com a minha cidade tão perigosa, vou te violentar os planos só até o sol desabrochar atrás de algum prédio de vinte e cinco andares, assim eu te colocarei no ritmo carioca para ver se você entende que meu coração é bossa nova, só pertence às madrugadas tocadas na viola…

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Estaria voando em sua boca se possuísse asas

Quem sabe agora eu não te escreva a poesia da qual prometi
pois o seu cigarro me queima os dedos
junto a essa barba que esqueceu de crescer
e apenas brinca a infância na sua pele exaustivamente dourada

Você me segue aos becos e bancas em que me meto
só para rastrear os medos
e me salvar até fazer o coração chorar
porque caio em suas armadilhas

Na praia a maré carrega as histórias que não viveremos
e leva para ilhas desertas
até se misturarem com a areia singela
para enfim solidificarem nossos nomes lá pela primavera

Se você ajeita seus lábios miúdos desse modo suicida
é porque sabe da minha tristeza contagiosa
e o meu sangue impuro carioca
mas não se nega a querer me beijar

Moreno, eu gosto é de amar...
meu fetiche por amor é mais infinito do que o mar
os números, as galáxias e o céu da sua boca
(que ainda não provei pois não sei voar)

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Coração urbano

No tumulto entre a estação de trem
e o meu coração
ouço os passos a baterem forte
no compasso da canção

sobre cansaço ou fracassos
isso não vem ao caso
se o caso for de amor

Vou cruzar espaços que me afastam do ópio
só para esbarrar no homem invisível
que se veste da solidão
e mexe com meu - já tão citado - coração

Vou escorrer por esses rios esquecidos
só pra te seguir com o olhar
Despirei o seu perfume amadeirado
com um rebolado
eu vou te deixar usado

Sobre esses amores platônicos
Vou me perdendo
em cada esquina que sou deixada
porque os olhos já não são os mesmos

Reparei na solidão
sou mais uma amando uns ou outros
nessa minha multidão

Eu não quero acordar e sentir que já passei por aqui

Cadê a escrita que existia em mim? Meu corpo em brasas diz que continuar é preciso e o estímulo daquela tarde melindrosa me impulsionou a sorrir. Sorrir com os lábios de serpente, desacreditada e sem veneno. A garrafa de vinho me contou histórias profanadas a cinco ventos, sei dos segredos da noite que se aproxima sem permissão pra entrar nessa casa de poeira esquecida. Eu estou cansada de diálogos fúteis à beira da cama, dos olhares nas ruas que não se esbarram para contar um bom dia. Preciso de um motivo pra pegar meu corpo e soltar no ônibus lotado de passageiros, de pessoas que passam, não quero estar de passagem novamente. Quero entrar na vida de alguém, daquele rapaz que se esconde atrás da barba que espeta minha curiosidade. Eu preciso de um motivo para escrever qualquer merda que me liberte dessa escrita porca. O boteco está me esperando, o seu Tião não virou engenheiro, o trocador do ônibus não quer mais tocar na dor de quem precisa acordar tão cedo. O que sobrou de você, Armando? Cadê seu sonho de ser roteirista? Onde foi parar a padaria que vendia doces no valor de um real? Pintaram o amor de cinza, venderam o circo e construíram um prédio em cima. E eu, eu continuo a repetir as palavras porque a rotina sugou a minha criatividade, esmagou as minhas chances de virar poetisa. Comi todo o doce de leite que estava na geladeira e chorei as mágoas pensando que a lágrima derreteria o açúcar para que a glicose saísse das minhas veias, a adrenalina me faz beber o vinho que agora já se emudeceu. A rua está muito violenta para eu sair de saia curta ou com a ferida exposta, a chuva está chegando e o sono também, só quem não chega é o motivo que eu preciso para acordar amanhã sem chorar (...)

domingo, 10 de agosto de 2014

XXI

Sonhei com a poesia que eu acabei não recitando
pois você não se interessa por poesias
e todas essas coisas ultra-românticas que te rimam;
tem medo de todo esse devaneio que é te colocar em prosa
porque decorou que nas palavras eu te idealizo, você não gosta
e sabe da minha moléstia que é te reinventar a cada madrugada chuvosa
No sonho eu te borrei com as palavras perdidas entre os lábios
mas se me beija eu deixo em sua boca um pouco de conversa
só porque na nossa estória eu não tenho pressa
Perdida entre as ruas que não me levam a seu destino
conto aos grafites a dureza daqueles que não te conhecem
pois quem ainda não te viu sem essa fantasia
não penetra na verdadeira poesia;
ela está em sua realidade tardia...
Eu toquei suas mentiras, seus segredos e me vi cavada nos medos
porque o amor é tão medonho e enfadonho e tristonho
que rimo as palavras só para te escrever mais bonito do que no sonho

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Arrisca e me risca em seu corpo

Cuida bem do meu excesso de paranoia
dos quatro mil sóis que acharei enterrados em seu cabelos
das metáforas que forem criadas só para eu te fazer único
não só em meu coração
mas também nas minhas poesias

Cuide das minhas e suas futuras rimas!
porque só sei fazer versos repetitivos nessa vida,
porque escrevo com meu sangue, a língua, as tripas
cuida da minha falta de tamanho não só por ser pequena
o mundo é grande - me engole
Devore com essa boca misteriosa
só não me cuspa - degusta
faça dos meus restos a sua ideologia, sua culpa

Se você compreender as minhas entrelinhas
e se propor a caçar comigo as estrelas no céu-da-boca
eu dedicarei a Lua escondida em minhas costelas(ções)
só para te assistir dormir em cima dela

E, se você quiser cuidar da minha confusão,
eu te darei um amor de poesia e fantasia sem refrão
Transformarei meu exagero em seu codinome
trocarei os vícios pelo suor ignorado que te consome

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Por que ainda escrevo sobre o carteiro!?

Contei os passos que ele daria até a padaria e voltaria só para vê-lo outra vez. Não quis olhá-lo nos olhos para dizer o trauma que ele me deixou de amores platônicos e ruivos ou carteiros, só precisava saber se meu coração ordinário bateria algum solo descompassado

Um dois três, cinco... Sete... Ah, perdi as contas
Ele me sorriu tão calculista que penso se não treinou antes no espelho embaçado do banheiro sem tinta, se não fez isso com outra gurias... Balançou a cabeça quase tímido, com a delicadeza do bater das asas de um tristonho passarinho
Agora ele deve achar que sou maníaca pois não sabia fingir que estava esperando o sinal fechar a quase vinte minutos. Exatamente dezoito minutos, oitenta e sete passos... acho que perdi as contas, lúcidos dirão que perdi algo mais sério do que isso...

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Sinopse

escritores como eu morrem sozinhos em apartamentos escuros com o coração aceso. se te assusta falar sobre a solidão é porque você não viu a minha parede, as olheiras que viraram tatuagens, a minha imagem esquecida no porão.
escritores como eu sabem que não existe nada mais sólido do que as palavras
o café sem açúcar retrata a minha escrita, minha biografia 
se essa vida te parece um erro é porque ainda tem
coração sem medo
E sem medidas
porque transbordar é poesia 

domingo, 3 de agosto de 2014

Usurpando nosso caso de poesia

Assusto-me com toda essa poesia que usurpo de você,
das recordações ínfimas e do aroma que me pego a sentir distraída
a fúria da nossa rotina embrutece o seu sorriso
mas se continua comigo eu broto a felicidade que te faz de abrigo

Dar-te-ei o que quiser
pois tiro de suas páginas o que lubrifica os meus versos
só peço que me ensine a te amar mais devagar
já que tenho pressa de possuí-lo até enquanto sonho
e sonho por nós! pelo nunca...
para tê-lo presente não só na realidade que me machuca

Você sabe dos meus arranhões
e dos abismos que se estendem entre nós
mas se me evoca com seus dedos: a poesia acontece
da forma mais lírica
até que o sol paire em nossos peitos estufados de dor
e o calor nos lembre que tudo isso
só pode ser caso de amor

sábado, 2 de agosto de 2014

Deixa que eu durma em seu leito triste?

O vento que geme carente no meu quarto anêmico sabe dos segredos das nuvens. Navego nas estrelas a solidão das constelações, o céu sem cores à noite anuncia a própria depressão.
Por que não notaram que o céu está tão triste?
Será que não ouviram o choro que desaguou noite passada em minha sacada?
Se está cansado de ser tão só, te ofereço a minha companhia. Ofereço-te a minha insônia, o meu cansaço e alguns tragos do cigarro barato. Não se ofenda se amor eu não te trago, o amor se esgotou mais cedo do que eu preciso acordar amanhã. Não irei dormir! Hoje você me tem aqui, sentada sobre a minha vontade de sumir
Sumir daqui pra morar contigo, dormir eternamente enquanto não chega domingo...