sábado, 31 de janeiro de 2015

"Corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso com os olhos: um fogaréu vivo ambulante. Espirito impaciente para romper o molde, incapaz de retê-lo. Os cabelos pretos, longos e sedosos, ondulavam e balançavam ao andar. Sempre muito animada ou então deprimida. Segundo alguns, era louca. Opinião de apáticos que jamais poderiam compreendê-la. E passava a vida a dançar, a namorar e a beijar. Mas, salvo a raras exceções, na hora H sempre encontrava forma de sumir e deixar todo mundo na mão. A mentalidade é que simplesmente destoava das demais: nada tinha de prática. Guardava, inclusive, uma cicatriz indelével na face esquerda, que em vez de empanar-lhe a beleza, só servia para realçá-la."

A mais linda mulher da cidade, Charles Bukowski.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

O amor é mesmo um cão dos diabos

possuo no corpo três hematomas pequenos, culpa da minha anemia, e uma cicatriz miúda perto da boca que me transforma numa personagem de Bukowski em 'a mais linda mulher da cidade'. quando eu fui ao hospital costurar alguns pontos, pois a minha pele é tão sensível quanto os discos de Caetano, meu pai estava lá dizendo que ficava nervoso ao me ver triste e eu só queria gritar 'mas eu sou triste o tempo todo, pai, eu não estou chorando por causa de um corte, eu só queria ser engolida daqui antes de que eu enlouqueça aos 20.' mas eu só chorava dizendo que não doía, mas dói sim, a todo instante dói e nossa eu estou muda doendo e me doendo por nada. como vou explicar aos meus pais que eu choro por causa de machucados dentro de mim? há mais de sete anos de azar aqui. 

triste é a falta de amar no Rio de Janeiro às sete e meia da manhã 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Você leu os meus avisos em algum muro?

O que existe no fim do túnel é a mesmice do início
Talvez com algum semáforo a mais te implorando
Pra parar por 1 minuto pra pensar em mim
E no sotaque que te paralisa
Há um pombo branco no meio da Avenida Atlântica
Desfilando a paz que nenhum carioca teria
Tão imundo

Existe eu aqui de óculos extravagantes a mostrar
Que não existe amor à primeira vista pra uma míope
Que você precisa aguentar os meus diálogos sem vírgula pra respirar
Isso de vírgula para descanso é mentira.
Eu tô cansada, sabe?

Não te avisei de minhas últimas cicatrizes do ano passado no braço direito e nem que aos fins de semana o meu corpo manda em minhas atitudes estúpidas. Eu mal te disse sobre a minha alergia à pimenta e que os gatos sempre tendem a me arranhar porque tenho cheiro de cachorro na alma. Você não sabe que eu te amo antes de falar contigo e que fica ainda mais bonito dentro de mim. Parece que eu te engoli. A minha febre e a insônia se curaram mas ainda sinto dores e você sabe onde e no fim você sabe de tudo.

Falta te contar que o Rio de Janeiro é lotado de pombos que possuem mais paz do que nós dois.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Eu sou a sexta-feira de cinzas antes do carnaval

Nessa manhã eu volto às dez pra casa com a mesma roupa da noite passada, com a cara lavada. E me sinto um pouco mais amarrotada do que a saia escocesa da cor do batom que escapou antes do meio da noite de meus lábios. Ainda há um resquício de vermelho em mim te incendiando, dizendo que a realidade é cruel demais conosco que nada fizemos se não acalmar a tristeza que se debate dentro da camisa de força revestida por pele e toques que não nos levariam ao orgasmo. Dessa tristeza que faz com que a gente coma mamão com granola sentindo vontade de chover tudo o que o verão nos poupa.
Gosto da polpa do caju
Eu bebo o refresco quente da birosca com nome de lanchonete
Não reclamo
Nada fizemos se não poesia
E amar tarde demais

Eu me afasto dos vícios e Dráculas e de clímax enfadonhos quando explodo te gostando mais do que o ministério da saúde recomenda. Essa vontade de dizer o seu nome aqui, ao guri que não desiste de mim, ao meu irmão com mais de 40, é intacta e corrosiva então eu as vezes me calo pra evitar calos no calcanhar e na garganta
Eu tenho um nó aqui
E gosto de seus pés que, atrevidos, aparecem como um raio de sol nas fotos que envia para que eu conheça um pouco mais do seu repertório de sobrevivência

Seus versos são tudo o que cidade esconde depois de acordar com cheiro de ressaca e peixe fresco da feira de quinta, e não há rima que diminua a agonia dessa nossa distância espacial. Dois corpos cabem sim em um mesmo lugar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

poesia de ônibus rumo ao sul de algum lugar

Eu continuo alheia à tudo
Mesmo possuindo esse chão 
que me impulsiona 
a seguir em frente com esse pés que eu odeio
Eu sei, tenho que amar o meu corpo mas pra mim 
o amor é uma espécie de aberração que 
se esconde 
em algum espaço aqui dentro
Talvez em algum lugar que eu já tenha ido
durante as intermináveis 
fugas que faço sem sair de casa
Não durmo direito a quase duas semanas 
e há aqueles que acham que tudo isso é culpa 
da nova medicação que realmente 
destrói meu apetite 
Mas tenho fome
Estou faminta, oh céus
Por que não caibo nesse azul?
São tantos quilômetros esmagando 
meus pulmões contra carteiras de cigarro 
e só preciso tê-lo nas mãos 
Eu vivo de metáforas 
E tenho suspeitas de que nem saiba o que é viver, mas estou aqui dentro de um ônibus me levando ao sul de alguma cidade alagada por mares brandos
Será que essa cidade é mais triste e banhada por água salgada do que os meus olhos? Do que a nossa história ainda prematura? Possuo incrédula um sarau de perguntas que ninguém além do tempo pode responder 



quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Se faz mar


acordar com o cheiro de piscina vazia e do sangue coagulado na pele deixado pelas muriçocas há uma floresta ao lado da cama e pão requentado na mesa da varanda existe muito mais vazio em mim  o balanço do corpo em cima rede vermelha e o meu amor estendido enjoado quase implorando sombra porque esse sol do Rio é coisa de quem não tem medo  eu não sou feira mas vendo uns sorrisos quase baratos na rua da praia sem número as cartas não chegam aqui na ilha  mas há depois da meia noite uma Lua enferrujada surgindo atrás do pico de papagaio ou em um desenho torto no braço quase tímida corada sob o cais que balança de novo o meu coração  o céu nunca foi tão bonito quanto ali eu dei o seu nome a todas as estrelas que cantarolavam saudade e foi impossível não notar a simplicidade de morrer em mar aberto 
 possuindo um coração fechado escrevendo poesia sobre a ilha sobre o meu amor embrulhado é tudo ânsia seja culpa do mar ou dessa vontade de amar 



segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

para aquele que possui o signo da pedra do fogo

todas as luzes que vivem na água sabem a metamorfose dessa treva que é te querer mesmo tão distante, quase distraída, de pupilas úmidas. eu quase te liguei ontem depois me dar a alguém com um nome que não é tão simples quanto o seu, oh, como eu amo soletrar sua identidade aos ventos e às moscas, talvez
à jean paul-sartre enfeitando a prateleira com suas letras em vermelho. eu contei de você para os outros e me disseram que somos impossíveis. tem tanto desenho aqui que eu decidi talhar sua face em papel de seda. acho que você possui um medo de me amar quando o dia amanhecer depois de cinco noites de lua cheia. eu quase transformei a minha pele em talismã por razões que não podem ser escritas em quaisquer livro de bolso. você vai pensar que isso eu escrevi para outro e vai sorrir quando terminar de ler e vai desejar que tenham escrito isso para você, mas penso que talvez não te interesse mais a minha poesia.
eu tenho medo. tenho medo de estar presa dentro de uma usina nuclear provando de seu magnetismo injetado em veias azuladas. você consegue ouvir as batidas de minhas ondas? eu comprei duas pedras que se ligam aos planetas sem nome, aos astros que me fizeram te conhecer na primavera. a roupa não seca no varal do quarto. você é maior do que essa vontade de comer mousse de maracujá. é mais seco do que as minhas roupas de ontem. há uma pedra de amor em seu olhar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Quero mostrar ao mundo esse vão

tem um resto de cigarro gritando entre os dedos enquanto eu imagino um mundo paralelo me mostrando a santidade de um purgatório gentilmente chamado de planeta terra. o paraíso está entre as minhas pernas que quase não dançam mais porque perderam o ritmo de uma paixão promíscua. que me fizesse conhecer os vícios. que me lambesse o corpo até que eu implorasse por salvação. me ver assim morgada no sofá de três lugares é essa poesia adormecida em meus pés. eu sequei mais do que São Paulo e todo Piauí. eu chorei sem saber o porquê do choro estar tão quente em uma noite quente. não tem como ser fria aqui no Rio, meu bem. não me venha dizer que sou daquelas que se apaixonam porque eu tenho vinte anos e ainda estou esperando para ser fodida com amor. vontade todo mundo tem, meu bem. vontade eu tenho agora de mostrar ao planeta o espaço pequeno entre a minha boceta e a maçaneta.

estou indo embora daqui.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Centro da cidade

te vejo no reflexo que quase queima
os meus olhos quando o sol
está no horário mais quente do dia
vejo você no monumento
de ferro grudado bem ao lado da praça
sempre muito só
receando que ninguém saiba de seus feitos históricos 
para estar em pé ali segurando essa arma no punho direito
eu ando por essa cidade procurando me achar encolhida
em algum pedaço de papelão
em cada viela estreita que não me reconhece
entro em qualquer sebo e enxergo o seu gosto por romances baratos
eu sempre te procuro em livros
e te encontro em mim
assim sendo esse novo personagem
que me tirou da cama só para escrever olhando para a Lua
porque sei que daí você também pode vê-la

toco o seu corpo dourado quando o pássaro triste
no centro da cidade pousa ao meu lado
e não me vê como uma prisão
sou uma prosa que te recita aos estranhos
desse Rio de Janeiro só para provar que isso tudo
não é apenas uma miragem vinda desse asfalto quente de minha cidade

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Feliz ano morto

Todas as pessoas que eu conheço não me conhecem
e eu as desconheço todo dia
Chega um novo ano mas os erros antigos permanecem intactos
desmanchando penteados e desfazendo nós
de gravatas caríssimas
Eu vou pedir um pouquinho do que peço cada vez que abro os olhos e enxergo que ainda estou aqui
presa nesse pandemônio característico do próprio inferno
Eu vou fazer promessa a algum santo que olhe para as minhas vestes pretas e pense no quanto é triste me ver não acreditando em nada, esfregando em cada ser com fé o meu desprezo quanto a todos esses rituais inúteis
Acredito que o que eu estou sentindo por ele é a única coisa nova e alva e esperançosa por aqui

Eu acredito na morte
mas ela nunca vem provar que está mais viva do que eu