quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Escrevendo, 
Entrei em contato 
com a ausência de palavras 
no manejo breve e secundário 
das falas ininterruptas 

Em repouso,
a brasa do sol 
em meio ao céu riscado 
Desde o sutil sorriso 
da nuvem carregada, 
permanecemos calados 

Mesmo diante dos sons estrangeiros 

Contudo surgia enfim 
o sinto muito 
a guiar os olhos afligidos 
e as mãos desnorteadas 
Enfim o pôr do sol mudo 

Em anúncio, 
a boca colada ao silêncio 
declamando desvios 
a fim de nos assistir discutir 
sobre a discrição 
do amor sigiloso 

Assim ouvimos o mundo 
em ronco grave 
quanto ao despertar 
das ilusões possíveis 
dados ao ruído das auroras 

Escrevendo,
Lido com a falta de jeito 
em admitir que falamos 
qualquer língua 
que soe disponível 
aos ouvidos 
atentos de pérolas e sopro 

Cochichava silêncio 
a um mundo incapaz de ouvir 
o surrar das dores caladas 
e dormentes, descobriríamos
se soubéssemos -
que o mesmo mundo 
não escuta em voz baixa 

Escrevendo,
Escutei minha voz, que falta 

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Gostaria de ver como soam em teus lábios contidos palavras de amor a um mundo menos violento

Pois é impossível ignorar a leveza das rosas murchando no inverno de lágrima e riso solto

À cor dos olhos intranquilos no vagão incinerado na avenida atlântica

Talvez você saiba o sabor dos tons da madrugada passiva na orla das intenções marítimas

Mas sem preparo ao mergulho teus braços buscam areia das horas que deslizam nas noites da praia deserta

E morre afobado quando em solidão o peito arfa feito maratona do mar em revolta

Enquanto a boca espumada entrega o sal das correntes vindo de um Portugal insosso

Transitaria nas palavras de amor embarcada nos sentidos que flutuam sonhos ancorados no castelo de memórias

E sem motivos de volta a maré em homicídio entre corpos estirados e balas de canhão o coração blindado

As multidões em brasa e a distante praia gostaria de te ver declamar que o amor está em tempo de guerra continue antes de afogar continue a nadar

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Dedicatória

Guardei o verso mínimo 

Pra dizer das coisas

Que não diríamos se as palavras

Fossem amenas 

Pois quero te oferecer 

Uma rima breve 

Antes do riso e dos olhos

Que condenam versos poucos 

Tanta intenção 

Que sei lá 

Discernir e voar 

Até seus lábios aturdidos

Descobrirem o tom 

Da minha voz 

Ao inverso 

O silêncio desmedido 

sábado, 19 de agosto de 2017

Contornar a saudade do que ficou

Novamente a estrada vai se refazendo é possível pensar em coisas boas feito as nuvens de açúcar, os beijos de côco, sorve-te o dia inteiro de calor

A gente assoando o nariz desse caos orgânico, enquanto navegar na web é um pouco de privacidade às avessas, pegar o bonde andando, correr de salto no escuro em pedra portuguesa. 

As vezes acho que colonizaram até o tom das ruas, de viela em vão. 

Tem dias que a gente se sente como quem partiu e não quer voltar mas se a estrada é ampla e caminho em segurança, por que insistir em retornar? 

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Canteiros

Vieram perguntar se não gosto de vida num dia quente tão morno que respondi sim mesmo não conseguindo sorrir eu acho que aquela pergunta me invadiu mais do que o brilho do sol

Dobrei as mangas da roupa de dias e não pude recuar com palavras nem os passos estava sentada e ergui a voz meu deus como eu queria correr entre as framboesas num mato verdíssimo 

Mas é que o brilhos dos olhos e das manhãs das maçãs tudo bem se chorar de vontade 

Tudo bem se não estiver 


http://youtu.be/yxWbSk7yGO0

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Gestos e amarras

Andei por perceber 
que meu amor te incomoda 
Demasiado e ébrio

E se vago na rua a te encontrar
Reprova os passos
feito vãos 
Quaisquer noite 
que não vos pertença 

Notei teu sorriso em sombra 
e tive pavor das intenções 
que mal faziam parte 
do meu repertório 
Assim domesticando os modos 
à parte confortável a nós 

Porém em mim tu fervia 
feito um bule assobiando "nós somos 
feitos de aço" 

Andei por perceber 
Que pertenço primeiro a mim 
Demasiada e ébria 

E os passos 
Assim soltos 
Desfaziam os laços 
Me sinto alegre por sair 

Me sentindo livre por vagar 
Se te encontro 
É provável que não seja na rua  
mas na lembrança 

Ainda existe uma faísca 
que chama "existe algo
que condiz com as cruezas 
de se amar" 

domingo, 6 de agosto de 2017

Devia te contar,
Não o vi passar 
dos inseguros passos

No que consta,
Intacto,
Esse passado. 

Dormi exausta, 
No sinal nos olhamos 
Na rua nos assistimos 

Sempre fui de reparar 
As mãos 
Mas passei direto
Quando me acenou

Não trocamos olhares, 
Embora não vi 

Hoje o dia morno 
Desfalece entorno da nuca, 
Deslizo pelas faixas 

Deixo o inverno 
Inventar desculpas
À medida que o pretexto 
Era te ver soar 

Basta 
Repassar,
Antes do dia findar,
Devia te contar 


Aguardo

Seria tolice
dizer que te escrevo
Mesmo que tente negar
o estômago revirado
Às horas distração
Às horas onde você está

E tal manhã
de nuvem cinza amarelada
surgiu feito uma florzinha
contente espalhando
calor pelo corpo
assim logo
cedinho


Uma breve pausa


pára


o coração



Quis te dizer isso
em segredo
a fim de não soar ultrapassado
revelar tamanho fogo
em público
Mas os segredos
constrangem até
as pupilas dos olhos
quando negamos
não nos ver

Mal tive tempo de decorar
teus planos
mas seria bom 
a cor do meu batom
em lábios
que pra mim
parecem flutuar
E dizer coisas infindas


As vezes acho


que você me machucaria


feito pancada de chuva



Ontem sonhei
com dentes quebrados
Não seria seguro
se dissesse
prever o futuro
(Sussurro)
Me dar conta dos juros
Das malas cheias de vento
Água toda estocada

Lá fora chovendo
Você aqui dentro

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Dia após dia
Eu via a morte 
se vestindo pra mim 
como um estranho conforto 

Cotidianamente
Os raios chegavam 
aos ossos 
feito efeito de calafrio 
que me botavam dúvida 
se o frio sentido 
vinha do inverno no rio 

Fui adulando cicatrizes 
sem temer olhares indignados 
por tamanha petulância 
dos corpos livres 

Era minha sentença sentir 
e me amargava o calor 
dos panos grossos 
das saias cumpridas a encobrir 
vergonhas avermelhadas

Oculta em minhas falhas 
fui decidindo acompanhar 
o cansaço das margaridas 
felizes em suas terras úmidas 

Assim permanecia
Dia após dia 
Regando rastros
Transitando a pé entre
dias mornos 
e febris 

Suando em agonia 
por dias seguintes ao raiar 
a sensibilidade desfilando  
Em praça pública 
o caminhar das estações 

Dia após dia 
Fui lidando com a morte 
feito companhia
Depressiva
como se caminha frente fria 

Se for para morrer que seja

Se pudesse ser salva, 
Optaria por vulcão encarnado 
Em breve sonho,
Não por motivo de fraqueza 
Desgovernada,
Sinto alcance absoluto 
Por sutileza de abandono

Em restante subiria
Altares e por alívio os pulmões 
Feito discos usados, 
Me rumariam devido 
Envio de sinais restaurados 

Brinde à jornada 
Alardeada pelo suor da vista,
Assim a caminhada surtiria 
Efeito aqueles à busca,
Sem que o saiba,
Faísca 

Assim desejaria, mais um dia,
Mais quente, mais fogo
E todas as histórias,
Acima dos papéis tostados,
Vultos, alardes, Cinzas 
Brevemente engoliriam 
A cor da vida 

Assim quereria estar viva,
Lambida de chamas,
Afoita e fervente,
E deitaria solene 
em pleno ardor,
É por morrer de amor