domingo, 9 de novembro de 2014

Baixo Gávea

sete anos
de azar
tenho colocado
a culpa da minha
falta de amar
em cima
do espelhinho quebrado
dentro da bolsa

e admiro a rua
que não mudou tanto
desde que a minha solidão
criou nome

e noto o desejo de um amor
desejo que me manche a pele
uma carta justificando
um supérfluo ato passional

que me fume como se eu fosse
o último cigarro do maço
e da noite

necessito me sentir
folheada por mãos
dos outros poetas
os poetas
sempre escrevem
o que eu pretendia dizer
mas só eu digo assim
do meu jeito

esqueci o casaco no bar da Gávea
mas ainda não saí da Gávea
eu acho que esqueci
muitas coisas

a roupa para lavar
e o coração de molho
da janela eu vejo
o amor passar
e nenhuma poesia
por mais ligeira que fosse
poderia recitar

4 comentários:

  1. Os poetas também estão sempre dizendo o que sinto.

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  2. "da janela eu vejo a dor
    que nenhuma poesia consegue recitar"

    Chega senti um friozinho, moça :}

    Lindo, lindo, lindo.

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  3. percebo que preciso de um amor
    que escreva em minha pele
    por meio de hematomas
    /
    os outros poetas sempre escrevem
    o que eu pretendia dizer
    /
    da janela eu vejo a dor
    que nenhuma poesia consegue recitar

    eu quase alcanço todo
    dia essa
    dor
    ligeira


    Demoro para aparecer aqui, só para me surpreender cada vez mais.

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  4. "recebo cada um como um puxão no gatilho"

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