quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Bicho de vinte cabeças

Eu nunca grito quando o bicho estranho aparece em meu quarto
mas agora sinto cheiro de tristeza
se aboletando em cima da cama barulhenta
e me empurrando
só para me ver chorar,
mas eu não choro desde o inverno quando descobri
que as minhas mãos sempre estão muito frias
e que já não pego o mesmo ônibus que o carteiro
Mosquitos me deixaram marcas e as marcas
do meu coração agora coçam
a dieta planejada não funciona depois da larica sentimental
eu tenho fome de amores exagerados
mas tenho medo de amar
mais do que do bicho que agora me observa
Estou com sintomas agudos de amigdalite e melancolia
então vou vomitando assim
essas palavras
inflamadas
O horário de verão furtou uma hora do sono que só aparece pela manhã,
jovens precisam de rumo e não de números,
supérfluas incógnitas complexas...
Preciso voltar para casa mais cedo do que pretendia
Preciso chorar agora porque minhas mãos estão novamente frias
Meu quarto está fedendo a morte, a vinte anos que não vivo,
acho que regularmente tenho alimentado o bicho.

5 comentários:

  1. Frio e sofrido relato dum dia a dia atribulado pelas crueldades que só a vida dum coração já arranhado conhece. Muito bom.
    abç amigo

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  2. Alimentar o bicho vira vício!!

    Bjoo'o

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  3. Esse teu grito silenciou dentro de mim, causou alguns estragos. Um poema que me refletiu, me fez ir ao fundo de mim mesma. Quanta sensibilidade no uso das palavras, tu combinas as expressões brilhantemente!
    "a dieta planejada não funciona depois da larica sentimental
    eu tenho fome de amores exagerados
    mas tenho medo de amar"
    Lindo, lindo!

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  4. Você sabe de tudo, um pouco .. você sente e isso é tudo o que tu precisa por agora, do mundo.
    O demais, vem de ti ...
    Saudações!

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