quarta-feira, 21 de junho de 2017

Não nos vemos se não saímos de nós

Embora espécime 
Fogosa, atentava quanto 
Aos ruidosos arcos Iris 
Que surgiam de súbito 
Espelhados pelo reflexo 
Dos vidros expostos

Frajola dormia íntegro 
Parcela das manhãs, 
Tardes, e quando descia o sol 
Escalava quaisquer lugar 

Gostava de revirar gavetas
Chispava em espanto 
Do que se revelava, 
Oculto por debaixo 
De globos solares 

Tinha certeza do apego 
A nos amargar olhares, 
Rasgava os tecidos 
Deitava sob a cama 
Na ausência dos corpos 

Livre e foguento 
Aos momentos de euforia 
Amava os cantos. 
Os buracos se enfiava feito cão. 
Mas era delicado, 
Se sabia da manha 
E reluzia muito. 

Ao fervor das pedras
Felino despojado,   
No inferno se dizia dos cheiros, 
Foi então que desvendei 
O maravilhoso cheiro
Na pele da nuca, 
Todas as flores na pele

Gostávamos de atravessar
O caminho mais longo 
Atentas às clareiras dos raios 
Os reflexos intensificados 
Por passagem lânguida 
Dos tons vertidos 
Pela manhã ensolarada 
Doíam diante 
Às banalidades 

Mediante às horas líquidas 
Frajola descobria
A ilha desconhecida 
No fundo 
De onde 
Não se pode chegar 

É preciso sair de si 

*título trecho O conto da ilha desconhecida, j. Saramago 

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