segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Dorme, meu filho


Dorme, meu filho

pois a sombra reclinada 

é somente o encosto da cama, 

deleite do teu descanso 

 

Rostos às luvas

expostas fraquezas tuas,  

descubras 

o mundo moço 

na palma das mãos

 

Quererás dessa mão dormente 

apoio,

verás o rosto 

em desespero, 

mas serão gigantes 

os teus poemas

 

Há de encontrar face

a te perturbar, 

a solidão não será

mais somente tua,

mas de um desconhecido

 

Ao desvendar a glória

acreditará estar vencido, 

talvez pelo ego 

que te definhas, 

talvez pelo gosto agridoce 

no caldo da boca

 

Dorme, meu filho

amanhã sabemos que virás

ontem tu sabes que já foi

agora tens o sonho de um menino


Um comentário:

  1. Como um fervosoro devoto de Drummond, não posso deixar de comentar: às vezes só a poesia devolve o óbvio ao óbvio e sua dor de doer. "amanhã sabemos que virás / obtem tu sabes que já foi".

    Bela referência ao grande bruxo. Acredito que o itabirano estaria satisfeito com a crueldade do seu simples. O desejo é que num futuro desse tempo possamos reconhecer nossa irmandade, e construir um mundo para todos. O que fica pra mim da poesia é sempre um clamor pela justiça. "a solidão não será / mais somente a tua / mas a de um desconhecido" é uma bandeira pela qual lutar.

    ResponderExcluir