domingo, 20 de setembro de 2020

ele lambe o meu rosto 
aqui de baixo ele me parece maior 
ele me lambe sem calma
sem pressa 
tudo poderia ruir 
cair
mas ele continuaria 
sob o meu rosto
eu me reviro 
ele continua a me lamber o pescoço
ele não me deixa dormir
ele não descansa me tendo ao lado
tão fundo ele alcança com a língua
o meu nariz 
é tão macio o seu gesto sob mim
eu sou tão sedosa depois dele 
e sem ele eu não teria o mesmo rosto
ele dos olhos aquarelados 
continua a molhar o meu rosto
eu o afasto para ver a nossa reação 
quando abro os olhos ele está dormindo 
ao meu lado com a boca úmida 
o meu coração empoçado 
as minhas mãos escorridas 
eu poderia dizer que depois dele 
eu sou mais água, fonte 
mais gosto saliva sede
saciada, eu sou a boca que não para 

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