sexta-feira, 9 de outubro de 2015

me enterraram na travessia

hoje vi um bêbado ser atropelado
ali em escárnio no meio dos entusiasmados
era eu que me via arregaçado
com a fúria do sol de três horas
efervescendo a ferida
a gota de álcool brotando dos olhos
o álcool dos carros e do corpo confundidos
e essa chuva acumulada de dias
cuspida do céu
o trânsito fodido
o bêbado fodido
e os carros
ah, os carros
as buzinas e faróis apontado pro olho
se mirar nos pássaros há sintonia de asas
enquanto o vento maneja
cada folha dessa árvore entre o cimento
há muita beleza em parar o tempo
dessa forma
a essa hora
o sol começa a esmorecer
e o corpo duro do asfalto a morrer

Um comentário:

  1. A beleza da cova rasa,é que tu respira enquanto faz poemas.
    Outros, que talvez amassem esses teus cabelos que nunca vi, odiassem, como eu, a incerteza de que teus lábios nunca seriam uma divina, morte.

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