sexta-feira, 8 de agosto de 2025

alarde

I

eu tremo quando te escrevo,
eu tremo, te escrevo. 

a lua valsando descalça
sob nuvens lilases

anúncios nos letreiros das bancas: 
tu virás junto à tempestade. 

II

eu venho a ti. embora 
não se anuncie o ruído dos sinos. 

ainda que vivas: 
trovão – inaudível 

fim do alarde. 

III

vê-se o sinal de um desastre.

soa o alarme (infravermelho) dentro 
de uma sala inócua 
no peito. 

IV

eu te amo e tremo quando te escrevo. 

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Infinita, Marília R.C.

as minhas serpentes são divergentes.
os meus dentes, as mordidas,
os meus ascendentes; indecentes,
descendentes. e ela me instiga. 

os banhos são 
ágeis e quentes e 

no velório de Marília
vi o seu corpo incidente de mármore. 
não só a rima, ela
está aqui, na memória, 
                                [no sem fim, sepultado]
prescrito da estória. 

no balanço do pulso, as pérolas coincidem
com o brilho da noite. A noite. Marília. 

sexta-feira, 27 de junho de 2025

asa em chamas


a ave de pedra e fogo delineia 

o lírio delicado na sombra do sol

entre os meus joelhos, 


revisito o sítio de vidro e vícios – 

           vinho escorrendo dos seios.

nós escorpiões no escuro. 


II


convite: mais um cálice.


o poema de ruídos descalço 

dentro da noite. no retrato. 


III


pulso e vivo à sombra 

da memória rebuscada. visão 

translúcida de uma asa em chamas. 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

sangue

se você não existisse

seria preciso dentro 
de um poema criá-lo, 

distorcemos o nó da gravata 
até gravar uma ata: «não vos deixeis 
que se enfoque sozinho no quarto»

pânico; circo; som do carro; sintonização 

altos falantes cílios bailarinas soam
esmeraldas em transe e trânsito. 

a linha vermelha engarrafou,
o RJ atingiu os 15°C

não há motivos para escrever 
um poema que seja paralelo 
ao acidente na Rodovia 747

há fogo e ferro em tudo sangue

o que ainda. 
o que não transamos. 

sexta-feira, 13 de junho de 2025

A pedra da loucura

Vou extrair meu amor
A pedra da loucura
Dizia Pizarnik com um poema nas mãos 

Vou extrair meu amor 
O poema louco
Que nas linhas das mãos eu te lanço 

quinta-feira, 5 de junho de 2025

São Paulo

embaralho a minha língua 

na língua furiosa de um são paulino

que de santo nem o pau, nem a sanidade 


a cidade nos entra com toda a tua grandeza

a tua grandeza me parece o viaduto 

que eu cruzo


a minha febre de desejo 

se confunde com a saudade 

que eu cruze a Ipiranga 

que na boca dele eu grite Liberdade 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

carícia de quem ama

tudo o que eu te escrever
será difícil de traduzir 

um poema difícil 
é o que você me diz
para fazer. sem palavras. 

um poema sem rodeios
jogos ou enganos 

um poema tão simples 
que seria impossível traduzi-lo
com as palavras deste mundo.

um poema com as mãos 
o gesto único da carícia de quem ama.