quinta-feira, 28 de novembro de 2019

fama e pó

compreendo os poetas que ficaram
dez anos ou mais sem escrever um verso,
a força da palavra entortada na ponta da linguagem inacessada,
a língua umedecida como lenços de limpar lágrimas
e a bunda dos inocentes 
e os dedos paralíticos
a gente vai se tornando exigente,
tento descrever com mais elegância
o gesto de virar a esquina
e comprar o pão da tarde amarelada,
essa cor se tornou rotina desde que
descobri meus olhos cansados,
os olhos vidrados no panorama da cidade
cristalina, os roncos e a neblina das garotas descoladas,
botafogo eu esqueci de retornar
sem parar na cadeira mais quente
o desgaste da memória ressequida, 
parece que eu vivi para contar a ninguém
até a mim mesma visto me calando
eu gentilmente choro por descuido 
e elaboro a próxima desculpa,
o deslize seguinte e as frustrações apaziguadas
os músicos eu compreendo, seus destiladores ácidos,
seus desejos suicidas de fama e pó,
o sucesso em construir o legado overdose,
over, game, brincar com os dedos
como os poetas em tempos de revolução,
dentro deles toda hora
e a torcida fantasmagórica, os romances
breves como os 5min de fama e pico
os poemas duram mais do que uma vida

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