sexta-feira, 10 de abril de 2015

vida e morte da poesia em mim

a poesia morta em mim recita
cânones literários ainda não lidos
por medo de repousar onde
há omissão de empatia
grita sem voz mas faz desse silêncio
um hino de absolvição
refaz meus planos insalubres
e observa atenta pelos vidros embaçados dos ônibus
quem aperta os passos na dança do atraso
há caos sim, na poesia, em mim,
nas ruas dessa cidade popular

a poesia quer nome e invade todos
os parágrafos suados de meus artigos acadêmicos
há caos quando tento escrever
um resumo descritivo ou me desfazer
das malditas metáforas que sempre
dizem o que a poesia grita
a poesia morta em mim renasce
quando o sol queima os olhos míopes pela manhã
e impede língua padrão em prol da licença poética
em cada "eu te amo"
amo-te não

ela diz não aos muros pálidos de pavor
ou rancor e há uma poção de abismo
na tinta preta dessa sua caneta
os psicólogos dizem que isso tudo
é caso de rima e que já sofro
com os sintomas prescritos
é bonito, a poesia faz questão de morrer
todos os dias em meu peito
que é terreno vadio

a poesia sou eu, também

6 comentários:

  1. Então, você é uma bela poesia... Tão única e melindre que chega a ser divina.

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  2. Gostei do comentário da Katarinen, acrescento que poesia e empatia não se casam, se casassem não haveria poesia. Eu não iria nesse casamento, mas te leria como quem lê o pulsar da curiosidade, sobre as letras de vida.

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  3. "observa atenta pelos vidros
    embaçados dos ônibus quem aperta
    os passos na dança do atraso"

    venho lendo seus textos quase dois anos e além das mudanças graficas -- o frame, a janela, a carpintaria que também são escolhas estéticas, e todo poeta detesta a palavra estética porque 'soa' outra coisa que a palavra é... stesis, sentir parece tão reto e plano. não basta apenas fazer versos com alguma tecnica, poesia é feita de ideias, mas nao qualquer ideia -- ela precisa dentro do seu proprio cosmos (ou simulacro) seguir e encadear som e sentido... leva um tempo (nao cronologico) para que saiamos da primeira camada da escrita -- maravilhoso quando o poeta ascende sobre si mesmo e se esquece de tão 'natural' que passa a ser esta segunda natureza... sim o amor é um pano de fundo, na astronomia chamam de radiação de fundo, o palco da materia definida e indefinida... está ali de maneira jamais expressa e é desta forma a mais bonita para enuncia-la...


    the poet's delay - henry david thoreau

    in vain I see the morning rise,
    In vain observe the western blaze,
    Who idly look to other skies,
    Expecting life by other ways.

    Amidst such boundless wealth without,
    I only still am poor within,
    The birds have sung their summer out,
    But still my spring does not begin.

    Shall I then wait the autumn wind,
    Compelled to seek a milder day,
    And leave no curious nest behind,
    No woods still echoing to my lay?


    o apanhador de desperdícios [excertos] - manoel de barros

    Uso a palavra para compor meus silêncios.
    Não gosto das palavras
    fatigadas de informar.
    [...]
    Tenho em mim esse atraso de nascença.
    Eu fui aparelhado
    para gostar de passarinhos.
    Tenho abundância de ser feliz por isso.
    Meu quintal é maior do que o mundo.
    Sou um apanhador de desperdícios...


    um abraço

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  4. A poesia "grita sem voz mas faz desse silêncio
    um hino de absolvição" Belíssimo!
    Um beijo.

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  5. meu deus. um dos melhores poemas que já li

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