terça-feira, 3 de abril de 2012

Ala da morte

Recebeu um telegrama avisando: teria que comparecer imediatamente a um hospital cujo nome não conhecia, em outra cidade.
Tão frágil era que seu corpo estremeceu. Suas passagens estavam pagas e no dia seguinte, com seu vestido de renda, encaminhou-se.

Ao entrar no hospital percebeu que era tudo muito diferente por ali, havia dor em demasia. Seus olhos estreitaram-se e ela se dirigiu ao homem que aparentemente deveria saber o porquê dela estar ali.
O homem, com sua barba bem alinhada e branca olhou-a com indiferença. Ela mostrou o telegrama, ele assentiu com a cabeça e começou a andar, de alguma forma ela sabia que deveria segui-lo.

Chegaram a uma ala na qual as pessoas soltavam gemidos baixos, os pelos da menina rapidamente arrepiaram-se.
Havia muitas camas com pessoas tão magras encaixadas, isso a estranhou. Ao chegar à última cama sua boca não conseguiu segurar o gemido amargura. Era ele, o irmão que havia partido e que até então não respondia suas cartas, a única pessoa que achava ter no mundo.

Ela apertou os passos e encostou-se em sua cama, seus olhos já estavam cheios de água, teve receio, mas pegou em sua mão.
Ele estava esquálido. Definhava, seus dedos encontravam-se duros, quase que não se moviam.
Ela queria falar mas engolia o gosto amargo na boca. Queria perguntar porque ele não a respondeu todo aquele tempo e súbitamente encontrou resposta: ele não queria vê-la sofrer.
Agora, a vida da pequena menina era uma névoa sem sentido.

Ele abriu os olhos e pediu desculpa com o silêncio, a menina não conseguia mais segurar o desespero, sabia que não teria mais esperança dele bater à porta e agarrá-la até o sufoco, assim esperava afobada.
Ele fez um esforço para abrir os lábios e os olhos acabaram fechando. Ele só estava esperando para morrer.

Ela sabia que o irmão era forte o suficiente para espera-la até agora. O irmão da menina exalava o cheiro da morte, o cheiro de algodão molhado com naftalina. Ela sentia as tais borboletas no estômago, mas agora elas destruíam-no, debatiam-se incontrolavelmente contra as paredes de seu intestino.

O médico disse que AIDS era uma sentença sem perceber que a menina já estava saindo da ala. Ela precisava viver.

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