segunda-feira, 3 de maio de 2021

pena

quando fui criança costumei a curiosa passar a mão pelas suavidades das coisas e s p a l h a das pelo mundo 

numa certa vez numa pracinha em Copacabana ao tropeçar na pena de um pombo cambaleante chupei a pena dele sem dó feito quando faço com a palavra até enxugá-la 

guardei o meu apetite para o verão desse amor tardio

após o ato cresceram três caroços no meu pescoço e eu me dei a sentir adoentar a euforia nessa época acostumei a dormir o silêncio das covas 

e foi quando tive de tomar leite de peito eu tinha acabado de secar todo o peito da minha mãe de angústia também 

depois os tempos avoavam mas a pracinha continua enferrujada ou seria avermelhada pela luz do dia das tardes ferrugena da infância? agora ela é mais vazia ou sem zelo sem minhas andanças 

talvez a rua esteja menos acarinhada agora eu só me afasto do mundo 

o peito foi ficando mais e mais seco cada vez e eu acho que o leite agora é do sabor da lágrima que eu não consegui evitar com a minha língua 

só o que mudou realmente é que ao invés de chupar a pena eu faço confusão entre as aves migratórias

Um comentário:

  1. Pra quem sente e escuta o mundo hoje
    tua voz tem tudo de infinito.
    Amei, como amo teus intermináveis horizontes.

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