segunda-feira, 22 de abril de 2019

narrativa em primeira pessoa

nosso romance se projetou em uma festa na vila
havia bebido o bar inteiro àquela hora
além das vinte e duas e dos anos
batiam também os dois pés
na poeira e ao redor das pedras portuguesas
a vinte mil léguas terrenas
meu amado retumbante aguardava sentado
eu me pergunto até hoje porque
mas por algum motivo estávamos predestinados
a olhar ao redor e só encontrar os próprios olhos
depois desse encontro fugíamos do afrontamento
por mais que seu rosto fosse panorama principal
visto que por puro romance
deixávamos para a poesia
o desfecho: dois quixotes isolados
é verdade ao amá-lo assim
me faz a solidão amante completa
depois nos encontramos através da narrativa
eu ficava rouca de vontade: lançá-lo ao mundo
e me sentia pura ao olhar seu corpo
descrito por minha delicadeza de amada
às vezes me sinto egoísta
por amá-lo sozinha heroica
e por usá-lo como tinta
na boca de uma obra discreta
assim como se pintura por dentro
me enfiasse o pincel a relevo
mas se leio a proporção desse delírio inventor
imagino que talvez estivesse aguardando
àquela hora o meu amado a intervenção de um narrador

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