sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Notas de uma prosa inacabada

Passo o rímel importado
de alguma empresa que contribui
para a anorexia em modelos de cera
e sinto o coração borrar 

É pouco tempo o que possuo
não sei rezar mas vejo almas
e a minha aparece
em fotografias tremidas

King Crimson estremece a cama e os cabelos
e borro de novo
o batom no verso da mão
Existem versos que não ouso escrever
Sinto vontade de foder

Há uma luz extraviada em meu olho embaçado 
o chão não foi limpo por Ana
que carrega os machucados no álbum antigo de família
e em volta do olho esquerdo

Eu choro junto com o chuveiro
digo ser poetisa
e penso na frase
que estaria escrita em minha lápide
todo final de mês

Eu tento abrir a porta mas nunca existiu porta 
porque não há entrada mas procuro a saída
Não tenho 40 centavos trocados
E as minhas pernas não correm a mais de nove meses
então o paraíso vai ter que aguardar
quem me carregue
como a Cruz de Cristo
que enfeita a imagem desnorteada do Rio
quando vou fumar Gudang na sacana

5 comentários:

  1. jesus é alegoria. a verdade me parece ser o que você diz, purple.

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  2. O ruim de chorar é querer e não ter lágrimas...

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  3. "Seus olhos são tristes, mesmo quando você ri" - vi essa frase em algum filme, que não lembro o nome, mas que define teus escritos.

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  4. Tenho pensado muito na morte também. Ela, que a gente tem certeza que um dia chega, mas nunca acreditamos que pode chegar agora, de repente! Bem, nem mesmo eu acredito às vezes, mas mesmo assim venho fazendo um monte de coisas que eu gostaria de fazer antes de morrer (nunca se sabe).
    Uma delas é este comentário.
    Já faz um bom tempo que eu acompanho seus escritos, e não teve nenhum que não despertou algo de surpreendente em mim. Você escreve muito bem, consegue exteriorizar esses sentimentos corrosivos sem ser dramática. Possui uma escrita mundana e elegante, captando tudo de bom e ruim que o mundo tem para transformar em metáforas sórdidas. E todo mundo se identifica, até quem nunca viu o mundo com esses olhos. Depois de tanto ler suas poesias, já posso afirmar que você é minha escritora favorita! De verdade mesmo.
    Obrigada por existir.

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