segunda-feira, 13 de maio de 2013

Refém

Jogou as chaves em cima da mesa de vidro como se o ato tivesse virado costume, deu alguns passos cansados e semicerrou os olhos ao ver aquela imagem pálida, rígida e arrumada diante de si, ou melhor, sentada em uma cadeira de balanço e gaguejou
-Massss, o que? o que faz aqui?

- Espero que não seja novidade-

Ela suspirou ardentemente, logo levou uma das mãos à boca e o ato que tinha sido extinto foi cometido, roeu as unhas enquanto se perguntava coisas que não caberiam colocar em pauta. A saliva desceu seca pela garganta deixando no ar um ruído constrangedor, logo decidiu retrucar
- Isso não é possível! Eu só...

Foi interrompida pelo barulho do copo de vidro cheio de gelo bater sobre a mesa, era ele, sempre muito petulante, deixou aquele sorriso mais branco do que o próprio invadir totalmente o rosto, soltou uma gargalhada que fez a cabeça pender para trás, mas voltando ao normal, encarou-a seriamente
- Eu só? Como pode estar só se eu, ilustre presença, estou aqui? Não diga mais nada, não faça-me perder a cabeça. Enfrentei dragões, muralhas e a força da terra para vir aqui e logo tenho a certeza que irá cooperar comigo. Por um longo tempo refleti se era sensato tirar de ti a escolha, contudo, meu ego que sempre foi gigante impulsionou-me e agora só resta a ti o sim.

Com os olhos arregalados ela deu um passo vacilante para trás, ela tinha incerteza de tudo neste universo, porém, de uma coisa ela não tinha... Esse homem pálido e prepotente estava morto e era seu falecido marido. Ele balançava-se calmamente enquanto observava o medo nos olhos dela, o sorriso irônico lançava na casa uma música de suicídio. Cenas do enterro dele a faziam suar por mais que estivesse um frio de congelar gafanhotos, com a voz embargada gaguejou novamente
- O que veio fazer aqui?

Ele levantou, ajeitou o terno preto e a resposta era mais óbvia para ela do que para a morte, tirando ela, a única coisa que ele possuía era essa névoa que saía de seus lábios sem cor
- Vim buscar o que é meu.

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