quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

de lince

e os teus olhos de lince 
que me arranham
arreganham,

e os teus olhos que me façanham,
estranham, estranho

os teus olhos
estranhos 
teus olhos 

domingo, 10 de dezembro de 2023

como se eu criasse um novo lugar para viver

estou em queda por você

embora sejamos detalhes da língua

quando caio, crio planetas

poderíamos morar lá (neles)

sem alugar espaços: dois penetras 

penetrando o espaço o espaço

entre nós seria uma metáfora

a meta do espaço e nós descalços

quando te vejo eu sinto 

como se... 


os planetas estivessem alinhados

costurados, rasganhos, desgrenhados,

surrados, suturados, sarrados, usurpados,

surrupiados, chupados, chipados, chapados,

sonegados, soterrados, soterrados, 

surtados, salpicados, sombreados,

som, som, som som


o que você faz em mim me faz sentir

como se... 

sábado, 9 de dezembro de 2023

para secar dos teus olhos as lágrimas

às vezes penso que o amor
é uma forma de revelar o meu escudo

lançaram as minhas asas 
do quarto andar dentro de um anúncio 
de papel cartão 

– a venda 
no teu rosto 
possui o tom de uma pena rosa – 

sonho em entrar no teu guarda-roupas
guardar a minha lucidez 

para a vez em que tivermos 
de fazer a escolha 
entre atirar

ou simplesmente 
dar as mãos 

na hora do salto, do assalto 

meu sonho é estirá-las

na hora do adeus

pior seria se nunca tivéssemos
aprendido a espreitar a solidão,

pior teria sido se nunca tivéssemos 
compreendido que o amor é uma forma 
delicada de desenhar a saudade 

pior se nunca tivéssemos
provado o sabor da despedida, 
não saberíamos que na hora do adeus

uma única coisa nos resta: 
– não estamos finalmente sozinhos 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Sobre o planeta não estar maduro para a alegria

De acordo com o poeta Murilo Mendes,
O planeta não está maduro
Para a alegria. 

Eu acredito que o planeta 
Não tem nada haver com isso,
O planeta está verde para a alegria! 

Quem não está maduro somos nós, 
Nós estamos passados. 

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

um castelo no mar

desde que pousei ao mar 
a minha face se embaralha 
com o novelo
das ondas

confundo o meu reflexo
com o perplexo
gozo de Vênus

uma alga-vida 
se consola nos meus ombros
movediços, viscosa 

onde será que eu naufraguei
por culpa da fadiga ou revelia 
busco antes da terra
a boca: a asfixia 

das tormentas ao mel da poesia 
construo o meu castelo – 
atraco nas costelas de Poseidon 

4.12.23

sonho com você há dias ininterruptos, sua última aparição foi agorinha, na minha entrevista de trabalho. o meu possível futuro chefe, um editor muito vistoso, falava alto para você ouvir, estava tudo bem até você aparecer. depois da cena de exibicionismo do meu possível ex chefe, eu fui assistir a uma palestra inútil ao seu lado, finjo que quase sento no seu colo, você diz “eu adoraria que você se atrevesse”. eu adoraria te atravessar. saio para fumar, em todos os sonhos eu simulo um forma de me afastar de você. não consigo me desgrudar dos meus sonhos e você me agarra de uma forma que faz como se eu me sentisse viva. estou me ferindo nas horas vagas – eu deveria estar dormindo – eu deveria estar descansando de você. mas você diz que vamos sair e que eu não vou beber. você quer me controlar, mas você não sabe como. você me descontrola. nós saímos e eu te perco no caminho. corro, corro feito uma lebre a fim de salvar a própria pele, até você. grito o seu nome, F. te aviso de longe, você sabia que eu voltaria ao meu fim. você não sorri, mas o modo como caminha até mim te entrega. você sabia que eu viria. perco o meu chinelo, perco o que eu queria te dizer. você, a rua imunda, o centro da cidade púrpura, olho para o lado e já não é mais você, mas as costas de um desconhecido. é apenas o meu modo de pedir que você se aproxime.