quarta-feira, 19 de julho de 2017

transitivo

pego o caderno
e disparo
contra o efeito
do silêncio
que a multidão invoca

feito como se
no punho
portasse uma arma
uma droga
pra curar a violência
dos medos instantâneos

em curso
os faróis
imunes de sentido
acusam os classificados
me sinto heroína -
certamente
devaneio

nas laterais
do retrovisor
a vida vai correndo
a certos kilômetros
de distância
de algum lugar
que a gente procurou
e acho
que ainda mais
perdidos
mais ilhados

guardo o caderno
e com as mãos
livres feito folhas
de bananeira
dirijo à boca
um sorriso
não há motivo
a paz se instaura

Um comentário:

  1. "Feito como se/ no punho/ portasse uma arma". Lembrou-me Drummond dizendo que todo poeta deve se armar. Escrever é também investir contra o silêncio das massas e a violência cotidiana. É uma das melhores formas de denunciar nossas mazelas e também achar um pouco da nossa paz perdida.

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