segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

replay

aquela música 
que a gente escolhe 
para ouvir e nunca mais 
terminar —

a duração do seu beijo. 

domingo, 29 de dezembro de 2024

Destino

o sonho há de orvalhar 
a pálpebra do poema 
o sino, a sina 
         sinônimo do desejo 

haverá o dia em que o esquecimento 
         singela textura do lampejo
recordar-se-á 
do canto de um olhar 

um dia há de cintilar 
aquela palavra que eu reservei 
para despir a ti, íntima 

           Destino. 


quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

Ele está de volta

aos que dizem –
Ele está voltando, 
vos digo que o procuro
há tempos, até entre o vão do carpete 
provocado por aqueles que o crucificam. 

sinto onipotente 
a presença dele alada 
que me parece povoada 
pela imagem translúcida de uma asa,
me alio ao seu vulto onipresente pela casa. 

domingo, 8 de dezembro de 2024

Mini-cabra

prezo demais pela feição poética,
afeição, disfunção estética,
aversão sintética. a síntese 
e o desmame. o peito da poesia

que não me desgarro, ainda hoje! 
como uma mini-cabra a saltitar 
no canto da página de um desenho
inanimado com espanto a face aturdida 

prezo não ser a próxima a ser abatida. 

domingo, 1 de dezembro de 2024

Antes de conhecê-lo

almejo a revolução da beleza
que vislumbrei em seus dentes 
trincados, dormentes. 

o susto que tive ao revirar 
a dobra do papel: 
deparei-me
com a nossa sombra. 

desejo a resignação do sonho
que ilustrei antes de conhecê-lo. 

sábado, 9 de novembro de 2024

o canário e o manequim

ontem li um premiado 
conto infantil escrito 
por Walmir Ayala sobre 
o canário e um manequim 

na estória ambos escapam 
das grades do ateliê 
desértico a um jardim 

o canário faz um ninho 
no buraco onde devia 
haver um coração dentro 
do manequim de cera 

a narrativa é vítrea 
em toda a sua delicadeza 
embora eu hoje esteja
desconcertada 

ontem me dei conta de que 
ainda que o coração esteja 
no devido lugar onde o caiba 

não há quem habite o meu ninho.