sábado, 13 de fevereiro de 2021

resgata meu desejo último 
de te amar de repente
como se o nunca fosse o passado
e o amanhã fosse nosso 

porque sou refém da memória
e cúmplice das palavras

sou réu da vontade de ter você
nem que seja mais uma vez
como se fosse a única 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

botão

meu corpo inteiro caberia
dentro do seu

perdão, 
meu corpo é infinito e ínfimo
mal caberia em suas mãos

mas o meu gesto
caberia dizer que cairia 
como uma luva entrando na sua 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Éden

esse verso a galope
desembestadamente 
incansado

se movendo 
a quaisquer lugar
distante da boca 
e da secura 

- os dromedários 
sentem sede
quando acordam 

esperávamos as rédeas
bastardos 
dessa vida pouca 

nos botando à frente dos bois
com o desejo na mão

torcendo 
para que os dedos

não nos diga que é proibido
ao menos uma vez

colher essa maçã suculenta 
que enfeita teu corpo 

domingo, 7 de fevereiro de 2021

te vejo cavando 
com os dedos 

o buraco
profunda 

guardando uma mágoa 
que não é sua 

e de mais ninguém agora, 

te vejo enfrentando 
o mundo só 

te vejo abandonando 
o mundo

com os mesmos olhos 
que te vi amar

sábado, 6 de fevereiro de 2021

quarta dimensão

tenho medo é de permanecer na luz inerte 

pasma feito uma lâmpada
no canto de um quarto de leitura 

dentro do pavor além da sombra 
e da solidão dos livros
nos quartos apagados de leitura 

tateo a caverna

quem na luminosidade 
ou na ausência dela 

não se olhou no espelho e sequer se viu? 

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

flor de sal

estive disposta 
a demonstrar
delicada 
que o pensamento te incide

suas mãos 
distanciadas
ocultas as linhas
do destino nós costuradas

li nos poemas de Drummond
sobre a solidão 
dos números
e das cores
Van Gogh sorriu 
dizendo adeus

você desfalecia
não apenas na sombra
dos galhos
ou da ressaca
do outono no mar Mediterâneo 

velozes seus dedos
o percurso da estação

vento da paisagem
devagar a face
despida do amanhã 

restaurada pelo
porta retrato

no ardor
da noite introvertida
você o perfil do tempo 
as memórias coberta de flores

nos búzios

o hábito de comer placentas
já não descobre os búzios - coração 
de boi sedento
olham - olhos 
de tartaruga encalhada
não sabem da veia aberta
dentro dessa máquina de perder medidas
nem o teu rival mais conhecido
vira o rosto enquanto a rua você vira 
toma o café da máquina de perder o gosto
de ontem 
você sabe - ou desconfia 
que já nasceu