quarta-feira, 26 de julho de 2023

26 JUN 2023

O arquivo é sempre um abismo absoluto, cego e sensível. Sempre que vou ao seu encontro, desencontro o meu objetivo primeiro. Hoje, por exemplo, tive a pretensão de reunir todos os diários do Foed em uma só pasta. Que ingenuidade, nessas horas eu concordo que meus olhos acariciam a paisagem. Quando me vi estava retirando grampos enferrujados de papéis, pilhas de ementas de simpósios de filosofia ministrados na UERJ, fiquei aflita quando vi aqueles ferros carcomidos manchando os documentos do meu poeta. Sou egoísta por declarar dessa forma que o poeta é meu. Mas trancado em caixas dentro de um museu, sinto que sou a sua amante. Cuido do seu acervo como uma mulher preserva a sua liberdade. Por detrás das folhas, diversos desenhos que o autor em suas horas ociosas de eventos criava, retratos de rostos avulsos, confusos, entediados. Eu me reconheci em um deles, com o rosto compenetrado e um cigarro aceso entre os lábios. Por que você não me escreve um poema? 

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