terça-feira, 6 de junho de 2023

Cartas a Sebastião

Caro Sebastião,

Estive ansiosa para folhear os teus álbuns de fotografias, memórias fotográficas. As imagens dizem sobre aquilo que o tempo paralisou no instante de um instante de luz. Assim como a escrita, as fotos possuem linguagem, uma forma de dizer silenciosa, escura. E esse silêncio se estende sobre nós. No seu arquivo eu só encontrei cinco fotos, quatro delas três por quatro. É irônico, você concorda comigo? Você se revelando em 4 fotos 3x4. Relembro das suas cartas trocadas com a sua irmã Célia, ela dizia que você devia se soltar mais, descontrair, sair e deixar de ser tão retraído. Olho para a única foto da tua infância, diferente das fotografadas na fase adulta, você carrega no rosto um meio sorriso. Abraçado ao braço esquerdo, aparentemente se agarra a um ramo de flores, na mão direita um objeto não identificado, que talvez fosse um brinquedo, não, é um terço. A roupa formal, branca, nos convida à cena dos bastidores do seu batizado. Ao fundo um quintal, vazio, só você posicionado no meio do quintal da infância. De pés alinhados, o menino posa para foto, e os seus olhos – o único canto que não se deslocou.

                                                                               

                                

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