segunda-feira, 4 de abril de 2022

baú de lágrimas

não há nada mais triste 
do que ver uma mãe arrumando baús 
com as roupas do filho 
que acabou de morrer 

não há nada mais triste
do que dobrar 
as mangas 
os filhos mortos 
os panos mortos 

não há nada mais triste
do que um guarda-roupas
sem roupas, desnudo 
imaginar a frieza do túmulo

uma lágrima molha a tua gola 
uma lágrima borra o teu gorro
uma lágrima veste o silêncio
que cobre o teu corpo 

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