segunda-feira, 2 de agosto de 2021

esquife

se há um medo que amordaço 
nos dias suados, áspero

nos dias envernizados 
é o da minha solidão 

as cobertas não encobre
-nos

ela dorme 
sem os olhos descansados 
com o sono dos que estão cômodos

há este medo que se ouve do outro lado
muda, corcunda, envolta em meus braços 

a lucidez me obriga
a chamá-la 
de minha 
ainda mais assim rente ao corpo 

as vezes ela decide 
sem abrir a boca 
engolir o mundo
-nós 

de uma só bocada 

eu procuro as pílulas, leio as bulas 
me interesso por quadrinhos 
e penso em esburacar as paredes 

penso em esperar que ela volte 
para o lugar estreito
e comprimido de sempre 

eu própria não regresso
eu própria arregalo a boca e nos devoro 

Um comentário:

  1. Essa lucidez é a imensidão de Cosmos, na tua voz e poesia.Teus olhos vêem o que tua alma sente e eu como gente confessa, amoisso.

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