quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

olhos de tempestade

A sacada da minha casa 
alagou de tanta chuva
tanta lágrima
Deixei a porta aberta 
as luzes do semáforo piscando
os carros que sobraram no asfalto
perambulam sem saber aonde ir 
porque o bar fechou antes das três

Um acidente aconteceu 
aqui na minha rua
nessa rua de pedras e mármore
o amor morreu
Passa o homem de terno azul 
com o chapéu todo molhado de seda
corre a moça com o vestido de chita
decorado com borboletas 
(sortudas borboletas encharcadas 
que colaram nos seios, pernas e barriga
dessa moça passageira) 

O rapaz de capa laranja 
passa cansado enquanto carrega 
os pingos de chumbo 
nos ombros 
e na cabeça
não reclama o dilúvio do céu
não abre o guarda-chuva
se tinha que guardá-la
que fosse em seus olhos

2014 

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