segunda-feira, 25 de junho de 2018

Escreva uma carta em estágio terminal

Cuidem da minha pequena. Minha menina, minha luz de brilho queimadura, bem devagarinho para não assustá-la. Dê-se à ela como quem deseja bom dia, no entanto de olhos descobertos. Quando vi seus olhinhos de sabor carícia, me tive inominável. Ache O nome para ela, e descubra infalível um desejo de existir no fio do óbito, e encare, se preciso, o inferno mitológico, e depois ofertório uma cama, líquido e calma, chegará a hora. Dela me afastei e dela eu só consigo mais perto de tudo, e me sinto muito distante, inexpressiva, enquanto escrevo uma carta desejo seus olhos imersos, submergindo as palavras, bem fundo, lá dentro, é que busco explicação. Causei-a e o mundo grita "Deixas-te às feras!'' Vociferados, iludidos pelo amor exposto, desprevenidos, os homens gritam um medo agudo, desses que inquietos e retornam a bradar, de eco. "Diagnosticaram muitas crianças" Essa dor de existir. E de gerar tão flor uma semente no quintal fervido do mundo, descalça, descanso sob o calor do meu suor. Minha menina. Tenho de ir e você sabe porque te deixo? Suporto o mundo deixando-te, ciente de que não caibo mais sequer em outro ventre, e deixo-te Vida, recorro ao que se pode ser repouso absoluto. Mas, cuida bem dos seus cachinhos, amolados por Deuses, poderia a natureza crescer tão mais absoluta? Faz tempo que eu queria dizer desse sentir agonia, e boto de dentro pra fora manifesto, desejo ruptura, desejo teus olhos encharcando o mundo de um sentir Viver. Sentir que não é meu, por isso recorro a você.

Com carícia,
cuidado com o mundo.

Mãe.

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