segunda-feira, 19 de setembro de 2016

ainda criança o vento se aliava
às corridas pelo bairro
crescido
tão agilmente
as pedrinhas por volta do parque
no centro da rua
criavam folia junto aos pés
que pouco firmavam estadia ao chão
tamanha era vontade do ser
tímida buscava um buraco
onde se esconder
fazia disso brincadeira
e me sentia muito inadequada
quando surgia à luz de olhos arregalados
que moravam dentro do que
se fazia em mim
tinha estórias pra contar enfim
alugava diário cor lilás sabia
só página vazia suportaria
tanta infância
me descobri sozinha
levava as mãos em suspense
até locais onde a pele frisava em eriço
tamanha ousadia
o corpo como trilha desfrutava
da curiosidade dos gestos
e se revelava
um país das maravilhas
como lia nos contos apanhados
na estante do meu pai
toda vez quis buscar estrela subindo
no banco da cozinha corria
subia
e não tem luz
antes ou no instante que narro estória
nem agora
mas a infância
permanece ainda aqui
no verso na astúcia dos dedos
pendurada no quadro na mesa da sala
em tudo que escrevo

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