domingo, 2 de abril de 2023

o mar ausente

me entristece, não de uma tristeza lúcida, 
embora ela seja visivelmente justa, 
que nos tenha sido arrancada 
a infância

encaixo-a (a infância, a tristeza) 
nos poemas dominicais, 
me encolho no ventre da tarde, 
penso com os meus lençóis 
que os Deuses
nos abandonaram no berço 
dentro de uma banheira sem fundo

Rosa especularia que o rio tem 
três margens, saibamos
afogando que o mar não está para os 
peixes como está para os cardumes

e que por mais que a gente se debata

é só através do choro (da lágrima, da tristeza)
e então nós nos afogamos 
com a delicadeza daqueles 
que supõe que lhes foi 
arrancada 
a única coisa

salva desta infância, 
onde nos teria sido permitido 
chorar sem os olhos, sem fundo 
o mar ausente de animais marinhos 

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