sábado, 16 de agosto de 2025

estamos neste suspiro a nascer 
do útero de uma flor

(pólen e pólen)
o coração enfeitará nossas pétalas

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

intransitável

eu tremo quando te escrevo,
eu tremo, te escrevo. 

a lua valsando em nuvens,
anúncios nos letreiros das bancas 
de que tu virias 

eu venho a ti, embora 

não se anuncie o ruído dos sinais,
ainda que vivas: 

trovão – inaudível 

no fim do expediente, 
um alarme infravermelho dentro 
de uma sala inócua no peito.

quarta-feira, 6 de agosto de 2025

Infinita, Marília R.C.

as minhas serpentes são divergentes.
os meus dentes, as mordidas,
os meus ascendentes; indecentes,
descendentes. e ela me instiga. 

os banhos são 
ágeis e quentes e 

no velório de Marília
vi o seu corpo incidente de mármore. 
não só a rima, ela
está aqui, na memória, 
                                [no sem fim, sepultado]
prescrito da estória. 

no balanço do pulso, as pérolas coincidem
com o brilho da noite. A noite. Marília. 

domingo, 13 de julho de 2025

A brilhar

você já teve a chance de se apaixonar

e acordar e continuar a sonhar, 

abrir os olhos e achar que está ainda a sonhar


você já teve a chance de escrever um poema 

e achar que perdeu a chance de chorar 

mas continuar a rodopiar no globo do olhar


quase que perco a chance de escrever um poema

estava a rodopiar no olhar a brilhar o globo 

da lua, dos óculos Ray-Ban na Úrsula estrela 


nessa noite o colírio do olho é o meu choro

sexta-feira, 27 de junho de 2025

asa em chamas

a ave de pedra e fogo delineia um 

lírio delicado na sombra do sol

entre os joelhos, 


revisito o sítio de vidro e vícios – 

           vinho escorrendo dos seios.

nós escorpiões no escuro 


convite para mais um cálice,

o poema de ruídos descalço 

dentro da noite no retrato 


pulso: vivo à sombra da memória pousada, 


a visão translúcida de uma asa 

Em chamas. 

quarta-feira, 25 de junho de 2025

O sangue

se você não existisse,
seria preciso poemá-lo. 

que distorçamos o nó da gravata 
até gravar uma ata:

"não vamos deixar que se 
enfoque sozinho no quarto" 

sintonizam pânico no circo
no som do carro,

do alto falante os cílios 
da bailarina soam
esmeraldas em transe, trânsito. 

a linha vermelha engarrafou,
o RJ atingiu os 15°C,

não há motivos para escrever 
um poema que seja paralelo. 

há fogo e ferro em tudo 
o que ainda, em sangue. 
o que não transamos. 


sexta-feira, 13 de junho de 2025

A pedra da loucura

Vou extrair meu amor
A pedra da loucura
Dizia Pizarnik com um poema nas mãos 

Vou extrair meu amor 
O poema louco
Que nas linhas das mãos eu te lanço