quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

autógrafo

beijo a lateral da assinatura
que você borrou o meu nome

naquela festa das luzes cor de gin

como se agachada tomasse 
a tua mão e me deleitasse 
de um único pedido

quer escrever a tua história comigo? 

terça-feira, 18 de novembro de 2025

volto a ti

o não-retorno


           ponto 
               ideal

o qual devíamos atingir

ponte sem retorno

me indaga porque o escolhi
não há mais voltas,
                      ele sabe.

por mais que tenha escapado.
esgueirei-me dos beijos,
ensaboada,
meu amante, amado, melhor amigo. 

meu monstro de rosto domesticado. 

face da paixão dispersa, poeta, sombra 
irreversível.

 — a minha ponte sem retorno. 

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

no adeus

estou a dois palmos de escapar
das tuas mãos

o céu recorda 
a cor dos abajures
sob a neblina da cortina

a leveza do teu sopro 
impaciente na quina do cóccix

palavras com brincos revelam
a crueldade da nossa despedida

no adeus, sequer viraremos as costas. 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

a primeira hora da solidão

na última noite da eternidade 
os meus cabelos colados ao vento,
como a crina de um cavalo indomado, 

você de terno de linho marrom
e a barba rubra pela luz vermelha
do albergue insone, 

os sons espetam como alfinetes 
as bordas dos corações e, dos olhos,
filetes de sombra decoram passos 

dentro de copos escorregadios
os líquidos, em brasa
ensaio o volume da minha mão
no pelo do teu rijo braço

reviso a hora, o fogo dentro da manhã
que adormecida se espreguiça. 
escapa-me da visão, 

seria aquela a primeira hora da solidão? 

terça-feira, 30 de setembro de 2025

sereia

ao fundo o azul azulando 
às margens a larga praia 
disforme: teu corpo de areia 

maresia. teus olhos. 
ternura espantosa 
disforme e rente ao mar 

moldura tuas jóias ouvidos brio
tesouro revestido pele e seda 
contornos: mãos e véus 

imaginava que não estivesse viva 
o mundo seria incapaz de erguer 
e sustentar os teus sonhos de núpcias 

pensei que havia morrido nas águas  
 
e me abraçava o sol e as ondas 
e me engolia o sal e as espumas 
e eu roçava nas conchas 
eu beijava os corais teus lábios