domingo, 30 de dezembro de 2018
Esta manhã nem mesmo as nuvens entre o sol podem pôr estas
saias.
Nem a mulher na ambulância
De coração vermelho a florescer assombrosamente através do
casaco –
Uma oferenda, uma oferenda de amor
Jamais pedida
Nenhum céu
Esmaiado e em chamas
Pondo a trabalhar o seu monóxido de carbono, nenhuns olhos
Estáticos, em sentido sob chapéus de coco.
Ó meu Deus, o que sou eu
Possam as últimas bocas gritar alto
Numa floresta de gelo, num amanhecer de centáureas.
sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996
aí
imagino quão difícil és que a barra está pesada
o pensamento acima das nuvens aonde o calor caminha
aqui seriam colhidos tomates e o adubo tua semente
teu verme remoendo as histórias
a balsa embarcada e o mar atravessado
imagino tuas mãos dormentes e teus pés ressecados
teu umbigo inchado teu cheiro mistura
acredito na química nos corpos na possibilidade
da gente correr daqui
de onde pra onde?
alguém perguntaria pois tudo corre
até essas palavras percorrendo
tua boca
sexta-feira, 28 de dezembro de 2018
escrevia
quando lhe falta amor corre aos poemas
e quando lhe sobra corre as manhãs
os ciganos lhe concederiam um cálice
de vinho em uma bandeja de prata
e as avós te diriam anedotas, as crianças,
essas continuariam brincando
teus dedos tem sabor de livro
o hálito desconheço teu hábito diário
tuas roupas despidas teu carvão na unha
do pouco que sei é muito pouco mas leio em teus olhos fugidios memórias póstumas
leio teu ombro e encontro o sol e encontro o céu nosso céu encostado
faz mais desse teu artifício incandescido pois a manhã tem renascido
quando lhe falte amor recorra
quinta-feira, 27 de dezembro de 2018
cherry
pontes safenas antes de nós
no banco ao lado da porta
mais uma poção de batata
para encher nossos vazios
mosca no vaso e sabão de coco
éramos descolados para a época
no passado podíamos
rir de boca aberta
e comer e dançar
como quem brinca
de ser grande e maior
na quinta feira podemos
ir ao parque
ir ao castelo
e ir onde quisermos
depois disso voltávamos para casa
as manhãs surgem antes de nós
os olhos atravessados
antes ter de ir ambora sozinha
mas antes disso as cabras dão leite
e o homem planta o que colhe
as moscas pousam e os ratos roem
antes de nós tinha eu e tem você
antes de mim sou eu
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
exageraaaado jogado aos teus pés
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
poema
que cedesse lugar
as premiações,
as cadeiras,
os vips,
as canções
aguardavam em algum lugar,
na ponta da mesa,
no ferro do poste,
no meio da cama
trocavam suas notas,
envernizavam os olhos,
pediam silêncio sem parar de falar
dizia-se que linguagem não dizia tudo
mas não diziam nada
além disso aguardavam o poema,
tinham esperança no poema
o poema e eu ficamos aguardando em silêncio
segunda-feira, 17 de dezembro de 2018
Vó aos 99 Alzheimer
através da melodia vou girando,
Mãe e Pai todos girando,
minha cabeça doída
temos dormido
eterna fantasia
a mente
esquecida...
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
Y
----- procurava meu nome nas
vem até mim
fica bem
Tangerina
Hoje sonhei que acordava
Assustada
Se afundava dentro das lentes
De águas cristalinas
Meu bem fazia poesia
Cheirando a rosa tangerina
Cheirando a flor menina
Sonhei que me acordava
A meia luz que a noite estava
Seria sonho menina?
Quando acordei
Fui acordada
Por flor de cheiro menina
domingo, 9 de dezembro de 2018
puta que me pariu
eu to cansada dos poetas
e eu achava que não era
que não seria um deles
mas eu também to nessa
de saco cheio dos poetas
e eu que tenho útero
de saco cheio dos poetas
de suas falas piegas
de um jeito de recitar
como quem se declara
uma nova era
os antigos e novos poetas
tudo ultrapassado
tudo adiantado
é tudo poesia pra caralho, buceta
enquanto estive perdida achava ter encontrado algum resquício de companhia
a gente se esbarrando
poesia surgindo,
de bandeja,
escorrendo de algum lugar
soturno entre nós
não existimos,
que sou eu falando por você
e me pergunta de novo
algo que eu não disse
engole e vomita sangue,
diz que não gosta de mim
e de você?
eu me pergunto se gostaria
nem a mim,
de sonho lindo
sabemos que o próximo bar
é mais um pesadelo,
nós sabemos sequer existimos
mas você insiste em dizer
que eu não disse nada
e ainda faz perguntas
você é aquele porre
você é acordar e sentir
que o mundo não está seguro
terça-feira, 27 de novembro de 2018
transa
de te procurar
procuro um livro?
e eu que não sei qual título
delegaria ao trama
e qual capa serviria
pra te parar
na esquina
voltando do trabalho
seguindo o olhar
você segurando um cigarro
em dois dedos
e me olhando
como quem pergunta
por que veio?
não sei o que respondo
então me deixo voltar
os olhos as páginas
lambo o dedo
viro a esquina
me faço de desentendida
mas a verdade
é que falta entender muito
por exemplo
porque você se faz
de desentendido?
segunda-feira, 26 de novembro de 2018
99.
Memória, bagagem, crochê, a senhora e eu no balanço.Vó eu vou te escrever mais legível para que me lembre, depois. Parece que nos
es
que
ce
mos. hoje ainda fiz uma foto lembrando do paraíso e do futebol; e tu que navegava distante? vó teu grito. Teu silêncio. Escuta,
sua neta veio beijar você. Sim, sua neta, minha filha. Pele e pele e mais pele...
Lembrarei de sentir saudade,
terça-feira, 20 de novembro de 2018
estranho seria se eu nao me apaixonasse por teu tudo, tudo pintura, teu céu mercuriado, teu jeito de sorrir enquanto nao sei se chora ou se sorri mas a mim soa uma felicidade indiscreta, obscena. teu vão entre as pernas e as palavras, tua parole infinitiva, teu suor petrificado, teu significantismo.
segunda-feira, 12 de novembro de 2018
Travesso
eu que nunca mais vou dormir
você nascendo na década de 80
mas você sabe que eu seria incapaz
sábado, 10 de novembro de 2018
quarta-feira, 7 de novembro de 2018
De volta aconchego entrada
segunda-feira, 5 de novembro de 2018
gratidão
por mais que escreva poesia ainda sou tímida o bastante para verbalizar meus sentimentos, mas sou muito grata por tudo e por nada. gratidão, sinto muito.
terça-feira, 30 de outubro de 2018
acalmante
de tua publicação,
sei que os rumos desse país
tem nos deixado orfãos
desamparados
provavelmente teus poemas
estejam ocupados em gritos
urros
inalgurando um novo
sistema ou politicagem,
veja meu bem,
escute pois te digo
só amor e arte estejam
comandando os papéis
nos vejo próximos nesse instante
mas ainda assim quando me vejo
a espreita do mundo
e dos olhos estupefados
tento recorrer aos poemas
e os reli tanto
que soam automáticos
quereria algo inédito assim
como são os teus poemas
agindo sob meu corpo
um antiinflamatorio pois,
acredito que não seja novidade,
estou inflada
é só um processo
de dores internas
me esmagando contra a cama,
e quando abro os olhos
depois de ter dormido dias e dias,
estou a espreita da tua poesia
servindo-me
dizendo
tire-me
dessa anestesia.
segunda-feira, 29 de outubro de 2018
CU
e cheiro a pontinha
dos dedos
e sinto um aroma
adocicado
isso ela me disse
meio tímida
quando me provou
inteiriça
de incertezas
lambuzada
adequada
às menções
entre-abertas
acho que amanhã
se não
por acaso
acordar
pior será
mesmo
mas será
mesmo?
poema
faço
cocô
olho
meu
rosto
transtornada
uma galera armada
decide bater panela
soltando fogos da janela
assim como se descobre
um novo paladar
em uma coisa antiga
chamar
de revolta
quarta-feira, 17 de outubro de 2018
aponta
nos calece
de vinho
ate o dia raiar
abrindo a boca
engasgando o mundo
da garganta suar
de tanta mania
de assistir
o mundo manifestar
o tempo
lembraremos mais
e falaremos mais
e mais ainda ânsia
o mundo manifestar
mas vejo la na frente
o sistema nos comendo
dos vestígios
das sobras
há indícios
há de recomeçar
a ponta
dessa estória
o mundo manifestar
domingo, 7 de outubro de 2018
a solidez das palavras
nessas impávadas horas amenas
esquivo-me da politicagem
de
repente
de 4 em 4 horas
talvez por dentro
da casa
a gente se esqueça
do mundo
chovendo e enviando notícias
sei do sangue
estagnado
que corro
que talvez
sejamos memória
e devagar o apagamento
de algumas coisas que achávamos ser
o que nos é
não permanece
somente
em nós
só se compõe também
quando estamos no outro
dormi durante 2 dias
sozinho
sei não estar
ainda acordo
mais acompanhado
desses pedaços de mundo
sei que nos
encontramos
na rua
fumando um cigarro
a boca cheia de poesia à vapor
as palavras
ouvia
soavam
qualquer banalidade do dia
mas ali não estávamos ausentes
nem um nem outro
e todos
juntos
ao mundo
girando como se gira
de um modo tão ameno quanto
essa noite
descobri que banal
era não estar
sozinho
pensando
entre nós a poesia
ainda somos solidão até nas palavras
sexta-feira, 5 de outubro de 2018
À
se por hora estamos
a base de um reprise
(Ààà)
dentro de um enredo
de um filme brasileiro
estamos a cores
(Ààà)
posso até calcular a dimensão
da íris tocando a boca
(Ààà)
e a resposta vejo que trafega
no trago de outro cigarro
se por conta da ficção
talvez na pior
parte da história
(Ààà)
feito heróis
possamos nos salvar
(Ààà)
feito se não existisse espaço
para a cautela do tempo
(Ààà)
à. teu repertório
puramente coexiste
assisto mais uma vez
o evaporar das horas
*a a. ao tudo e a
quinta-feira, 4 de outubro de 2018
Lévi-strass
Nao sei se me esvaziei
Se foi por deslize
Mas quando virou-me nos olhos
E mostrou-se esdrúxulo
Posso descrever teu ritmo e a batida que faz te ouvir
Posso te sentir como miragem ao beber a àgua
Estamos em reprise
Não sei se foi o gosto pelas cartas
Mas gosto de repetir João
E desse gosto deslizando pela boca dizendo de um pedaço do mundo erguido na boca
Foi assim que descobri que o silêncio era mais sensível ao que dizia
E que o sabor da àgua João escorria
quarta-feira, 26 de setembro de 2018
olho pro mundo e o mundo me olha em silêncio
domingo, 23 de setembro de 2018
e de um sonho
me toco dormente
averiguo certamente
simbólica
parte
dessa identidade
vai se recompondo
depois de um sonho
talvez ainda esteja em mim
talvez estejamos nele
talvez não estivesse
mas parte disso
faz parte do meu sonho
fio de pipa
certa vez fui brincar
e acabei crescendo
por partes
eu acho
porque as vezes digo
e quem ouve ainda
ri como na infância
então sou eu permanecendo
acordada?
estou em mim assim
reconheço ser meu o corpo
meu sono
desse jeito as coisas
tangíveis e bem simples
é quando me encontro
ou acho que
não sei
mas sabe? sabe-se lá
nos encontramos
sábado, 22 de setembro de 2018
sonhei com a aula de português
explicava de repente o livro de língua
que é a junção de palavras
fui aos adjetivos então
pois eles davam uma característica
tentei pensar no dia
para encontrar exemplos bem simples
devia ser então acordar com sono
escrever a poesia luz do sol
e estudar por emoção
De antemão
sonhar com alegria
sabia que podia modificar as palavras
pois tinha visto no livro de páginas
que através dos advérbios
era simples mudar as circunstâncias
de tempo; -
de modo; -
de quantidade; -
de afirmação; -
de negação; -
de dúvida; -
de intensidade; -
de causa; -
e de lugar -
fui desvendar
a locução que dizia
que eu devia acordar
quanto ao tempo
isso aconteceria alguma hora
de um jeito bem cedo
eu ouvisse uma voz de verdade
por completo sem voz
de que estaria sem dúvida
e que estaria de jeito nenhum
tão em um sonho quem sabe
em um sonho por demais
e acordo
e troco de lugar:
com mistério deito a cabeça de sonho
e descubro dormitar
ser/estar
somos
devagar
fui vagando devagarzinho
vagarosamente
vaguei
eu tô perdida
+ acho que tudo bem
estar de mal
isso não passa
de um estado de carinho
por nosso estado
por onde fomos?
as vezes eu gostaria
do meu modo de brincar
e das rosas de amor
e as vezes sou
por vezes somos
de manhã
que a gente as vezes sente e de verdade
a vida vai ensinando bem rápido
as delicadezas de um jeito bem devagar
por inteiro a vida de carinho
de brincar e de dormir
a vida sem dúvida ensina por alto
de frente de esperta
a vida nos pergunta
como?
a gente se pergunta
e quando descoberto
de descuido
nos encobre devagar de noite
a vida diz que recomeço
e de novo de manha a gente acorda
sexta-feira, 21 de setembro de 2018
disserse
o mundo é inseguro
você se vê no escuro
e acha que ninguém te enxerga
você vai colher plantas
você vai sorrir sem saber
tendo certeza
absolutamente
de tudo e nada
ao mesmo tempo
e vai chegar a hora
que achará melhor dormir
mas não vai encontrar lugar
que chame de repouso
vai insistir
até dizer chega
e quando chegar a hora
vai desistir
mas vai insistir
de novo
isso é o de mais sutil em você
desvia e vira olhos para ver
terça-feira, 18 de setembro de 2018
Imensa
segunda-feira, 17 de setembro de 2018
alagoas
do mesmo modo se banha
a eternidade deste agreste
em teu busto;
o mofo e o limbo
preposicionados o bafo do dia
amparados nossos perfis
transgênicos;
talvez seja deste modo
que a tempestade anuncie ventos
de palha e areia;
tenhamos talvez na incerteza
das interlocuçoes
suspendido o diafragma
e engolido poemas;
tragicômicoss
desenfreados;
e no percurso
o cisto recai ao parabrisa
e a gente se lembre de estacionar;
deste lado do agreste alagado
na beira do olhar;
sábado, 15 de setembro de 2018
Fernanda
ainda que todos os poemas te falem de Sol ou da manhã,
e se delonguem
voce descobriria que novamente o sol falará sob ti
e por viver sob o Sol
teu rosto largo se alogando num sorriso e se os poemas o Sol e a manhã são por tu metáforas
quanto a ti poderia criar todas as abstrações possíveis
se fosses Alice,
Clarisse, e A maior mulher do mundo,
ainda serias Fernanda acordando o Sol ao sorrir longamente
delirando de Sol amanhã
terça-feira, 11 de setembro de 2018
teu poema de saudade que me chama?
portando um sorriso 33mm
próximo à terça da paixão.
quando do alto a gente
estendia os braços!!
e seguia vagalumes,
o vermelho das caras
estampavam as cores do bairro,
era alvoroçada tal fugacidade
desnaturada de cavalos-marinhos...
já fora tarde para dizer que esquecera,
os poemas prendidos na língua,
recitava como quem descrevia
um quadro largo na mesa do jantar.
dizia da languidez do vulcão
que parecia ferver por debaixo
dos panos mastigados,
parecia sorrir sem hora precisa
como um gatilho.
e me mostrou com os dedos
o mapa escondido bem
na bordinha do céu,
desaguavam estrelinhas...
sinto uma grandeza de narrar
esse encontro/essa chegada
pois descobrira coisas
encolhidas no verso que fazia
ao estirar a boca.
como navega em si
e jamais retorna
que às vezes o bonde é transporte
de saudade,
que o gosto gelado de inverno
queima a oleosidade dos cabelos,
que o mundo...
ainda descobriria
retornaria como quem envia
uma carta às pressas,
anunciara chegada.
ao certo, sei quem és,
mas certamente só através da experiência
e há de se saber que por experiência
decerto não sei. quem és?
segunda-feira, 10 de setembro de 2018
límpida
sinto teu sabor banho de lágrima na memória respirando em minha boca,
quando me disse do cheiro de cigarro impregnado na despedida, quis dizer que teu cheiro não era a fumaça que deixava no quarto pela janela trancada,
quis te dar um trago, mas fui embora pelas 7 a fim de nao te acordar com minha tosse,
temo demais ser a confusão em tua cama, e que teu cheiro se confunda com meus olhos,
e gosto desse sabor aguado de fluidez quando a gente se esbarra, ou quando teu ronco delicado me faz sorrir,
e se disser que sorrio é porque no teu colo me banho de calor do corpo sentindo, e se disser o que sinto estaria entregando o porquê de chorar junto ao teu cheiro,
domingo, 26 de agosto de 2018
Foed as Chammas no céu, tua assinatura lambendo o papel
Descubro as pastas, divido o mistério entre aquilo que era seu e aquilo que te deram, e muitos escreveram a ti, as cartas, dizia delas e as guardava? Não sei se foram todas, Mas as encontrei na pasta azul de elástico frouxo
Até que um tanto esotérico, e que fazia magia com as palavras. Era possível que te encontrasse só depois mas te achei no exato momento de abrir teus passos/passado/que nunca vivi, Mas pude reviver
segunda-feira, 20 de agosto de 2018
neopósultracontemplativa
uma gota de vácuo me invade com a delicadeza de uma transmissão de rádio
sintonizo as tantas vezes
que me peguei
de repente
alheia
à toda imagem
à luz do instante
recordo minha face
nesses instantes
raramente recordo
quem fui
e corro ao espelho
reconhecer
uma nova versão
amiúde
meu sintoma
desaprendo
a existir
existo
e isso não anula o fato
de reprisar a morte
e acho que é puramente pelo fato
da existência se opor à
há vezes a gente confundindo a dor das gazes com o vazio intermitente
e quando soa o ronco de volta
à sobriedade
lançamos copos e dardos
assim inconformados
que chegue alguma hora
somente indício
à realidade
isso não anula o fato
de contemplar serena
desapontada
meu retumbante estado
instaurado no verso de agora
o seguir das horas líquidas
[Bauman diria que é estado de permanência
mas sou eu mesma que estou dizendo]
enquanto escrevo
esse poema
de memória
penso talvez
tenha pensado escrever
sobre os litros do boteco
d'aguardente
convocada
pelo mundo
gritando
estar cheio
e eu encharcada
literalmente
Por Terra
ainda bem que depois da chuva o céu abre infinito.
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
Gosto
Gosto
Gosto do teu jeito de fazer poesia
Da poesia em tu
Gosto do teu cabelo leãozinho
sob o Sol ou sob o teto colorido
Ainda gosto mais quando vejo a poesia tua boca
dizendo cores que não sei são quentes/frias
não sei dizer o que gosto mais
Mas gosto da poesia em ti
Toda hora do poema bom ao ruim
mesmo sabendo que tua poesia é boa
e eu sei lá de poesia ruim
mas quando falo de você
é tão bom quanto poesia boa
E te escrevo um poema espero estar bem
pra dizer que bom te ler e te ouvir e te descobrir na poesia
Todas as cores de um poema pro fim da tarde
de todos os gostos
tua poesia letárgica
enquanto o Sol a gente sabe se lá onde nasce o Sol
Mas todo dia a poesia quente e fria e tua boca adormecida
falando poema como quem descobre uma nova cor
Gosto do seu tom que rima
Gosto da métrica descobrindo espaço
Seu lugar no mundo
o poema teu gesto
gosto desse poema
teu feito pra ti por tu
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Mas o jeito como se espreguiça por o sol dentro do Mar espelhado neles
O modo como vanguarda o jeito da rua, e os monumentos, o jeito de achar lugar Onde há?
Não são teus olhos só
Mas vendo-os oblíquos à estrada vejo que perdida é um sentido muito diferente do que se vê
Então se pergunto Onde? Olha só você diz
[Procuro lugar Onde não seja apenas teus olhos]
Ainda quero morrer de amor
Entro, os olhos, na janela
Espantei as muriçocas
com a fumaça
viajei viajando
Ainda danço
qualquer coisa
e ouço
Vi coisas que não tinha visto
Despi
Banhei
Tem dessas fumaças de energia
Tem muita coisa bonita
e o mundo
Tem dessas peculiaridades
domingo, 12 de agosto de 2018
Luar crescente
feito se por descuido
descobrir minhas mãos
das luvas, apontando à teu coração
e se digo que ousas pensar
em atrever as mangas
colheríamos as doces
no quintal do silêncio precioso,
daríamos um carinho na pantera,
e as mãos carícias, dadas
que sequer descobrimos,
adoraria ver a cor do teu semblante
quando provasse as palavras
escorrendo dos cantos,
das orações, as mãos unidas
no alto de uma rocha vermelha
você adoraria o tom da tarde
quando formos embora depois
da primavera atordoada,
assim, desde que você ousasse
desnivelar a altura das realidades,
estaríamos de mãos nuas
acenando à Lua se pondo
dentro dos corações
sexta-feira, 10 de agosto de 2018
Tartarugas Ninjas
E daí caia no poético. Acho que queriam que eu falasse científico, agisse concreta, corresse de algo, e eu ali afundando.
Mas sinto o corpo meditar, flutuando; digo afundo porque é lá que nós estamos.
"os heróis do boiero" depois vamos falar sobre as tartarugas ninjas. Pesquiso a profundeza do teu olhar
Poesia.
sexta-feira, 3 de agosto de 2018
Indefinível
Por dentro dos braços
Talvez por medo que corresse
Mais pra dentro
Talvez dessa confusão
Da gente metido
Lá dentro
Sonhei que esquecia de beijar
Com a boca
Para provar teu sonho indefinido
E que riscava com os dedos
A ponta dos cabelos encarnados
Como se fosse um fósforo
Prestes a incendiar teus braços
Que me seguravam por dentro
E queriria de sonhares espremida
Viver de teus braços firmes
E pediria mais um minuto de sonho
Talvez fosse possível correr
Mais pra dentro
Se não fosse o calor da manhã
Espelhada em teu bom dia
Me lançando pra fora da cama
sábado, 28 de julho de 2018
Pensei te ler
Amanhã
Foi quando senti o coração pulsando de um modo muito alvoroçado, de um jeito incrível de ser vivo.
Reli as cartas, fui muito direta com o carteiro e sinto que viajei, de um modo muito lírico; como é incrível descobrir o amor nas palavras, e olha que achei ter encontrado
Acabamos sem continuar as consultas, foi tarde pra dizer que esquecia, é quando a gente olha no olho e precisa deitar pra começar a dizer
Faz muito calor, redescobri quando o calor veio mais tarde, é feito quando o destino faz calor no corpo
Faz alguns dias pra viajar de novo, viajar de avião, vai fazer calor na cidade então, gostaria de escrever mais sobre isso adiante
quinta-feira, 26 de julho de 2018
sinto muito
em sua ausência é como se eu me sentisse
uma parede pasma de um lugar vazio
um arquivo deteriorado na prateleira
a falta da sua presença
me atordoa nuvens
chorando por escassez de água
ausência de sol
quem sabe te conheça puramente só na poesia
e seu nome não seja do poeta anônimo
o descuido da sua rotina me instiga depressa
o descaso dos seus olhos me desgasta à beça
sem você sou só pouco menos do que gostaria
um pouco mais ansiosa
sem esse amor eu não sinto
[2014]
Morrer afogado em teus lábios de baunilha
[2014]
Outra carta para você, Carteiro
em meio aos dedos em brasa
descartável dentro do cinzeiro
sobrecarregado de alheios amores
a cada olhar malícia
cartas guardadas
contarei aos seus vizinhos
e vou socar a sua porta
e assinar o seu nome
e picharei na quina dos correios
assim eu vejo se você me nota
ao entregar as cartas
[2013]
quarta-feira, 25 de julho de 2018
Faz dias que eu não meço as horas, estou aguardando teu sonho chegar. Te escrevo enquanto te miro os olhos largados, desde que te vejo que é motivo para contar uma história. Essa é sua, por mais que em algum momento tenha de desviar, será seu corpo deitado sob as palavras.
Foi quando lembrei do teu grito, nunca tinha visto igual desespero igual o teu, então fiquei paralisada de temer que te acontecesse o grito por dentro maior, tremi de deixar escorrer água, foi então que constatei, pois já descobrira desde muito nova, que tu era força maior do que a voz. E tua voz alcançava muros, corpos, avenidas e até o coração sentia que pulsava mais quando ouvia teu tom, era de parar multidões, e levantar também.
Deito à tua cama como quem alcança a paz. Sorrateira descubro um canto para aconchegar o meu corpo, não nos permito a distancia por puro carinho, e descubro sentir quentura por tua presença, procuro dormir mas te ouço contar histórias. Sei da tua chegada, mas quando durmo sob teus pés, acredito que nunca partirá de mim. É desse lugar, mais seu do que meu, que eu gosto de chamar de amor. Amor simples, feito fazer arroz lavado, mas imagina por tuas mãos.
Sei do teu sonho alcançado. Sei da tua chegada. Quando a gente juntou as mãos no terraço soube que teu sono era bondoso com teu mundo, naquele momento quis fechar os olhos e sonhar também, para sempre.
E o que a gente faz quando fica partido? Muitas coisas ficaram, mas e as outra? E o que são essas coisas que ficam na gente, e o que são as outras, não sei mas porque sinto mais que muito se fragmentou e não sei se partiu ou ficou, agora eu só sinto que sou parte dessa história.
Lembro do seu cabelo da cor de uma Lua cheia, de como você dança sorrindo com tudo, do teu traço no meu vestido eu tenho a cor a sua medida, até onde nós vamos, você nos pergunta, e eu diria juntas.
2.
olha só que coisa linda essa calma do cachorro
de dentro, botei Renaissance pra tocar, peguei as poesias juntinhas à psicologia e educação
depois foi a hora do suspense, e depois do romance, só mais algumas coisas
que a gente não deixa de ter, tipo aquela velha história
Jasmim queimando, poeira pra todo lado, Pierre querendo a cama vazia, onde
vou enfiar isso?
depois que a gente começa não quer mais parar, deixa essa pilha de autor aqui
quiçá a gente se lê no escuro também, assim de fora
água gelada, tem que subir o cachorro, tem que abrir as cortinas, tem que sei
lá
quero dormir, assim desse jeito, quero deitar sob os livros
tenho que mudar algumas coisas de lugar, decidi, depois eu que não tenho
jeito,
olha só que coisa linda essa calma do cachorro
tem tanta coisas que preciso decidir mudar e decido o lugar: aqui dentro
Dorme, meu filho
pois a sombra
é somente o encosto
deleitada sob
erguerá taças,
irá segurar o rosto
mas que serão gigantes
que te perturba
a solidão não será
mais somente tua
mas de um desconhecido
perceberá estar vencido
talvez pelo ego
talvez pelo gosto agridoce
amanhã a gente sabe que virá
ontem você sabe que já foi
agora tens o sonho de um menino
segunda-feira, 23 de julho de 2018
mas foi na praia de saquarema que contemplei uma luarada azul, bem azul luzidia. a luz dos olhos e chuva. faz sol, sei queimar, sinto tudo bem quente e azul tarde.
votos contados as horas, kilo de feijão, e enquanto isso tudo azul feito lua da praia chuvisco. quando os franceses disseram l'amor, amor acontecia no litoral brasileiro, e os portugueses diziam navegar enquanto afundavam as terras, faz tempo que me sinto colonia e cheirosa.
faz dias que os votos se acumulam e anulam meu peso no mundo. como é tarde e vem a lua de chuva me tocar.
quinta-feira, 19 de julho de 2018
Vá minha tristeza
mas estou tranquila.
Busco sentido e palavras enquanto escrevo. Estou ouço Fafá de Belém na rádio da TV, vi a batalha dos confeiteiros, uns bolos bonitos na vitrine, dei bolo a todo mundo um pouco sorrindo.
Fumei uns cigarros, de rotina, esfreguei os cabelos nas palmas umas 1000 vezes. Banal, entrei no ônibus duas vezes, na primeira a roleta me prensou e encontrei um companheiro da Livraria e tive timbre pra contar do meu presente? Fixação. Tem coisa que eu não consigo prever, e é isso mesmo…
Mais uma vez eu quetendosabendoporqur
Faz tempo que o tempo passa
Chega de saudade
Girassol da cor da Lua
Descobri a parreira da flor de uva
O silêncio do vizinho
Da forma como a fumaça gira
Deixa a gente girar
Mas é que eu tô perguntando
E agora
Escrevendo poemas
Quero dormir
Cor do Girassol Solidão
Feito amar a cor do girassol solitário, as razões de amar sem nitidez, mas tem lá no fundo um quê, enquanto a gente compra pai os sonhos passam, a verdade é que os loucos dizem de uma realidade ainda desconhecida, é por essas e outras que deito na praça aguardando vagar
Me leve pra fora de mim, às bossas antigas, vida ultrapassada, tem uma chama que escuta nosso choro, e faz amarelo no canto do olho, e faz sentido a gente partir
A poesia nos engole
Tua poesia me habita
Sei da tua sede e do amor pelo campo
E a cidade nos engolindo
Amo teus versos
Assim como ama o vento
E as batatas da terra
Se me perguntar por onde andei
Sigo lento teus versos
Trocando papéis
Desesperada dentro da cidade
Nos engolindo
No vento do gás vento, dentro torneira sem água, no teu coração o sentimento do mundo
Foi assim que descobri no teu poema um pedaço perdido de terra
Nos engole
sexta-feira, 13 de julho de 2018
e tocar olhares, desviar do tráfego de mutirões,
se descubro a solidão da poesia
constrangida e muda?
é que desde nascida
que me sinto vulcanizada a pronunciar
qualquer trivialidade
quem sabe uma hora ou outra
debatesse com um Cala-te a Boca!
mas é que não me calo
porque sinto os pés movidos,
os olhares dizendo coisas que boca
alguma é capaz de declarar,
e as buzinas acenando chegou a hora
de acordar
feito se for preciso falar/
é que como poderei caminhar
por esse destino de inquietação
se por existir a vontade clamar
de arrebentar o silêncio dessa vastidão
Bebendo uma latinha, um cigarrinho, uma musiquinha, uma caminha, um lencolzinho, um ventinho,
Que não me entenda que te escrevo uma carta, porque certamente não enviarei e porque parei com as cartas
Eu disse: basta !
Quero dormir. Chega de sonho.
Você dizia das coisas bonitas com as palavras, das unhas, dos cabelos e de mais algumas coisa mas eram três que você falava e negava o que não era você:
“Duas cabines telefônicas na chuva”
Algo assim
Não quero colocar pontos no final
as palavras o tempo teu líquido
que não escrevia
com essa vontade
de fazer amor
Você falando
sobre as horas e
os segundos
do tempo
que não a via
Fazia tempo
que retornei ao hábito
de escrever
sobre uma solidão
como se fosse companhia
E dai criei você no romance.
Talvez de alguma par
te do seu corpo
Seu corpo
Que beleza
Quero surtar
quando seu suor provar
Não disse de onde escorre
bolinho-de-chuva
mas tô com vontade de rezar quando dizia que era Deus quem abençoe mas sem saber quem era deus quem era eu Quem
receio reler tudo e ver como está mudar as coisas mesmas de lugar dessa poesia é isso, a poesia tem me livrado e eu danço com ela como se fosse o açúcar doce as mãos de mãe
todo dia o dia não tem pressa, eu feito um cavalo em cima de mim e as vezes dou rédea pra você pra mim por nós vivo inconstante, ao passo da minha ânsia desmedida enfrento montanhas e valas
as chuvas e os bolinhos dão o traço bom que tempo algum é capaz de desfazer, o cheiro de mãe, a roupa pingando nos olhos no varal, teu cheiro de gás é um pouco de tudo o que me faz mover
as fotos e canções o bule chorando minha vez de fritar as impressões estão em cima dos móveis dos muros é possível ouvir tua voz repetida de Quem foge?
as vezes eu desisto de poesia e desisto de mim de nós mas surge um novo dia sem pressa eu assino embaixo e gostaria de ficar Quem seja com o gosto da nostalgia tua desse bolo molhado de chuva
domingo, 8 de julho de 2018
A beleza de reconhecê-lo
terça-feira, 26 de junho de 2018
aquela história mal contada dizendo de novo
conduzia o fumo e os porres
de tanto dizer
dizia umas coisas
sem sentido,
sabe?
mas não deixava palavras pra trás
era na ponta da língua umas verdades
e se diziam
louca
dessa loucura de dizer além
como se é verdade ficção
desejo infinito
do blues
e sobreviver
além da vida,
sabe?
desse ardido de abrir os olhos
até as roupas amassado
o cheirurgindo
da fonte do crânio
uma vontade
de cantar falácias
como se amanhã
é mentira
até o tempo passa e a gente
sabe-se lá tem tempo de explicar
outra estrela nasce desprevenida,
desde quando decidimos pensar além de nós?
árvores gigantescas palavras tudo entorno,
tudo fazendo ar no pulmão, e vento no rosto
parece que de algum jeito a gente se perde
e de alguma maneira a gente se safa
deitada na seda, o mundo inteiro articulando,
a princípio pensei ser brincadeira
e me deparo com uma pistola na boca
mal saberia dizer o nome do medo
mas sinto que me deparo com a boca calada
cinzas e cinzeiros, canos e balas,
parece que tá perdido
enquanto brinca no labirinto
tem boca que diz mistérios do mundo
tem boca que cala
segunda-feira, 25 de junho de 2018
Cuidem da minha pequena. Minha menina, minha luz de brilho queimadura, bem devagarinho para não assustá-la. Dê-se à ela como quem deseja bom dia, no entanto de olhos descobertos. Quando vi seus olhinhos de sabor carícia, me tive inominável. Ache O nome para ela, e descubra infalível um desejo de existir no fio do óbito, e encare, se preciso, o inferno mitológico, e depois ofertório uma cama, líquido e calma, chegará a hora. Dela me afastei e dela eu só consigo mais perto de tudo, e me sinto muito distante, inexpressiva, enquanto escrevo uma carta desejo seus olhos imersos, submergindo as palavras, bem fundo, lá dentro, é que busco explicação. Causei-a e o mundo grita "Deixas-te às feras!'' Vociferados, iludidos pelo amor exposto, desprevenidos, os homens gritam um medo agudo, desses que inquietos e retornam a bradar, de eco. "Diagnosticaram muitas crianças" Essa dor de existir. E de gerar tão flor uma semente no quintal fervido do mundo, descalça, descanso sob o calor do meu suor. Minha menina. Tenho de ir e você sabe porque te deixo? Suporto o mundo deixando-te, ciente de que não caibo mais sequer em outro ventre, e deixo-te Vida, recorro ao que se pode ser repouso absoluto. Mas, cuida bem dos seus cachinhos, amolados por Deuses, poderia a natureza crescer tão mais absoluta? Faz tempo que eu queria dizer desse sentir agonia, e boto de dentro pra fora manifesto, desejo ruptura, desejo teus olhos encharcando o mundo de um sentir Viver. Sentir que não é meu, por isso recorro a você.
Com carícia,
cuidado com o mundo.
Mãe.
Intento
para reconhecer teu sim
teu som e tuas cordas
sintonizo
teu cantar soando
beiro o abismo surdo
tua boca infalível
muda vocábula
retorno a ti vibrando
beiro tua chegada
feito rompante céu calado
descubro tuas notas cordiais
assim como se desvenda atentado
revivo suave ardor
dos sintomas voz sensível
quando geme sobre o mundo
calando o pranto
lamento teu coro
voz tremenda
entregue ao mundo despreparado
voz atenta
(...)
fomos induzidos a dizer
(...)
Faz tempo que digo
e me sinto dizendo de novo
(...)
Fomos induzidos a isso
(...)
Tarde agora mas sinto
por hora
é isso
resolvi dizer essas palavras
como se fosse dizer alguma coisa
isso enquanto digo
(...)
Faz tempo contar uma história
estou escrevendo uma carta
se não puderem mais me ouvir
(...)
Digo que achava estar procurando
e achei ter encontrado
pensei ter visto
mas é que as palavras
(...)
Inominável
Trova
Havia um sentir em nome de todas as palavras que jogávamos na mesa, e quando o Sol secava era de guela chuvosa a tempestade que caía por nós
Assim como trovoada de anúncio tua chegada, a tormenta da noite em torpor acima da nuca. Penso se tu sobre o céu aberto, reparou no curso da estrela Vermelha, assim como rompante teu
Mudo de lugar, transporto nossas emoções, levo uma bagagem e teu sintoma
domingo, 17 de junho de 2018
Do Sól
Meu corpo
Tem uma coisa que incendeia os rostos
A música nunca cessa
Parapará
Tem alguma coisa aqui dentro
Oh meu bem
Tem dessas coisas
Enviar um beijo selando notícia
Envio teu nome
Quanta coisa guardada
Lua
terça-feira, 5 de junho de 2018
Mosqueteiro
Passei pelo espaço aberto do vidro colado ao mogno envernizado, o ambiente era de todo escurecido, exceto por uma luz que iluminava por gentileza os rostos dos românticos. Era um rapaz, estava ereto no canto, sentado; a dama, espojada, de bons modos, em uma cadeira, não parecia estar mal acomodada, talvez pelo modo como se espreguiçava confortável. De aparência, estavam cultivando o sono embutido no descansar dos olhos, ele, descansava nas feições do rosto dela; ela, nos próprios papéis de parede.
segunda-feira, 4 de junho de 2018
Erva
Sussurra algo lá fora
A vizinhança dormindo mas um som
De ouvido grudado na janela
Não estamos sozinhas
Então você escapa pelo buraco
E deixa o cheiro por todo lugar
Proibiram nosso amor
Algo lá fora reclamando
Do nosso perfume
E a gente sorrindo
De suor e cabeceira na cama
terça-feira, 29 de maio de 2018
Imagino que sejas
lembrei de quando sorrimos distraídos
parecia beijo entrecortado
a gente parou e pensei no quanto
a gente é um pouco triste por sorrir assim
e senti alegria, sei de tua alegria
Imagino que sejas um sonho,
quando a gente se leu no escuro
só com o tom da voz ouvi teu medo
e tive medo de ficar em silêncio
mas nós ficamos o tempo todo
Imagino que sejas um sonho,
quando vi teu olho fazendo ternura
pensei que a mim sobrava o mel
derramado da boca do mundo
então de paraíso tenho o gosto
que pensei ter provado
Imagino que sejas um sonho,
quando te esbarro e quando
pergunto sobre a manifestação de hoje
é preferência por teu gesto
e torcer o rumo
Imagino que sejas um sonho,
enquanto recito as palavras
que te acordam sob a forma de poesia
enquanto te imagino ouvindo
o tom dormente da minha alegria
domingo, 27 de maio de 2018
acordada pelo ronco das vacas,
rodeada de frutos, do seu gosto
refaço seu caminho, ao meu encontro,
por adivinhação, que virás
antes do Sol deixar o banco
e antes de mais nada,
te enchergo em silêncio,
apenas as folhas murmuram,
tua chegada
nossos olhos se acham
e você senta ao meu lado
feito se fosse segredo nosso lugar
permaneceremos de bocas imóveis,
de repente, quem segura minha mão
é a memória, quando escrevo sobre teu caminho
tua boca diz coisas que não posso prever
o contemplar do silêncio no banco do Sol
o gosto de Janeiro maduro
feito se fosse secreto estamos sozinhos
tem vezes que te espero acordar, sonho bom
é de tua chegada anúncio, solidão
Gozo
de manias do olhar de lado, e foi assim que conheci Jorge,
na Travessa, de mãos dadas, esperando o filme X men
a gente foi direto pra Botafogo
encarar o mar de frente e costas
e aquelas costelas, o gosto de Brasilidade
escrevo no livro azul que me deu
depois foi depois do bar
as amigas cheiravam Arruda
foi que depois do banheiro reparou minha boca
e quis beijar de lá a gente foi pra cama
e perguntou se eu estava feliz
fui embora pela manhã de domingo
outra vez foi bem amado
mas a gente não podia tocar mais dentro do que carinho
e do nada a gente foi findando
foi tocando a flauta que aprendi tocar
seu corpo de urso, seu gato selvagem
de frente pra Cristo
sinto-me pureza, amar de braço aberto
foi que escalei e encontrei o mato torrando
acreditei ser tremor um sentir incontrolável
e agarrei teu peito, rígido e tenso
depois foi um acidente
subir lá em cima, correr atrás, ir depois
tanto de sede insassiavel de provar
mais Raimundos pelados in Rio
mas é que por imensa vaidade e delicadeza
me sinto solitário no quarto
mas é que por me sentir sozinho e ter de lembrar
dos outros caras, me ache mais sozinho ainda
deixo-me tocar como bem queira
é mais gostoso me amar sozinho assim
escrevo, sentindo, com os dedos, um poema de orgasmo
domingo, 20 de maio de 2018
Grãos
cheguei à praia, uma coisa frenezi, uma tontura de chegar, a margem parecia descrito um campo desfrutado, submersa, digo, inteiramente imensa, avancei a superfície, e de súbito Uma onda encharcou de manto uma metade espessa do corpo. De espuma grama e sal Bem que arranquei uma âncora e nos pés uma corrente de corais avançou-me, bem certo que de espanto afundei de boca aberta. gosto de gostar um gosto azul do céu do dia da praia, quando finca a cicatriz na camada da pele, faz sol que tem gosto de verão na boca, quando a gente avança A distância fica maior, mas tem vezes que o gosto da terra é de um Açaí Maduro, e a infância um destino
escrevo em prosa sobre essa onda, e sinto não ter chegado além do sentimento, e me senti indescritível por que há Não poder tocar nas palavras O mar amortecido, o que é que diga Sinto muito. volto à imagem da praia seca, descrevo molhado a pele Em instantes, grãos macios, nuvem erguida e embarcações, mais distante do que eu, o corpo
guardo no bolso o jornal aguado, e as letras uma fotografia
vejo o mar e as pedras, Duas bocas, os beijos, aos berros, de espuma e uma alegria me confunde com ? procuro palavras. sinônimo de tristeza é esmorecimento, e por não me sentir triste Acho que o sinônimo do meu sentimento não tem nome. mas decidi dar nome à praia e digo imagine Se a gente fosse dar nome a tudo que encontra, achei curioso que tivesse decidido dar um nome à praia e soube que era vontade de denominar o que eu sentia, e achando lugar nesse nome, acharia meu lugar no mundo. mania achar que no mundo eu tenha nome e não ache lugar, mas pensei ter encontrado nas duas juntas um só sentimento
2.0
que susto foi quando te perdi, e sei que quando digo que perco Falo da tua parcela tua fratura imagina praia Grão a Grão e tu o grão de metade da praia, então faz parte a gente se sentir partido, sentindo deserto em frente ao mar É que seu corpo foi lançado Então estou me perguntando E você? eu sinto lá no fundo. reencontro
as vezes costumo contar, fazer as contas perder as contas mesmo que, voltando à infância, tenha sido dispersa quanto aos números, mas eu conto os dias Quando vi numa notícia números maiores do que calcular nos dedos, vi os números dois mais dois ser dois dois, mas é que somando achei que dois números juntos fosse outra coisa, e tem dessas coisas que vão além dos números
4.0
(...)
5.0
sabe quando se descobre um cheiro novo, e sente mais do que dá nome, é feito assim que era a praia até que quis dar nome Os irmãos. praia seca, goela fluída Lembro de afogar de boca aberta, dizendo de um sentimento arenoso, desse estou móvel. quando o céu escorre faz tremor de acontecer no clima da terra uma depressão, mas sentir a firmeza da onda dá certeza, gosto de açaí no céu da boca. faz um tempo que não vou a praia, mas guardo na Bagagem espuma, e quando o som toca os dedos shhhhh
é que tinha cinco anos quando isso aconteceu E agora? pergunto é que me sinto perdida também. mas a praia de encontro e dava nomes e foi assim que soube Sentia um Sentir procurando palavras
quinta-feira, 17 de maio de 2018
Caderninho azul
assemelhante assim ao céu das seis,
quanto os amores que tenho criado,
Desde que hospedei a solidão no quarto,
quarto andar
que esbarrasse com o carteiro no último banco do ônibus azul
aquelas quais não sei especificar,
mas que parecem nadar no azul pacífica angústia imoral
imenso de manha quanto o céu da sua boca
quarta-feira, 16 de maio de 2018
se for pra ir eu volto
segunda-feira, 14 de maio de 2018
baião de dois
nossos futuros,
ir à feira tardezinha
desfrutar das frutas
na mesa da sala
cozinhar arroz dia sim,
dia não
contigo
cozinhar é carinho
é dengo estar contigo
chuviscar o feijão na panela
vão dizer abobrinhas
entre o espaço
do trem e a plataforma
vamos chupar muitas uvas
e roer rapadura
e vou cutilar suas unhas
minha heroína
te dizer da rebeldia de agora
de um modo carinhoso
porque desse desjeito
é a gente se amando
só de olhar
só dos olhos
a gente vai falando
assim desjeito
feito sanfona cantando de noite
de manha a gente se ama
basta te olhar e vejo
todo o sertão colorido de si
que é bonita alegria posso
até imaginar a gente lá
na frente dançando
quinta-feira, 10 de maio de 2018
014
só pra gritar a bagunça urbana
que tu deixava em mim
no corpo grafite
rascunho indiscreto
assinado pela tua língua mundana
bebi dos lábios café
todo o líquido me abraça insônia
é que me borrava
no queimar de bocas profanas
até ficar completamente assim desnuda
na ânsia o corpo dizer
da paisagem abrir os olhos você
410
Acorde
Assim feito os goles de cachaça
o mel que a gente melava metade do corpo
ou parcialmente tudo,
ou quando se corria e morria antes de chegar.
Na praia, por terra, em qualquer lugar de harmonia.
É ali o lugar que a poesia podia se formar,
então pensei em dormir de novo,
em algum lugar exposto em teu corpo,
ciente de que alguma hora acordaríamos
"um pouco da realidade"
sabia que não vinha em doses amenas.
Dilatado, quaisquer pedaço, inexplícito
e bem ali, onde se espera poesia, corroía o dia findar.
Dormia aguardando algum dia despertar
melado, ao teu lado.
Uma tela de Virgot
À'la construçiõn de Jôh
ainda não findou a mim