uma gota de vácuo me invade com a delicadeza de uma transmissão de rádio
sintonizo as tantas vezes
que me peguei
de repente
alheia
à toda imagem
à luz do instante
recordo minha face
nesses instantes
raramente recordo
quem fui
e corro ao espelho
reconhecer
uma nova versão
amiúde
meu sintoma
desaprendo
a existir
existo
e isso não anula o fato
de reprisar a morte
e acho que é puramente pelo fato
da existência se opor à
há vezes a gente confundindo a dor das gazes com o vazio intermitente
e quando soa o ronco de volta
à sobriedade
lançamos copos e dardos
assim inconformados
que chegue alguma hora
somente indício
à realidade
isso não anula o fato
de contemplar serena
desapontada
meu retumbante estado
instaurado no verso de agora
o seguir das horas líquidas
[Bauman diria que é estado de permanência
mas sou eu mesma que estou dizendo]
enquanto escrevo
esse poema
de memória
penso talvez
tenha pensado escrever
sobre os litros do boteco
d'aguardente
convocada
pelo mundo
gritando
estar cheio
e eu encharcada
literalmente
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