por todas as estantes
devo ter estado dedilhando
o recôncavo do teu rosto reclinado
na marquise ao fumar unzinho
eu que nunca mais vou dormir
a dormência de uma criança que nasce
morta dentro de poemas melindrosos
você nascendo na década de 80
e eu descobrindo os leões aos 12 você
tentando dizer eu poesia você surgindo
ele trabalha aqui dentro dos livros
dentro desse livro que você decide
comprar você descontraído ao lado
dos outros você correndo para repor
o estoque você de costas aguardando
alguma dúvida
mas você sabe que eu seria incapaz
de chamar seu nome se não for
para falar de amantes ou para discutir
sobre o peso das horas oleosas
do teu rosto reclinado enquanto fuma unzinho
seu poema me lembrou "diário de um abril invisível" por odysseas elytis, recheado termos coloquiais deliciosamente colocados entre termos transversais, travessos. Gostei muito do verso "reclinado na marquise ao fumar unzinho". Gostei da quebra porque geralmente poemas ao reclinarem sobre marquises dão logo vazão para a contemplação de Andes, Alpes ou Everests, fumar unzinho é maravilhoso... viva o português do brasil e, particularmente, o jeito do carioca que ainda resiste
ResponderExcluirum abraço