Os olhos dela borraram o meu domingo
As nuvens cinzentas anunciavam a tristeza do céu, logo choraria. A fumaça do trem me apagava nos finais de semana, observava os passageiros desinteressados, fazia sempre uma prece para que alguém notasse a minha solidão e se identificasse em meio àquele contexto fantasmagórico só para eu não chegar na parada final sem abrir a boca. Comprei um saco de bala por um real porque esse é outro pretexto para adoçar o fim do dia já com gosto de pólvora e cimento. Explodi na fila do banco, da padaria, na passarela do Flamengo, podia sentir o cheiro de bala na roupa. Seus olhos entre tantos eram rubros e cavernosos, devoravam as palavras do pequeno livro envelhecido que estava confinado amavelmente em suas mãos no formato de concha
Os olhos dela enfim tocaram os meus tão cotidianos, mas ela partiu mais rápida do que o trem. Seus olhos borraram o meu domingo, chorei o dia inteiro com o céu. Só fez sol na segunda, vez ou outra nubla na terceira.
Moça é sempre um prazer passar por aqui, que talento!
ResponderExcluirJá falei e vou reafirmar seus escritos me lembram muito os escritos do velho Bukowski.
Tu é muito delicada até pra falar das mazelas dos outros, isso é puramente beleza de espirito, eu penso que sim.
ResponderExcluirSaudações,