terça-feira, 31 de dezembro de 2019
casca de ferida
e seremos o que quisermos no passado
devido aos nossos narradores
devido ao legado da ferida que expõe
corpos ensolarados
somos até a matéria encolhida
ensinando que deveríamos renovar
"Quero que pinte um amor Bethânia"
quer sair hoje o carnaval começa hoje,
o canto doce dos doces,
somos as divinas memórias,
isso é um diário
seríamos,
seria,
eu já nem sei o que seria agora
começo a rasgar
a rabiscar papéis
somos as histórias todas as histórias
tenhamos de reescrever nossas histórias,
isso chamarei de arquivamento,
arquivologia do eu,
as minhas memórias agora tomam forma diferente,
isso é memória?
viremos a ser,
os narradores escorrem pelas margens,
e me sinto ecoando,
sinto pulsos mais brandos
e esse desejo de poesia
eu me deito sob os papéis, meu peito leve,
essa onda parece uma brincadeira,
eu quero é viver brincar com as palavras
esse ser o poema
poderia ser só impressão minha
mas sinto que estamos nos despedindo,
teu sono lento, você me pede para subir,
abria a porta, deitava no sofá,
eu te enchia de beijos,
ouvia teu ronco,
esperava que levantasse,
nós dormimos por muito tempo
agora escrevo no papel A4
papel de pólen,
sei tremer e que na verdade
não sei explicar-me
ouvi teu sorriso e o meu sorriso,
e o nosso sorriso,
entro em combustão
entro em uma viagem muito longa
e duradoura,
eu ainda viajo,
lembro do nome verde e azul,
daquela paz de passagem,
você me segurava, ou não me esperava?
você não sabe se decide se levantar,
que eu te coloque para fora da cama
esperei que me pedisse alguma coisa,
sentia-se desconfortável,
pediu gentilmente para sair,
eu achei a porta,
pensei que assim poderia ficar
durmo um cigarro inteira tranquila,
mas antes que terminasse,
bateu à porta,
entrou e sentou no sofá,
depois pediu que subisse à casa,
toquei seus pelos de urso,
enquanto o subia,
ele agora me olha de lado,
acho que me pede carinho,
ele encontra muita seriedade,
o que posso fazer para agradar-me?
eu não sei se ele tem sono
mas parece ter,
vamos amanhã à lagoa
meu pai vai ficar com você
e nos divertiremos
pela intensidade da natureza
voltaremos a dormir
voltar para onde?
esse exercício de escrita me tem consumido
eu tenho vivido pelas palavras
no entanto, o meu silêncio ainda preenche páginas
eu quase já não saio e não penso em voltar
sinto que cresço ainda, ainda cresço
as pessoas me veem pequenininha e profanada
é difícil que lidem consigo mesmas
e depois comigo
eu entro numa história como quem ri
descreve e soluça mais alto
às vezes eu sinto a vida como uma cena, força estranha
eu seria quase bruta se não fosse a sensibilidade
eu suspiro e decido me despedir
decido voltar
mas voltar para onde?
e eu
eu estava na chuva, segurava uma cerveja
e me sentia sozinha,
não tive forças de mudar de lugar,
eu falava sobre arquivos quando dizia de amor,
as memórias são capazes de voltar
mas eu não volto,
não com essas pernas e essa cabeça,
eu fico aqui,
eu seguro um cigarro,
eu seguro as pontas
e a chuva é passageira
linguagem
segunda-feira, 30 de dezembro de 2019
maçãs verdes e fritas
saídera
acreditar no retorno sem virar para trás
erguer a cabeça mesmo que os olhos se revirem
me questionar sem culpa
relembro meu sorriso e sorrio
quanto a isso não há volta
quanto ao amor
ainda dá tempo de pedir outra rodada
terça-feira, 24 de dezembro de 2019
A hora da estrela
nessa rósea noite de natal
não tão rosada quanto as tuas espáduas
ou tão sagrada quanto a tua chegada
e esta espera me infla o ego
de um querer despovoado e refutável
essa ânsia é o que me mantém
atenta ao relógio cativo à porta
aos ruídos livres do corredor
(as crianças ainda brincam)
à esperança que morreria primeiro
do que a poeta se não fosse poeta
temporal
quinta-feira, 19 de dezembro de 2019
é tudo o que tenho a dizer
ilha dos amores
algum sentido algum dia
será novamente bom dia
e você irá abrir a boca
mostrando a língua
que língua colossal
você é zodíaco
dos signos
das abstrações
e então que se entendam os poemas
as melodias e todos os shows solos
ah, haja imensidão para nos abarcar
haja mares navegáveis e litros e litros
de amor
quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
a fase do nevoeiro
terça-feira, 17 de dezembro de 2019
fineza
segunda-feira, 16 de dezembro de 2019
às
domingo, 15 de dezembro de 2019
a gaita da meia-noite
segunda-feira, 9 de dezembro de 2019
amanhã luminosa
refletidos de seus olhos vibrantes
as ovelhas caminham e saltam
os pastos não serão como antigamente
estão mudados e os animais humanos
mais intensos, hirtos,
o labirinto de um só caminho
a velha história contada diferentemente
fizemos de nossos corações
poças de palavras
meu cheiro de domingo
recomeça e fizemos mais nada
do que faríamos
além disso seu corpo incandescente
ilumina os nossos olhos vidrados
nosso baile todo dia
parece que não dorme
a manhã acordou contigo
sábado, 7 de dezembro de 2019
reflexos
quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
O beijo no envelope
nos dedos
terça-feira, 3 de dezembro de 2019
Ana e o Mar
devo ter esquecido do título
triste não é viver de solidão
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
O nome da Rosa
parece que eu encontrei algo
quinta-feira, 28 de novembro de 2019
fama e pó
a língua umedecida como lenços de limpar lágrimas
e a bunda dos inocentes
o deslize seguinte e as frustrações apaziguadas
seus desejos suicidas de fama e pó,
o sucesso em construir o legado overdose,
e a torcida fantasmagórica, os romances
quinta-feira, 21 de novembro de 2019
as memórias
elaboradas
nos polegares
o indizível
sempre
essa boca
incalada
o rosto
viradovidrado?
degusta
a fumaça
os dias
e os entregadores
somos
as pessoas
escolhidasencolhidas?
esse lençol
mais
friocalafrio?
eu vejo
mais
perguntas
elaboro
respostas
nunca
serão
satisfeitas
terça-feira, 19 de novembro de 2019
aluguel de ternos
burlesca
segunda-feira, 18 de novembro de 2019
Pedintes
domingo, 17 de novembro de 2019
a palo seco
quarta-feira, 13 de novembro de 2019
IV
no tengo palabras sin sentido
nosotros y las flores
los azules de las calles
nuestros corazones y canciones
la primavera está caliente
tus invernales ojos
mi romance
terça-feira, 12 de novembro de 2019
dentro da redoma o sufoco dos poemas
segunda-feira, 11 de novembro de 2019
à morno, fluído e mansidez
o homem só e o duplo
até mais eu digo enquanto estamos por cá
naquele romance
ou seja onde
domingo, 3 de novembro de 2019
sábado, 2 de novembro de 2019
sexta-feira, 1 de novembro de 2019
fora de lugar nenhum
terça-feira, 29 de outubro de 2019
olha
quarta-feira, 23 de outubro de 2019
flores
segunda-feira, 21 de outubro de 2019
sábado, 19 de outubro de 2019
sexta-feira, 18 de outubro de 2019
no momento em que escrevia
poema
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
te escrevo para que lembre
faca cega, fé amolada
mas sinto muito
com insistência
terça-feira, 15 de outubro de 2019
felizes dias
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
tudo o que fizemos são memórias
não me arrependo por não me desculpar
tudo o que fizemos são memórias
me desculpe por não voltar atrás
mas nem você e nem ninguém voltaria
e nos entendemos nessa parte
e não precisamos nos desculpar
para nós mesmos e para ninguém
tudo o que fizemos são memórias
Cólera
eu era poeta desde sempre
escrevo poemas como falo e respiro
durmo e bebo
as vezes as palavras são engolidas
e todo o relatório um teste de memória
aguardei todos os indícios nos olhos sobre os segredos do poema
eu me repito e as pessoas me olham estranhamente
os poemas são antídoto e veneno
e eu não posso negar que respiro novamente
sábado, 12 de outubro de 2019
Tânia
era festa todos os dias
quantos parabéns faríamos?
cantava o coro
muitas felicidades
como se aquilo entrasse na alma
Tânia me pediu que fizesse um mantra
disse da força das palavras
e eu concordei
fechei os olhos e pediu que imaginasse um lugar
eu estava em uma praia deserta
na pedra de uma praia larga
eu podia ver o azul e as ondas
ela me perguntou do emaranhamento
e eu não soube responder ainda
eu disse que me sentia diferente
ela porquê
eu também me faço perguntas
e acredito em nossa energia
na força do mar imaginado por mim
e na areia das horas
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
um brinde à vida
tenho gostado
bem devagarinho
de olhar a vida
a minha vida
com o amor
que há em mim
é bem possível
que os outros
tenham me conhecido
sem tamanho amor
me ouvido dizer
da tristeza maior
sobre ela
eu falarei sempre
mas nesse instante
eu quero falar de amor
desse amor que eu guardei
para brindarmos
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
sobre memórias do Boa Pinga
e continua a dizer que estavam distantes
que sentia a sua presença sem atenção
ele me dizia que compraria o meu livro
perguntou se eu conhecia o poeta
e o poeta estava de pé
eu disse dos pés à cabeça
e nós sorrimos e brindamos
eu fui para casa com meu ex
ele me levou até a escada
e eu pedi que pegasse um Uber
nós nos despedimos sem despedidas
enquanto eu ajeitava o cabelo
eu escrevia um poema
dali eu levaria o presente
segunda-feira, 7 de outubro de 2019
graça
eu levo a sério os poetas
mas ainda acho graça
de tudo isso
assim me divirto
com os poemas e os poetas
eu fico descontraída
e posso descontar
minha linguagem
alguém há de buscar entender
e se não houver entendimento
ainda haverão os poetas
e a graça dos poemas
título de um poema
sei que não conseguiria
falar meu nome
em voz alta e ainda a vontade
assim como eu
em público você evitaria me olhar
enquanto fala e fuma
enquanto eu te olharia nos olhos
enquanto falo e fumo
decido não ser invasiva e desvio
a conversa e o olhar
você entraria como antes
em algum lugar
que não estivesse trancado
você trancaria as portas
eu abriria a janela e calcularia
o tamanho do voô
você faria uma música
sobre despedida
seria o mais perto
que chegaria do meu nome
estrondo
mesmo
que o poema breve
te conte sobre a vontade
e sobre o olho do vulcão
ainda seríamos insanos
ainda nada
seria bastante
e eu insisto novamente
mais uma vez
é como se falássemos
o tempo todo
e esse silêncio
esse silêncio estrondoso
ainda será breve
domingo, 6 de outubro de 2019
poderia repetir de novo e não precisaria dizer mais nada
um pouco arrogante
e a minha fala mais polida
talvez eu devesse escrever
o melhor poema
eu insisto nisso
eu vivo para escrever
um poema que me bastasse
que me fizesse repetir
eu elaboro o poema
eu enfeito de palavras os poemas
e talvez eu tenha ficado mais robusta
e a minha voz um tom afiado
eu falo e as pessoas pedem que eu repita
sexta-feira, 4 de outubro de 2019
memórias
falo
por nós
como se fôssemos
aqueles que descendem
dos astros
as sutis estrelas amareladas
a natureza
nos assombra
e nos arrasta
para além das aparências
descobrimos
cobrir com as pestanas
nossos corpos em febre e tirania
descrevo
teu rosto
sem exatidão
revelo
esse espelho vulto
assume que somos os filhos amados
nossa boca
uma cor amarga
nossa sinfonia
de dar dó o silêncio
ainda podemos correr sem os pés
pertencemos
às vontades
alheias
sobrevivemos
e ainda vivos
mortos
dentro de papéis guardados
terça-feira, 1 de outubro de 2019
o amor bate é na porta
se não for o amor
eu não sei o que poderia
te salvar desse medo
é que a vontade de enfrentar
o amor é aquela grandeza
que tanto espera
mas acho que ficou tanto tempo
sentado em um quarto abafado
que duvida da força das pernas
e que lá fora a vida corre
aqui dentro o coração
têm escolhido
se vale a pena bater
mas à sua porta ele levanta
e veste a roupa mais descolada
e você não atende
você fechou até os ouvidos
profeta
o eco da voz ultrapassa concretos
segunda-feira, 30 de setembro de 2019
venham sentir o milagre acontecer
o dia acorda enveludada lua de cortina plácida, talvez tenha esquecido de dormir,
talvez o ácido das balas comestíveis tenham socado bocas, e retalhado a curva do corpo das pessoas,
nessa revolução a manhã inacreditada por um milagre aparece, os olhos com brilho das constelações são os cintilantes da terra acesa,
os ferros são cada vez mais moles, os arbustos tristes, e a felicidade na boca da criança que ainda chora,
hoje a gente escolheu sorrir, a poeira levanta, o milagre acontece mais uma vez
domingo, 29 de setembro de 2019
felicidade
li a parte em que me dizia de um sonho
o sonho que ela teve conosco
depois você sumiu
eu lembro da gente de frente à cristo
de mãos dadas
e dando um beijo
a gente se cuidava
e via o mundo nos olhando assustadas
nós nos encontramos mais vezes
mas foram poucas e imensas
quando eu me despedi primeiro
lembro do desespero
é difícil acordar no dia seguinte
mas nós conseguimos
vim a ti
era isso que faria
estava na literatura
tocava e analisava os rabiscos
o poeta dizia sobre si
e os labirintos
repetia os gestos
como se saltasse a cavalos
cada milímetro de palavra
contada e estreita
o sorriso do poeta
era um anúncio da poesia
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
vamos fugir
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
paixão
lembro quando o poeta me dizia
que muitos se apaixonariam por mim
acho que ele dizia de mim
que eu me apaixonaria muitas vezes
eu sorri como de costume
e achei que ele estava apaixonado por mim
enquanto eu me apaixonava por outro poema
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
mel
gostaria do cheiro docinho
das primaveras respirando
por debaixo das pernas
seu beijo profundamente viscoso
desse choro eu molho cidades
a minha se alagou
e durante dias ficamos debruçados
a vida é uma aventura
eu pego meu rumo
gostaria de uma parada
no meio da estória
faríamos disso uma vida paralela
terça-feira, 24 de setembro de 2019
simplesmente
mas ao lado do mundo
as palavras são como sonhos
e eu as imagino
criei uma linguagem
e acho que a gente se comunica
é que eu tenho um jeito simples de dizer
que eu acho que a gente tem tato
volto à você
bem sabe então que me refiro a voltar
e não apenas no tempo, na memória,
no espasmo, eu volto à você
é preciso que saiba que quando desço a ladeira
eu também volto à você
mas eu até me espanto do quanto que me esqueço
eu lembro de você quando subo a ladeira
mas eu volto à você porque você existe
em algum lugar e aqui
onde estejas você está
então eu sempre volto à você até em mim
e pode parecer efêmero dizer que o nome da rua
se chame fonte da saudade
e que a praça da rua é onde eu ia brincar
eu lembro de nós dois nos despedindo
volto à você por estar sozinho
e nós sempre estivemos
volto ao sentimento que surge em mim
é nesse momento em que você está aqui
sinto muito novamente
ou muito sórdida
se não me expressasse
analisamos os modos
e todos ultrajantes
a poesia dizia de uma linguagem
comunicada pelos sensíveis
eu sou da sensibilidade
lembrei de quando a gente se comia
com o olhar daquela noite
com os olhos
mas me perguntaram se eu estava contente
disso eu já contei
mas é preciso que me repita
e eu seria muito louca
se não respondesse com um sorriso
estamos agora sorrindo
mesmo que a graça não esteja presente
mas a gente sorri
e eu gemo sozinha
e fazemos outras coisas também
voltando a mim
eu gosto de falar
em geral isso é também sozinha
e as pessoas se espantam
quando me vêem calada
eu gosto de ficar em silêncio também
e de escrever sem que me preocupe
gosto de ser lida
e que a minha linguagem
seja permitida à tradução
só não me pergunte o porquê
eu poderia te dar tantas respostas
mas tenho preferido não me apegar
àquilo que não procuro
e eu me despeço
com um sorriso
e novamente sinto muito
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
o tiro têm vindo de cima
são vazios
pela manhã
os abandonos,
não que a praça
esteja sem vida
mas as crianças
não querem mais correr,
correr para onde, pai?
aqui de baixo
onde o inferno
é mais perto
o atormento
dos helicopteros;
você também ouve
de perto
vindo de cima
dizer com
dedo apontado
pra cima é castigo,
"pai o que eu fiz
para acordar com barulho
de tiro?"
meu aluno me perguntou
se eu queria um filho
o silêncio apavorado
da cidade aperreada,
amordaçada,
silenciada
o barulho é de metal
pólvora e boca cheia de formiga,
se protestarmos a chance
é de levar paulada,
ou de sair da pista,
ou de sumir sem pistas
a demora do trânsito,
da ambulância
e do socorro,
mas o povo no choro
"me ajuda!"
criaram a culpa e
nos têm colocado a culpa,
nos fizeram assumir
a culpa,
e querem nos punir
nos querem culpar
por existir
mas o povo não deixa
de ter alegria,
ora pela segurança divina,
a tristeza esquece
e dá bom dia,
mais um dia,
mais um dia,
fecha os olhos
mais uma vez
o tiro vem de cima
acorda
dirão que estás aos pedaços, apontarão a teu corpo dizendo que se arrasta,
que tua postura é bamba e que te derrubariam com um sopro,
(sempre pelas costas)
contarão vitórias alengando tuas derrotas, e dos teus prazeres gozarão se fizerem doer a ti,
assim que acreditar que estás perdido, e que os olhos estão vendados, apontarão o precipício,
dirão que lá é o lugar seguro para pessoas como tu,
só não serão capazes de enfrentar teus olhos quando acordar
domingo, 22 de setembro de 2019
quantos sorrisos?
existe bala perdida?
não existe bala perdida
não existe isso de não ter responsabilidade,
não existe isso
bala é bala
doce é doce
e não tem ninguém rindo
acabou a graça
a lágrima de uma criança
não é brinquedo
sexta-feira, 20 de setembro de 2019
cuide não esquecer quando acordar
terça-feira, 13 de maio de 2014
O sol permanece mais esperançoso do que eu
Escrevo pensando em você
O dia cheirava a jasmins, ambulantes e à tragédia, só o sol parecia feliz. A luz opaca dos olhos sonâmbulos dele sussurraram a lentidão do outono, olhos cor de hortelã, ardentes e tristes. O ônibus do metrô chegou mais cedo e o pegou para bagunçar a minha vida, eu inventei uma paixão pelo carteiro que nem sequer sabe da minha insanidade. Eu inventei o nosso amor tão bruscamente, em uma quarta-feira transbordada de rotina, porque a solidão é mais pesada do que mil cartas de despedidas. Comprei alguns cigarros e o senti ser tragado pela minha guerra, pelo meu cansaço. Afogo os olhos por um choro oceânico e desejo muito mais do que antes colocar os pés sobre o mar da praia mais próxima. Carteiro, eu gosto muito desse sol risonho que me ri, mas acontece que a noite sabe me degolar sabe ocultar o vazio já descrito no meu rosto entardecido. Longos segundos até o maldito semáforo anunciar a nossa despedida, não tive tempo de contar como mudou o resto do meu dia porque já estava perdida no labirinto daquela barba tímida. Eu só teria alguns versos e a lembrança daquela partida prematura a oferecê-lo. Voltei para casa depois da aula de literatura e sentei na varanda do meu prédio tedioso, tomei um copo de leite da cor da pele de textura pura dele e as minhas lágrimas salgaram a bebida. Desde quarta-feira da semana retrasada que não saio da varanda, ela está posicionada em frente aos correios, tem dias em que a minha esperança de vê-lo por alguns segundos é mais forte do que o sol de meio-dia.
Não sei seu sobrenome ou se enlouqueci
Gyzelle Góes
quinta-feira, 19 de setembro de 2019
não sei se ainda me lê
mas você deixou de percorrer
as palavras que te dizia
para decifrar silêncios em ti
nesse assunto a gente ficou sem
tanta coisa se deixa passar
enquanto o bonde também passa
e o dia tem se arrastado
dentro dos sonhos que a gente acorda
não sei se ainda me lê
enquanto tudo vira distração
enquanto as palavras voam
e nossas asas temporais
viro as curvas
e piloto o meu coração
disso eu falo sem que me distraia
e mudo de assunto
as canções são muito íntimas
e a cama nossa amante
sequer somos nossos
mas enquanto isso somos
e isso é muito íntimo
é talvez por isso pergunto
se ainda me quer ler
jogo de perguntas sem respostas
você com os amigos
e eu com amante debaixo do braço
talvez a gente se desconheça
e a cerveja venha quente
o dia estaria de muita ventania
o que me leva ali
nós nos perguntaríamos
assim como vai você
talvez a gente soubesse quem fôssemos
mas eu não saberia dizer
outra coisa se não poemas
vocês diriam quem é?
por onde poderíamos começar?
que não seja simples
tanto a dizer
e a sentir
e a tanta coisa
e as palavras
não alcançam
já falamos sobre isso
muitas vezes
[e o começo nunca se sabe
quarta-feira, 18 de setembro de 2019
vivo-morto
domingo, 15 de setembro de 2019
o poema se alonga sobre nós
algum modo de me expor ao mundo
com a delicadeza e a precisão
de que amo e da infinitude do poema
em todas as coisas,
depois descobri que escrever
era um gozo
eu fui sensualizando
as palavras e me descobrindo,
através do poema eu me alongo
e não preciso ser parada
nem que me peçam para recitar
mais alto ou cantar mais baixo,
eu te falo pelo olhar coisas que
eu nunca falei
e que porventura quiçá nem tivessem
atravessado a minha cabeça,
a imaginação é muito fértil,
deveríamos semear as flores e
trocar o disco,
tem vezes que o silêncio é agudo
e a cor dos meus sonhos sob os olhos
transmitem ideias e lembranças,
eu pediria cuidado você não precisa
criar convicções sobre qualquer pessoa,
sobre eu estou me descobrindo,
o poema se alonga sobre nós
Escatotélica
Acho que vou cagar
Ou ter um filho
Vomitar o baço
Escorrer pelos cantos
Tremer e gemer
A noite inteira
Espremendo uma espinha
Sentada no vaso
Acho que vou sumir
A qualquer instante
Mais líquido sai de mim
Acho que vou sair pela porta
Sem bater
Eu não quero acordar as pessoas
Eu não queria acordar
Acho que vou dormir
terça-feira, 10 de setembro de 2019
volto à você
de terno amadeirado
cabelo de corte curto
e curtindo os elogios dos apreciadores
da arte,
é verdade que eu dormi no ponto
fiz da cena uma brincadeira
tive vontade de te dar uns foras
e acabei saindo pela janela,
é que hoje estou viva e te conto
que fomos descuidadas,
a gente provando o sabor amar
e tentando achar alguma coisa
além de nós,
eu acho que foi aí que a gente
se desentendeu,
a gente quis saber que gosto era esse
que dava sensações à boca
e nessa paralisação o silêncio,
tão insosso
deu a gente o desgosto,
mas eu ainda gosto de voltar
Cosmos
não sei por onde começamos
se por acaso essa vontade não seja
por capricho nosso do passado
eu teria de me alongar até onde nós
nos falamos pela primeira vez
certamente me lembro de que não
parávamos de nos falar
dizemos de nós mesmas
o tempo que fosse preciso
tudo poderia acabar
se nós continuássemos
depois a nossa linguagem foi se modificando
é natural que com o tempo isso acontecesse
eu não estranho a forma
fomos tomando
muitas coisas ainda precisam ser descritas
muitas dessas ficam para trás e parecem bagagem
deveríamos deixar que ficassem
?
muitas são como papéis arquivados
segunda-feira, 9 de setembro de 2019
lembro da época do colégio
que eu corria pelo pátio inteiro,
gostava de correr e de gritar,
gostava de sorrir bem alto
às vezes eu incomodo
às vezes preencho
às vezes só
às vezes sei lá
lembro das vezes em que eu assumia a culpa
e brincava de viver
às vezes eu dançava o dia inteiro
às vezes eu tinha de escrever
Gal
se estou tão cansada?
digo quem sabe
oh minha grande obsessão
eu acredito em você
às ruas vou descendo
e pelas ruas
tomo um gole do drink
e não preciso de dinheiro
meu bem
quando entenderiam
que você me mantém viva
como buscariam entender?
narrativa
mas logo vou descer
as escadas rolantes
e acender este cigarro,
podemos ser breves
ou nos alongar por dias,
tragaríamos despreocupados
a conversa sobre alguma história,
nos interessaríamos por algumas capas
e entraríamos em alguma questão
que será inquietante ao mundo
e a nós mesmos,
dali por adiante
fazemos parte
da narrativa
sexta-feira, 6 de setembro de 2019
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
não somos apenas quem somos
e o túmulo das heroínas
erguidas na delicadeza das flores
tu contempla só de cheiro
ao passar teu rosto erguido
miragem busto rebuscado
se amou foi solidão da palavra
e de gesto o amor te pisa e te afaga
assim soariam a teus ouvidos atentos
mensagens de maresia e concha
primavera calculada à desordem
caberia teu sopro e as lamentações
finda tarde quando recordar
o tempo e a ventania esqueceu de mover
teus cabelos escovados com rancor
é que o passado ainda retorna
como um filme programação remota
e os teus olhos de atenção ilustre
embaçadas transtornadas projeções
não somos apenas quem somos
terça-feira, 3 de setembro de 2019
caverna
sentia como se as luzes
dos túneis acendessem de meus olhos
caídos e claustofóbicos,
ansiosa pelo breu
ainda das estrelas
achara encontrar o fim
a luz e os contornos
da vida lá dentro do caminho,
e as flores do mal
a redoma de cristal,
exposta às luzes às heras,
revelaria escondida meu rosto
retratado aos olhos fechados,
diriam Ainda dormes
e eu digo novamente do sonho,
dessa preguiça de prosseguir
e mais algumas coisas
que são ditas soturnas,
apalpada pelos ecos
da caverna mitólogica
possivelmente dentro de mim
sábado, 31 de agosto de 2019
cuidado
mas diria bonitezas
e beijaria tuas cicatrizes
iria ao sol da manhã à tarde
e aplaudiria o sol e tu
devagar a gente recita um poema
pela noite ou madrugada
ou nesse entrelugar
que não diríamos ser um poema
(de amor)
e eu nem sei se te amo
ontem ou hoje
mas beijaria tuas cicatrizes
a isso eu chamo de cuidado
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
longamente
as roupas saíam do varal, do armário e o corpo,
mais precisamente estávamos nus de corpo e alma
eu recitava poemas
assim como a natureza venta
e naturalmente me lembro de ir à sacada
me despedir com um beijo
esquentar a sopa e tentar dormir,
nessa hora eu contaria sobre
o sonho que tive
mas escrevo um poema
e me alongo em cima da cama
sexta-feira, 23 de agosto de 2019
aquela barra que é gostar de você
lá estava eu nua na sua
pegando o bus da madruga
voce me levando pra outro bar
o seu copo cheio
a boca da garrafa entre os dedos
quantas bocas!
minha boca aguardente
e vazia de palavras
tô fodida eu dizia
mas é que o vômito saía
você não entendia
e até agora não entende
e nem eu quero que entenda
é que "gostar" é tipo enfrentar a barra
de patinete da rappi
e olha que eu gosto de patinetes
sonhos
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
o mundo acordar
teu sorriso repousa no leito dos beiços
esquento um novo café pela manhã
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
eu só queria dormir
fim
me disseram sobre as narrativas
eu as narrava em tom de poesia
e cantava nas horas vagas
e nas horas loucas as vezes calava
as vezes sorria
assim como sempre fazia
o gesto de sorrir soavam os poemas
que soltos no mundo
percorriam a boca
o gesto de mundo é sorrir
assim como corre aquele riacho
que a fez erguer os olhos
e sacudir o mundo
estive pensando em muitas coisas além
e eu encaro o poema
terça-feira, 20 de agosto de 2019
alerta
nossos arquivos
nossos filhos, irmãos
os corpos,
estão queimando a última mata,
o primeiro museu,
a canção mais tocada
estão queimando de olhos fechados,
atados de tochas
e dedos apontados
estão tentando queimar
nosso passado,
presente
e querem queimar o futuro
estão queimando quase tudo
terça-feira, 13 de agosto de 2019
livreira
domingo, 11 de agosto de 2019
Romance
parece que eu vivi todos
e ainda pronta para todos
disponível a todos
me sinto o próprio romantismo
e tudo que eu havia lido
eram ensaios do meu próprio livro
a tosse o amor e o disfarce
quarta-feira, 7 de agosto de 2019
despedidas
e cada estrela daquela noite
piscaria viva dentro daqueles olhos
mas quando me dei conta
era tarde demais para ficar
e tive de ir mesmo assim
muito cedo
de um jeito determinado
visto que sofrer já iríamos
e o café acaba de novo
fechamos as janelas
abrimos o apetite
vão se embora as ilusões
sozinha no canto do quarto
enquanto a gente se enrola
assistindo ao filme do sonho
percorro teu rosto
melo tuas roupas
escuto tua banda
e me despeço sem rancor
segunda-feira, 5 de agosto de 2019
desaparecido
era agora o momento
que eu mais temia
e mais rápido
do que pudera prever
eu te escrevo como quem se despede
é esse o meu modo
de tirar você da cabeça
e colocar no verso
assim eu me interesso
pelo poema
que te dizia adeus
com a delicadeza
de um fantasma
passei o café e esquentei a massa
tudo aqui dentro é universo
e eu refaço o currículo
especifico que te quero pela manhã
e dentro dos livros
eu compro absorventes
e remédio para dor
me preparo para o sangue
e para existir
nem sempre é preciso fazer sentido
mas a gente nunca deixa de sentir
o inverno ainda dura
declarou o amor no sopro
daqueles bons de botar pra fora
de boca em boca
até chegar à minha
um hit do inverno
que durou menos do que o inverno
algum refrão buscava ritmo
ou a batida soava despercebida
pegou as mãos e disse adeus
sem levantar um dedo
creio que orava para não
ser mais solitário do que seríamos
se já não fossemos dormir mais cedo
esquecer o dia é mais simples
do que um amor imaginado
nosso amor soara
tão nítido quanto estrelas
em dias nublados
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
quinta-feira, 1 de agosto de 2019
é rápido como amor escapa de nossos rostos
de nossos rostos
o jeito como você diz que prefere
se afastar
como quem diz que ganhou
na loteria
ou se prepara pra morte
eu fico sem saber o que dizer
porque eu acho que nós
encaixamos as bocas
sem precisão das despedidas
você diz que não sabe se me quer
de que modo e quando
e eu queria ter certeza
de que posso segurar sua mão
enquanto você vai ao trabalho
e eu volto a dormir
de que esse sonho de acordar
a sua sombra alardeada pelos
seus lençóis
não irá se esvair dos nossos corpos
quando acordarmos
sábado, 27 de julho de 2019
Anne Sexton já dizia: O amor e a tosse não podem ser disfarçados, Nem mesmo a pequena tosse. Nem mesmo o pequeno amor.*
tenho feito isso pela vida
tenho sido displicente
mas é que tenho
tenho vivido esse poema
então o coração diz coisas
?
é leve e tão dormente
que quase me sinto lúcida
que quase me sinto com os pés quentes
é como som de penas
ao pé do ouvido e sinto saudade
de sorrir não tão somente,
acompanhada de teu vôo
componho poemas de amor
sexta-feira, 26 de julho de 2019
não temerei as interpretações
a imagem do gato fica a roçar a cabeça à noite, pego a coca no freezer e acho que vai explodir, bebo espuma e sinto que o mar entra com ressaca nesses versos, diria que sinto falta se não fosse presente esse estado de estar profunda
dialogo melhor comigo porque eu me sento e tiro um tempo para me ouvir, em maior parte dos casos eu fico calada e isso é linguagem que eu dialogo com os outros
e quando deito sinto que é porque esse estar profunda me dá náuseas
queira que explique que essa náusea é indiferente ao que se passa fora das pálpebras, me toma e eu sinto que dormir me alivia das turbulências da vida
queira que eu explique que a vida me dá cansaço de explicar já que a mim basta que fique em silêncio
boa noite
quinta-feira, 25 de julho de 2019
A grandiosidade de um poema de amor
é belo é sublime é amor
é amor é amor
eu grito é amor
eu sou
Amor
meu amor é tão amado
que ama o amor
com amor
Meu amor
é grandioso e amado
e se ama como se ama amar
por amor faz amante
e de amor eu te amo
terça-feira, 23 de julho de 2019
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sussurros ecoarão pelos buracos
o fogo de nós irá arder as camas
os nossos olhos espelho de um lugar lindo dentro da gente
é que quando as maçãs caírem, nós seremos o paraíso
as buzinas tocarão para que prossiga nosso baião, e os dedos serão confundidos com cordas
nós seremos tão felizes que será possível tocá-la como fruta madura exposta
será possível entrar em todos os cantos e a sintonia nosso convite
nosso baile; nossa luminosidade
irá acordar toda a cidade