são vazios
pela manhã
os abandonos,
não que a praça
esteja sem vida
mas as crianças
não querem mais correr,
correr para onde, pai?
aqui de baixo
onde o inferno
é mais perto
o atormento
dos helicopteros;
você também ouve
de perto
vindo de cima
dizer com
dedo apontado
pra cima é castigo,
"pai o que eu fiz
para acordar com barulho
de tiro?"
meu aluno me perguntou
se eu queria um filho
o silêncio apavorado
da cidade aperreada,
amordaçada,
silenciada
o barulho é de metal
pólvora e boca cheia de formiga,
se protestarmos a chance
é de levar paulada,
ou de sair da pista,
ou de sumir sem pistas
a demora do trânsito,
da ambulância
e do socorro,
mas o povo no choro
"me ajuda!"
criaram a culpa e
nos têm colocado a culpa,
nos fizeram assumir
a culpa,
e querem nos punir
nos querem culpar
por existir
mas o povo não deixa
de ter alegria,
ora pela segurança divina,
a tristeza esquece
e dá bom dia,
mais um dia,
mais um dia,
fecha os olhos
mais uma vez
o tiro vem de cima
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