domingo, 16 de novembro de 2014

Seus olhos são mais tristes do que essas pedras sem cor

Leandro,
Você faz sua arte e torce seus garfos para botar uma pedra, me torceria mais fácil pois eu sou uma artimanha. Venha com essas mãos sujas e me corroa, esfregue a poeira da cidade em minha pele alérgica ao caos urbano. Você é esse oceano poluído, essa água escassa dos rios, meu açude enlameado. Na barba leva estórias que conta com essa voz de sotaque mestiço forjado, sei que seu sangue carioca carece de gingado. Acende esse baseado bem longe porque eu não quero compromissos, te queimo como esse isqueiro vermelho que pedi emprestado. Você quer um pouco do meu cigarro?
Volta e meia eu volto e aceito o convite ao cinema, roubo a cena e te roubo dessa vida sem rumo. Meu cárcere será amar homem tão livre quanto o mar.
Esses seus olhos ainda vão te levar ao inferno, rapaz-sem-endereço.
E lá encontrará abrigo.
Você pertence à liberdade e eu gostei de pertencer ao seu ínfimo desejo mesmo sem nos tocarmos. Sou sua menina das roupas pretas e estamos entre os vivos, levo essa pena de passarinho do Amazonas como brinco na orelha esquerda, mas pena maior é você não poder me levar contigo nessa fuga eterna em busca da paz de espírito.

Dedicado ao hippie, que esbarrei pelas ruas, possuidor de olhos sinistramente tristes

5 comentários:

  1. Aplaudindo de pé. Que maravilha de texto inserido ao contexto do desabafo, da emoção, da franqueza afiada. do corte preciso, do reluzir de sentimento mais que presente. Lindo, lindo, lindo.
    Cadinho RoiCo

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  2. Acho muito lindo esse olhar sensível que tens de enxergar poesia em coisas/pessoas que por vezes passam despercebidos aos olhos de outros.

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  3. Um texto FABULOSO.
    Parabéns pelo enorme talento para a escrita e que, de resto, as tuas palavras bem revelam.
    Tem uma boa semana, querida amiga Gyzelle.
    Beijo.

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  4. Incrível!! Você sente a poesia em tudo e isso é lindo!!

    Beijoo'os

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