quarta-feira, 26 de novembro de 2014

botafogo

deixei um guardanapo marcado de batom na mesa do barzinho,
espero voltar lá num dia ensolarado
e ver algum garçom lembrar da moça dos lábios pintados
lembrar da minha solidão acenando ao rapaz que almoçava ao lado,
do peso nos ombros de martírios antigos, 
dos olhos ligeiramente borrados por alguma tristeza atraente
certamente ele virá com a piedade exposta na bandeja e desejará comprar o meu penar 
por um preço sem juros
espero ainda que algum transeunte 
me espie pela porta de vidro 
e me pague um café 
com açúcar mascavo só para tirar o amargo 
de meus lábios
espero que o balconista ao me ver pagando a conta
me dê um desconto por saber que pago caro por saudades que me matam de fome
e me degolam, esfolam, flagelam
eu não tinha esse rosto tão sem identidade, essa pele incolor, 
tantos sonhos deixados em guardanapos sujos
eu espero...
espero.

6 comentários:

  1. a tua poesia é tão atraente, que se fosse eu, te pagava um café só pra te ler e ver se é como nos teus versos!

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  2. "espero que o balconista ao me ver pagando a conta
    me dê um desconto por saber que pago caro por saudades que me matam de fome
    e me degolam, esfolam, flagelam"

    Belo como sempre :}

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  3. Eu gosto de quando tu passas pelo mundo, e tem uma ideia sentida do ser.
    Saudações.

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  4. isso foi uma metralhadora semiautomática carregada com idiossincrasias compartilhadas, G. mas ainda não sei se atirei ou se fui atingido.

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  5. Esperar que não haja tanta indiferença...
    Beijo.

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