quarta-feira, 25 de junho de 2014

Se eu for seu sol você deixa que te acompanhe?

Vejo você extorquindo do sol cansado um pouco de vitalidade enquanto se escora na janela sem maneiras exatas, implícita e submissa, traga o chocolate quente aos golinhos para fazer daquele ato poesia.

Te fotografo com a lente dos meus óculos de grau, desejo te enquadrar na minha vida, mas você não é de ninguém. Você é do mundo, mas o mundo te engole rápido demais e não consigo acompanhar seus goles.

Seus passos rasgados até o próximo quarteirão levantam os rapazes do bairro. Seus passos me afastam para o submundo da saudade. É, aquela velha saudade que me apresentou quando não me atendeu por mais de um mês. Trinta e dois dias e sete horas.

Você me acorda e toda hora eu estarei pronto para te ver partir sem ressentimento nas malas. "Por pouco quase não sou minha" me dizia em pleno gozo para descer mais leve em mim. Não descia. Todas as vezes que me encolhi em seus braços feito padre ao rezar missa foi por saber que meu pecado é te desejar além do desejo.

Acho que isso se chama amor, mas nós chamamos de desejo permanente. Não quero admitir assim tão francamente, mas quando você vai embora eu choro mais do que chorei quando nasci. Vejo você indo e lamento não ser o sol que queima esse seus cabelos lambidos por tinta preta.

Eu sou a Lua, ascendente em Câncer. Você queimou a ponta da minha paz, mulher. Acho que me transformei em um tremendo sentimental besta, culpa dessa miopia que à primeira vista me fez amar alguém capaz de só amar a si mesma.

5 comentários:

  1. bonito e tocante, carregado de afeto, gostei.

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  2. E só de pensar que nossas fantasias nascem desse desajuste temporal... estamos sempre chegando, cedo demais ou tarde demais... mas um texto sempre recompensa a falta de sincronia com palavras de agonia.

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  3. Devoro o amar-te de todas as coisas, em ti mesma.

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  4. Teus contos são os que mais gosto, de verdade.

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