quinta-feira, 12 de junho de 2014

Quase escrevi algo que preste

Dia dos namorados e mais uma vez eu acordo quase às cinco com o estômago chorando e os olhos tão desacostumados ao sol que entra distraído pela janela trancada. Tranco as portas, a alma, as feridas porque não posso ser tocada assim tão fundo. Toque a minha superfície tão rebelde, minúscula, dolorida e faça uma valsa dos meus medos, daquelas que fazem chorar os brutos bêbados.
A realidade é que eu vivo à base de "quase". Quase amo, quase machuco, quase me dou, quase permaneço. No final você faz o pedido e a entrega não chega. Ou chega atrasada e você já desistiu de comprar.
Eu fui vendida por um preço tão barato.
Hoje é o dia dos namorados e eu acordei com a vontade de escrever sobre estar sozinha em datas especiais, que bobagem. Outra verdade é que finjo não me importar com essa solidão que tanto me enterro, mas no fim do dia o velório me faz doer devagarinho como se a tempestade entrasse pela raiz da alma. Queria correr pro boteco mais próximo e tomar uns porres de alucinação, mas vou levantar, sentir o peito foder com minha cara, com a ferida descalça vou mijar em cima de mijos esquecidos e obedecerei a minha fome. Tenho fome de viver, mas a realidade é que sou feita de quases. Eu quase sou feliz. Quase fujo daqui, mas hoje não, hoje eu permaneço.

4 comentários:

  1. Boa tarde poetisa.. esses quases me perseguem a anos.. dias que muitos se entoerpecem de flores e chocolates e nós de versos e lágrimas vazias.. e estas sequer rolam .. acho que fazem anos que não vejo um rolar.. tua escrita é sempre muito realista.. vc não mede as palavras.. sei como é pois tb tenho poemas onde sento a lenha.. muito bom ver vc usando com firmeza palavras que são fortes mas que uma hora a gente fica de saco cheio e tem que soltar elas mesmo.. sempre muito bom te ler.. até sempre Gyzelle

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  2. Obrigada, Samuel. Acredito que um pouco de realidade é bom, preciso para crer que ainda sinto, volte sempre.

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