Lamentar o inferno dos teus ombros
Seria revelar-me devota
Ou culpada por esse desejo infinito?
A primavera açoitou o divino
Que dizíamos ser nosso
A tempestade de tuas pestanas
É infalível no mundo
Questiono-me se teus olhos zangados
Já não decoraram as cores da terra
E temo nossa despedida
Como a prisão teme uma criança
Devo insistir a perguntar quanto à certeza da tragédia
Ter se tornado o enredo desse nosso drama?
Não sou a Julieta de Shakespeare
Mas morro pela morte do amor de quem não ama
Bom dia Gyzelle.. neste teatro chamado vida.. nem sempre vamos assistir só comédias.. as tragédias se fazem sempre presentes como o amor que bate a porta mas nunca quer entrar para ficar.. abraços poetisa
ResponderExcluirHá algo único no amor como um rito, geralmente nesses compêndios e tomos antropológicos, no estudo comparativo de sociedades arcaicas ou modernas, lá está, fadado, os ritos de passagem, suas celebrações e sepulcros - mas o amor nunca passa, não sabe passar e, obsessivo, não quer saber que passe... essa insistência, a sua, a minha a do fulano que virá depois, até mesmo aquele, crítico e impassível que pensa ter adormecido; as paixões nos quebram o discurso que ontem parecia intacto e nem me parece uma mero repetir de nossas idéias e ventas, mas o próprio corpo adaptado, suando, em tremo, exalando aromas e salivas, desesperados e ansiosos para que nossos corpos se esbarrem em qualquer forma de contato para validar e, talvez, aprender a passar. O amor perturba
ResponderExcluiro espaço e o tempo, confunde o sábio em seu exílio, esse conforto que é olhar tudo isto e aparentar solidão, que na verdade é o mundo inteiro.
"Lamentar o inferno dos seus ombros / Seria revelar-me devota?" gosto da palava devoção porque não precisamos enunciar qualquer religião ou mito e nos leva, necessariamente a uma cumplicidade, uma dor e uma culpa que é feita de espera - esse outro enigmático que desdenha de nós em nossos espelhos...
um abraço
Carlos Drummond de Andrade - O Padre, A Moça [excerto]
O padre furtou a moça, fugiu...
e a moça vai dentro dele, é reza de padre.
[...]
ai que não ousamos
contra vossos mistérios
debater
ai que de todo não sentimos
contra vosso pecado
o fecundo terror da religião.
[...]
o padre sabe
o que não sabemos nunca, o padre esgota
o amor humano.
[...]
Há um solene torpor no tempo morto,
e, para além do pecado,
uma zona em que o ato é duramente
ato.
[...]
Por que Deus se diverte castigando?
Por que degrada o amor sem destruí-lo?
[...]
a mão descobre
o dormir de moça misturado
ao dormir de padre.
E já sem rumo prosseguem
na descrença de pousar,
clandestinos de navio
que deitou âncora no ar
[...]
O amor se vinga, consome-os
[...]
E de tanto fugir já fogem não dos outros
mas de sua mesma fuga a distraí-los.
Para mais longe, aonde não chegue
a ambição de chegar:
área vazia
no espaço vazio.
Temos este azar de amar ou nos apaixonar por quem não está disposto pelo mesmo. Contudo, temos sorte por tudo ser passageiro, então vem o azul e nos tira dessa escuridão. E quando o azul se desbotar, virão outros tons de cores. milhares. bilhões e bilhões.
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